Nascido em Avaré, interior de São Paulo, o estilista Eduardo Pombal, 47 anos, é hoje um dos nomes mais interessantes da moda brasileira. À frente da Tufi Duek, uma das marcas do Grupo AMC Têxtil, de Itajaí, ele acabou de desfilar na São Paulo Fashion Week. Nesta semana, passou pelo Donna Fashion Iguatemi para falar sobre os bastidores de sua profissão e apresentar a coleção do verão 2014, inspirada no momento cubista de Pablo Picasso. Nesta entrevista, Pombal comenta a relação com a crítica de moda, o sexy made in brazil, a consumidora da marca e as interferências empresariais na criação, entre outros temas.
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Recentemente, você apresentou a coleção verão 2014 da Tufi Duek na São Paulo Fashion Week e os críticos de moda foram só elogios. Como é a sua relação com a avaliação do trabalho?
Eu sempre leio, me preocupo com o que eles escrevem, quero saber o que chamou a atenção dos jornalistas. São essas opiniões que chegam até os leitores por meio de um site, de uma revista, um jornal. É o primeiro ponto entre a marca e o consumidor. É o que faz com que ele vá até a loja.
Incomoda quando a crítica é negativa?
São opiniões distintas, temos que observá-las, ouvi- las, mas são outros pontos de vista. O Celso Kamura (cabeleireiro), por exemplo, me falou logo depois deste último desfile que não gostou do cabelo das modelos. É um ponto de vista mas, ao mesmo tempo, tudo o que vai para a passarela é pensado. Esta trança que elas usaram funcionou para mostrar as costas. Por isso, não optamos pelo cabelo solto. Tudo é muito estudado.
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O aposto de sexy made in brazil é sempre usado para falar da marca. Essa é uma preocupação constante da equipe de criação?
É um DNA muito forte da marca. Quando o Tufi Duek ( empresário) criou a marca, ela já nasceu com isso, voltada para uma mulher bonita e sensual. Posso ter até feito algumas coleções mais fechadas, mas sempre buscamos um caminho sensual. Isso é muito forte.
Quando foi criada, a Tufi Duek foi uma aposta voltada para o mercado estrangeiro, mas atualmente é vendida somente no Brasil. O que ocorreu com a internacionalização?
Ela foi feita para exportação, tanto que foi aberto um showroom em Nova York. Chegamos a vender em diversas lojas reconhecidas, inclusive na Europa e na Ásia. Tudo funcionava, mas o volume de vendas não era tão expressivo. Até porque é uma batalha difícil. Quando o Alexandre Menegotti ( empresário proprietário do Grupo AMC Têxtil) assumiu o comando, ele preferiu encerrar para trabalhar melhor a transição das marcas de São Paulo para o Sul. É bastante competitivo, até porque todo mundo quer vender no mercado americano.
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Para o verão 2014, você se inspirou nas obras de Pablo Picasso. Como ele chegou até você?
Estava em Paris escolhendo alguns tecidos e depois fui até Milão. Aproveitei para conferir o último fim de semana de uma exposição com obras do Picasso. Fui me interessando, observando mais profundamente e buscando informações sobre cada período do trabalho dele, com destaque para a fase cubista.
Qual é o grau de interferência da empresa na criação?
Para o desfile, eles me dão liberdade total. Na primeira vez, chamei o Alexandre para saber o que achou e ele foi categórico: “Edu, você tem um cargo aqui dentro, não quero ver nada, quero a surpresa assim como tudo mundo.” Eu sempre faço reuniões com a área comercial logo depois de um desfile, para saber se gostaram, se conseguimos nos comunicar com a cliente da marca. E também vou às lojas, converso com elas, descubro a profissão, mais informações. Mas fica claro quando a pessoa gostou ou não do desfile. Não dá pra disfarçar.
Na onda do desenvolvimento econômico brasileiro, muitas marcas de luxo desembarcaram por aqui nos últimos anos. De que maneira esta concorrência afeta as marcas nacionais?
Todo mundo é meu concorrente. A partir do momento que está com as portas abertas, já estamos concorrendo. Quando uma pessoa entra em um shopping disposta a gastar, todas as lojas estão disputando esse cliente. Para nós, que somos da moda, é bacana termos estas lojas no Brasil. Mas vejo que a euforia também está passando, algumas lojas já estão fechando. Não deveria falar isso, mas não vejo a roupa da Prada para a mulher brasileira. Assim como a Lanvin.
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Como você vê a ascensão da classe C e seu poder de consumo?
São Paulo é muito particular, tem uma classe com muito poder de compra. Claro que eu desejo que esta nova consumidora deseje a minha roupa. Até porque estamos à venda em diferentes tipos de shoppings. E não temos só vestidos de R$ 5 mil, temos de R$ 500 e R$ 700 também. Quero que ela entenda o valor de um bom acabamento, um melhor corte e a construção de um lifestyle.
Em que estágio encontra- se a loja online da TF?
Estamos com uma loja dentro do site (www.tufiduek.com.br), mas este universo ainda é um pouco confuso para nós. Aliás, é para todo mundo. Como o Brasil é muito grande, fica complicado até para o consumidor. Não temos uma tabela universal de medidas. E a mulher do Norte tem um corpo diferente da mulher do Sul. A moda ainda precisa alinhar isso.
De que maneira atua um designer executivo, seu cargo no AMC Têxtil?
O Tufi criou a Triton e a Forum com um irmão, foram fazendo, cresceram e enriqueceram. Sou de uma época em que não existiam faculdades de moda no Brasil. Fui para a Itália fazer um curso e trouxe um pouco desta experiência. As faculdades direcionam a formação. Neste cargo, também como estilista, busco, além da criação, o produto que o mercado pede. Quem manda é o varejo.
Há uma reclamação muito grande dos impostos do setor. Como você vê a posição do governo em relação à moda?
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Acho que falta muita coisa para acertar isso. Não dá para falar que moda é só cultura. Ela vai além, emprega muita gente, tem um lado industrial muito forte. Já falei para o Alexandre que os empresários devem ir até Brasília para cobrar. Afinal, são eles que pagam os impostos. É preciso uma contrapartida para um setor como esse, subsídios para exportação, por exemplo.
O início de sua carreira foi como desenhista para o Mauricio de Sousa, é isso? Em que momento a moda surge na sua vida?
Sim, eu fiz artes plásticas no interior de São Paulo, vim para a capital e trabalhei como arte- finalista no estúdio do Mauricio por mais ou menos um ano. A moda surgiu depois de um convite de uma lojista para que eu fizesse as vitrinas. Como não sabia, falei sobre um curso de moda na Faap e, como não tinha dinheiro, ela bancou em troca do meu trabalho.
É verdade que você ligou para o Tufi Duek pedindo emprego?
Sim, falei que queria trabalhar com ele. Ele me perguntou se eu queria usar a marca como trampolim para ter a minha. Falei que não, que só iria embora se ele me mandasse. Na verdade, ele foi embora e eu fiquei (risos).
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