O ritmo da vacinação em Santa Catarina tem despertado preocupação de diferentes lados. As cobranças por uma melhora nos índices motivaram cobranças de deputados e do próprio Estado aos municípios, os responsáveis pela vacinação. Em entrevista exclusiva ao Diário Catarinense, o secretário estadual de Saúde, André Motta Ribeiro, admite problemas pontuais e credita parte deles ao calendário eleitoral com mudanças de gestores municipais em meio à pandemia.

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Além disso, fala sobre a perspectiva de recebimento de mais remessas de vacinas nas próximas semanas e admite uma cobrança junto ao Ministério da Saúde por mais doses a Santa Catarina. Para finalizar, Motta Ribeiro comenta sobre a grave situação do Oeste catarinense, com lotação de leitos de UTI.

Confira mais detalhes a seguir: 

Os deputados cobraram mais agilidade na vacinação em SC. Nós realmente estamos lentos? Qual é a sua avaliação?

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Nós estamos vacinando um número bastante interessante. É muito difícil a gente avaliar se é lentidão apenas ou se é uma dificuldade de registro de dados, que é um problema que estamos tendo. Então, estamos orientando os municípios para que usem o sistema nacional que tem realmente uma lentidão porque todo o Brasil está usando, e nós estamos fazendo um controle da Secretaria de Estado da Saúde.

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Começamos na semana passada um controle, fazendo terças e sextas-feiras, agora pedi que seja nas segundas, quartas e sextas. A gente está automatizando isso. Tem, então, um pouco de delay de registro dos dados, mas tem sim um pouco de lentidão em alguns municípios. 

Na divisão das doses entre os estados, ficamos mesmo proporcionalmente com menos doses que os demais, a gente foi preterido?

Não. Nada muito gritante, nada intencional. Houve uma pequena diferença. Conseguimos identificar 10 mil a 12 mil doses de diferença. Em Santa Catarina, como estruturamos 56 hospitais com UTI, nós contratamos muita gente. O Estado, os municípios e hospitais filantrópicos contrataram. E esse quantitativo maior de profissionais da saúde não foi computado pelo Ministério (da Saúde). Eles computaram um número antigo. Também houve uma pequena diferença no número de idosos, algo em torno de 2 mil no Estado inteiro.

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Então houve pequena diferença, não foi nada absurdo, que eu fiz questão de mostrar em Brasília. Já tem a promessa de que essa diferença será recomposta na próxima remessa. Mas é que as populações que estão sendo privilegiadas agora temos mesmo um quantitativo menor do que outros estados. Um exemplo claro é população indígena. Temos muito menos que outros estados. E também as pessoas em asilos, que eram prioridade, temos menos que outros estados.

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A Secretaria de Vigilância do ministério se comprometeu em refazer o cálculo, aceitou a nossa conversa, e isso será recomposto. Mas não é um grande impacto de grande diferença.

Qual foi o modelo de divisão das doses? Pela proporção dos grupos e Manaus por conta da situação da doença recebeu uma parte maior?

Manaus foi pactuado pelo Brasil inteiro que eles receberiam 5% da cota, sem ser proporcional. Depois os outros foram divididos conforme cada município e Estado informou o seu quantitativo. Quem informa o quantitativo de pessoas naquele grupo específico é o município.

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Na ida a Brasília deu para conseguir um calendário de vacinação para SC ou ainda não dá por falta de dose?

Os calendários propostos pelos fornecedores, principalmente Butantan e Fiocruz, não estão sendo cumpridos. Isso desde o começo. Tínhamos previsão de receber doses em novembro ou dezembro. Isso não foi cumprido porque a própria Oxford/Astrazenenca, que é a maior fornecedora de vacinas do mundo, não tem como atender todos.

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Mas a gente conseguiu entender que há uma garantia a partir da próxima segunda-feira (dia 15) de uma entrega diária de doses de vacinas, primeiro pelo Butantan e logo depois pela Astrazeneca. A ideia do ministério é receber essas doses diárias, foi verbalizado que é um pouco menos de 1 milhão, e depois de consolidado isso será enviado para os estados.

Provavelmente teremos uma remessa por semana a partir da semana que vem. Depois, no final de fevereiro e começo de março, a Fiocruz começa a produzir a Astrazeneca e vai se somar ao quantitativo diário. Temos uma promessa, que é o que imaginávamos, de vacinar 35% a 40% da população do Brasil. O que é mais ou menos que está colocado nas primeiras quatro fases dos planos nacional e estadual (em SC são 2,8 milhões de pessoas nas primeiras quatro fases). 

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Então hoje não podemos dizer quando começamos os próximos grupos no Estado depois de finalizada a vacinação das pessoas acima dos 90 anos?

Esperamos fazer esse movimento semanal. Como o ministério está me dizendo que semana que vem vai enviar mais um quantitativo, então semana que vem vamos iniciar a nova fase, de 85 anos a 89 anos. Cada vez que chegar um quantitativo vamos começando novas etapas até que toda a primeira fase seja cumprida. Infelizmente essa governança extrapola a vontade do Estado, e é assim no mundo inteiro.

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Estamos vacinando de forma muita segura. Tem alguns desvios e dificuldades, mas se olhar para os Estados Unidos que está vacinando com a Pfizer, aquilo é uma bagunça. Acredito muito nesse programa, essa é a melhor forma de fazer. Vamos ter sucesso a partir que as coisas comecem a engrenar mesmo.

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Motta Ribeiro indica cobrança ao Ministério da Saúde por mais doses a Santa Catarina (Foto: Julio Cavalheiro, Secom, Divulgação, BD)

Como vocês estão fiscalizando desvios e os “fura-fila”?

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Temos várias denúncias verbais. Nada foi oficializado até agora. Não tenho como fazer movimento algum, mas todo paciente vacinado é registrado no sistema nacional. O nome, onde foi vacinado, a dose que recebeu e quem vacinou.

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Então lá na frente, quando isso estiver mais tranquilo e claro, vai haver um olhar mais crítico sobre os dados. Aí vamos conseguir identificar algum desvio de conduta, ou alguém fora curva. Nesse momento estamos focados em acelerar e trazer segurança ao processo.

O que os secretários municipais apontam como maior dificuldade para a vacinação?

Tenho conversado com alguns. Para uma parte é falta de atendimento, de processo. Mas o pior problema é que nós enfrentamos no pior ano das nossas vidas um ano eleitoral. No dia 5 de fevereiro fiz videoconferência recepcionando os novos gestores municipais e 60% deles eram novos secretários.

É muito complicado dentro de uma pandemia organizar processos de trabalho e as pessoas que estão entrando terem entendimento imediato disso. Não culpabilizo, não tenho que apontar dedo para ninguém. Mas existe uma dificuldade de entendimento de processo.

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Então, de fato, alguns não estão estendendo horário, não fazem campanha de vacinação. Somos acostumados a fazer. Abre um posto comunitário e vacina 1 mil pessoas. É que o movimento agora é de entendimento por parte dos novos gestores. Muito ruim esse ano eleitoral e isso está influenciando, infelizmente. Aos poucos eles vão entendendo o processo e tenho certeza que isso vai acelerar.

Há uma estimativa de quantidade de vacinas que virão a SC nas próximas semanas?

Eles estão calculando, e tirei esse número do ministério, que deverá ser disponibilizado a partir da semana que vem algo em torno de 3 milhões a 4 milhões de doses para o Brasil. Isso vai nos trazer algo em torno de 50 mil a 60 mil doses semanalmente. Vamos trabalhar com esses números em fevereiro. Quando a Astrazeneca vier (em março), deve dobrar esse quantitativo semanal. Então a gente vai fortalecendo esse processo.

​Essa questão de Estado comprar, de Fecam, não existe. Porque não há fornecimento, não há garantia. É centralizado no governo federal. Esse é um jogo muito duro comercial entre os governos de países. Os EUA compraram toda produção da Pfizer, alguns países da Europa têm condições muito duras de aquisições e não querem disponibilizar para o restante do mercado. Não temos nem condição nem de entrar nesse jogo como estados e municípios.

Sobre a situação crítica do Oeste de SC, como está sendo o acompanhamento e a análise do Estado?

Temos várias frentes e necessidades. No ano passado, em outubro, sinalizamos para que os leitos não fossem desativados. O Estado garantiu o custeio. Mas 277 foram desativados de forma unilateral, inclusive no Extremo Oeste. Depois de toda intervenção a gente veio discutindo e pedindo para reativar. Agora temos ainda um déficit de 90 leitos no Estado. Depois que desativa, desmobiliza, chamar de volta para o jogo é muito difícil. As pessoas estão esgotadas.

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Um segundo ponto é que estamos ofertando custeio, recurso, insumos, equipamentos. Agora, RH é atribuição da unidade hospitalar. O que tenho conversado muito com os prefeitos do Oeste, e tenho contato direto com o pessoal de lá, é o seguinte: façam uma força-tarefa dos municípios do entorno e vamos fortalecer os hospitais com profissionais. Mas não é só isso.

Se a gente olhar para o Extremo Oeste, por que a região desde novembro continua com quase 100% de ocupação das UTIs? Alguma coisa lá está acontecendo muito errada. Por isso que é importante esse compartilhamento de gestão, porque é o município que sabe o que está acontecendo lá. Não sou eu, não posso, por exemplo, baixar uma regra geral para o Estado fechando os clubes aos finais de semana porque Chapecó está com 100%. Aí no Sul do Estado está com 30%.

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Algumas atitudes mais restritivas têm que ser tomadas, eles não podem fugir disso. Tem que fiscalizar o que foi regrado, é uma fala minha de muitos meses. As pessoas têm que entender que estamos no meio de uma pandemia. Oferta serviço, faz o acompanhamento, mas tem que fazer restrição pontual quando for necessário.

Vocês têm alguma ideia do que pode ter acontecido no Oeste de forma diferente em relação às demais regiões para o aumento de casos?

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Não vivo lá, a gente gostaria de ter esse olhar. Mas tenho conversado com diretores de hospitais e algumas pessoas representativas. E lá teve um descontrole. As pessoas estão descumprindo regras. Então tem clubes abertos aos finais de semana lotados de gente, piscinas cheias de gente nos clubes, boates funcionando, bailões funcionando… aí fica difícil. E a gente já regrou isso.

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Então quando acontece uma disseminação dessa do vírus, é o prefeito que tem que interferir. Não sou eu do Estado que vai olhar lá para um bailão que está acontecendo no interior do município próximo de Chapecó e dizer que não pode. A gente já disse que não pode, está regrado, agora precisamos da ajuda deles. O que aconteceu lá foi isso, houve um descontrole.

O prefeito falou que teria alguma ligação com as viagens para as praias, pessoal que teria levado o vírus…

Não… Se fosse verdade, então, o Sul do Estado, que tem praias maravilhosas, a Grande Florianópolis, estariam extremamente impactados, o que não é verdade. Temos que olhar para o movimento que acontece na região. Mas também entendo os prefeitos. Eles estão chegando agora, não participaram do sofrimento do ano passado. É uma questão de entendimento de processos, tenho dito a muito tempo. A responsabilidade de orientar é de todos nós. Não dá para apontar o dedo para o prefeito.

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É um entendimento de processo, estamos no meio de uma pandemia e a vacina não vai resolver nosso problema em 2021, pode esquecer. É isso que temos que ter de entendimento..

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