Recém-reeleito para mais dois anos à frente do Blumenau e Vale Europeu Convention & Visitors Bureau, o empresário Valmir Zanetti quer aumentar o número de associados da entidade de 116 para 300 até o fim de 2018. Uma das principais metas da gestão, a consolidação do Vale da Cerveja, um roteiro que inclui visitas às cervejarias e outras atrações turísticas da região, é o principal trunfo para a ampliação do quadro.

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:: Leia mais informações de Pedro Machado

Nesta entrevista, concedida no dia 13 deste mês, Zanetti fala dos desafios da entidade, de como o centro de convenções de Balneário Camboriú afetará Blumenau e da necessidade de se pensar e planejar o turismo no longo prazo. Confira:

Qual o balanço do primeiro mandato?

Positivo. Nessa primeira gestão tivemos um crescimento de 26% no número de associados, ao contrário de outras entidades que reclamam de queda. A evolução está muito em cima das expectativas que foram criadas com a nossa participação no Plano Municipal de Turismo (PMT), que é muito importante. Os mais de 20 eventos por ano que a gente trouxe e a participação bem forte na criação do Vale da Cerveja também ajudaram nesse crescimento.

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Hoje são quantos associados?

São 116 entre empresas e entidades envolvidas com o trade. Temos hotéis, cervejarias, restaurantes, bares, meios de transporte, agências de viagem, alguns guias. Basicamente todos trabalham de alguma forma na cadeia do turismo.

E quais as próximas metas?

Um dos objetivos é fechar 2018 com 300 sócios. Esse vai ser o nosso grande desafio. Temos também outras metas. Uma delas é a divulgação da cidade e da região para fora. Outra é a consolidação do Vale da Cerveja. Esses são dois pontos fundamentais. Para consolidar lá fora, você tem que criar uma rotina de eventos. E para isso acontecer, é preciso ter dinheiro, e dinheiro vem de novos associados. Não tem outro jeito.

De quanto a entidade precisa para promover essas atividades?

Hoje precisamos de cerca de R$ 13 mil por mês para manter o Convention. Isso é folha, contabilidade, telefone, energia, essas despesas operacionais. Nós imaginamos algo em torno de pelo menos R$ 300 mil ao ano para investir em promoção externa. O ideal seriam R$ 500 mil. Já no começo de 2017 vamos fazer algumas ações internas para que a cidade entenda um pouco mais o papel do Convention e conheça melhor o Vale da Cerveja enquanto produto turístico. Para a cidade ser boa para o turista, ela tem que ser boa para nós. Isso vai nos ajudar a fomentar a base de associados. E quando eu falo isso, não é só trazer pessoal para a entidade. Quem entrar precisa entender que é necessário atender a algumas premissas, como a qualificação do empreendimento. Se é um restaurante, por exemplo, tem de comercializar as cervejas artesanais da região. Isso é trabalho interno.

Havia uma discussão sobre mudar o nome da entidade e trabalhar de modo mais integrado a divulgação turística de todo o Vale. Como está isso?

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A gente deu um tempo. Uma das primeiras coisas que faremos logo na segunda quinzena de janeiro é visitar entidades que de alguma forma já integram o Vale da Cerveja e verificar qual o entendimento delas sobre a participação. Elegemos alguns contatos nessas cidades para que, tão logo assumam os novos prefeitos e secretários de turismo, a gente bata na porta deles e entenda como eles enxergam isso. Houve mudanças de lideranças políticas em praticamente todos os municípios da região. Não adianta nós querermos se eles não quiserem.

Qual o saldo do Vale da Cerveja até agora?

Os números ainda não são muito grandes, mas já percebemos que é mais fácil vender a região quando se leva algum material do projeto para divulgação em outras cidades. Para mim é muito pontual que esse é o nosso produto do futuro. Acredito que daqui há três ou cinco anos teremos todos os dias gente nos procurando para visitas. É algo que não tínhamos. Para você ter uma ideia, quando eu assumi o Convention não havia nenhum trabalho receptivo na cidade. As agências trabalhavam com o emissivo, ou seja, mandavam gente para fora, não o contrário, porque não tínhamos o que vender além da Oktoberfest, que já vinha comprada de fora. O Vale da Cerveja está oportunizando não só a visita às cervejarias, mas também a outras atrações da região. O rafting começa a ganhar mais visibilidade, a tirolesa também. Ninguém mais falava na Maria Fumaça e hoje a cada domingo que ela circula existe fila. O projeto estimula tudo isso e você tem outros atrativos para vender. Em Brusque, por exemplo, a Zehn Bier pode atrair compradores para a FIP. Em Pomerode, a Schornstein pode trazer mais pessoas para o zoológico. A cervejaria atrai o turista, que chega na cidade e explora o restante.

Há novidades para o projeto?

Estamos desenvolvendo uma linha de souvenirs com a marca Vale da Cerveja. Outra coisa que a gente vai trabalhar forte é para que as cervejarias, pelo menos as que quiserem, se desafiem a abrir sete dias por semana, a exemplo do que já acontece na Vila Germânica. Ter mais alguns pontos que atendessem todos os dias seria maravilhoso.

Florianópolis lançou recentemente o Caminho Cervejeiro, uma proposta bem semelhante à do Vale da Cerveja. Como você vê isso?

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Vejo com percepções diferentes. Nós temos todo um apelo da cerveja relacionado a questões culturais e de colonização, além dos eventos e do histórico das cervejarias. Não quer dizer que no futuro eles também não tenham. Mas eu vejo que aqui a cerveja tende a ser um indutor e lá eu acredito que seja um complemento. O que atrai lá é a praia, o litoral.

Nos últimos anos as opções de eventos de lazer cresceram em Blumenau, muitas delas puxadas pela cadeia cervejeira. Há algum foco agora na captação de eventos corporativos?

A gente precisa criar uma discussão mais amplificada desse processo. Dentro de dois anos vai estar pronto o centro de convenções de Balneário Camboriú. Será um espaço para grandes eventos, mas um grande centro também abriga pequenos eventos. Nós já optamos pelos pequenos eventos e deixamos de brigar pelos grandes. Então, em primeiro lugar, vamos precisar trabalhar para manter os que já existem. Em segundo, será necessário gerar um esforço maior das entidades para trazer ou criar novos. Precisaremos ser mais competitivos, e para isso precisamos estar melhor equipados, com pessoas qualificadas e preços melhores. Muitas vezes a gente quer que alguns eventos sejam como os de alta temporada, e não são. No Festival da Cerveja, por exemplo, é uma insanidade alguns preços que estão praticando na hotelaria. Os hotéis lotam, é verdade, mas precisamos olhar esse tipo de coisa para que ninguém diga lá na frente que a entidade que cuida do turismo não se preocupou. Se nós não cuidarmos, vamos matar uma galinha de ovos de ouro. A gestão do Ricardo (Stodieck) na Vila Germânica é fantástica, mas ele também vai precisar participar desse processo para nos ajudar e subsidiar alguns eventos novos que a gente vai ter que trazer para ser mais competitivo. Balneário vai entrar arrebentando quando tiver o centro de convenções e vai oferecer tudo para que os eventos aconteçam lá.

O nosso centro de convenções competirá com o de Balneário?

De certa forma vai, porque como eu disse antes ele é um grande centro, mas que também pode receber eventos pequenos, como é a nossa proposta. Mas eles têm o apelo da cidade, da praia, do melhor acesso…

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Como competir, então?

Nós temos uma marca consolidada, um apelo forte que é a cerveja, a gastronomia. Somos conhecidos por fazer bem feito, pela organização, pela disciplina e pelo trabalho. Isso vai continuar e Balneário com o centro de convenções não vai nos tirar. Só que vamos ter de ser competitivos na hora de entregar, e entregar mais barato, porque eles têm praia e uma noite mais agitada. Precisaremos de outros pontos. Em pouco tempo a Vila Germânica não vai mais conseguir comportar sozinha o atendimento ao turista. Qual é o outro ponto turístico que estamos criando? Falando em captação de eventos, vamos focar em segmentos onde somos fortes, como esporte, educação e saúde. Já estamos preparando pessoas dentro das universidades, que têm nos ajudado a captar eventos.

Qual o principal obstáculo para o desenvolvimento do turismo na cidade?

Tenho certeza que muita gente não gosta de ouvir isso, mas a grande barreira a ser superada é a cabeça do próprio empresário. Enquanto não começarmos a pensar um pouco mais no médio e longo prazos, vamos sempre só enxergar problemas. O turismo em si é um projeto que demora, porque você tem que formar a opinião e gerar uma curiosidade, uma expectativa para que as pessoas venham te conhecer. Não é como abrir uma pizzaria no seu bairro, que em pouco tempo já está consolidada. O turismo tem que atingir o mundo, e não se atinge o mundo da noite para o dia. Às vezes nós queremos o resultado muito rápido. Quando ele não chega o empresário se prostitui, mexe no preço, faz qualquer negócio, joga o planejamento no lixo e começa a fazer o que todo mundo já faz. Com isso você deixa de ter uma experiência, algo novo. Precisamos de um debate mais amplo sobre isso dentro das entidades empresariais e inclusive na Secretaria de Desenvolvimento.

A visão ainda não é tão profissionalizada como deveria?

Com certeza. Precisamos evoluir mais. Tem que planejar e fazer.

Você já demonstrou um certo incômodo por não ter aparecido outro candidato para a presidência da entidade (Zanetti concorreu em chapa única). Sente-se sozinho nesse barco?

Tem uma certa frustração? Tem. Ainda temos um pouco de soberba de achar que a hora que a gente quiser fazer turismo, vai fazer e tudo vai dar certo. Não é assim. Temos sim muito crédito e respeito, uma marca monstruosa, mas tem muita gente fazendo coisas simples e bem feitas por aí. O que Pomerode vem fazendo, com a simplicidade deles, é de tirar o chapéu e estender o tapete. E são as empresas que estão fazendo, não o poder público. O pessoal do cicloturismo, a mesma coisa. Agora a gente tem um grupo que está pensando um pouco mais. Eu fiquei feliz de ter conseguido colocar nas últimas semanas várias entidades na mesa para discutir o turismo de um jeito diferente em 2017 e 2018. Vou liderar o Convention por mais dois anos, mas eu quero ter o apoio de todos.

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