O combate à pobreza menstrual nas escolas estaduais de Santa Catarina teve um resultado animador, comemora a Secretaria da Educação. Desde que o governo passou a distribuir absorventes às estudantes de baixa renda, há quase um ano, a ausência desse público na sala de aula ficou menos comum.
Continua depois da publicidade
Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp
Conforme levantamento feito pelo órgão, as meninas atendidas pelo projeto “Segue o Fluxo” deixaram de faltar de três a cinco vezes por mês, chegando a cerca de 45 dias por ano letivo — um importante impacto no rendimento escolar, analisa a secretária adjunta da Educação, Patrícia Lueders.
O projeto “Segue o fluxo: Absorva esta ideia” consiste na distribuição do item de higiene para alunas de famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) do Governo Federal. Além disso, a proposta é também fazer palestras de conscientização sobre o assunto.
— O objetivo é não deixar que a estudante fique sem absorvente e falte à escola — resume Patrícia.
Continua depois da publicidade
São 58,4 mil catarinenses com mais de 10 anos aptas a receber, mensalmente, dois pacotes de absorvente nas 1054 escolas de todas as regiões do Estado. Uma das unidades é o Cedup, em Blumenau. A diretora Valquíria Maria Luiz conta que há três anos, antes mesmo do projeto ser implantado, a demanda já era observada pelos educadores.
— Aconteceu algumas vezes das meninas revelarem que não tinham absorventes em casa. As próprias alunas criaram o “Menstruação Solidária”, com pontos de doação e coleta dentro da escola — lembra a diretora.
“Necessidade que ninguém vê”
Sem condições financeiras de comprar absorvente, é comum as meninas usarem pedaços de pano, algodão e até papel higiênico, cita Márgara Hadlich. Também há pouco mais de três anos, Márgara passou a reparar no quanto fazia falta ter absorventes para entrega. Ela é dona do projeto Ajudando Blumenau, que faz doações a mais de 6 mil famílias carentes na cidade.
— É uma necessidade grande e as pessoas não tem o olhar. Às vezes as mulheres chegam aqui com as calças sujas. Eu chego a oferecer um banho e roupas limpas — revela.
Continua depois da publicidade
Para combater a chamada pobreza menstrual, que é justamente essa falta de itens básicos de higiene durante o ciclo menstrual por conta da situação financeira, foi aprovada em 2021 a lei federal que garante a distribuição gratuita dos absorventes. A questão, porém, nunca saiu de fato do papel.
O exemplo que vem de Florianópolis no combate à pobreza menstrual
Na semana passada, com o Dia da Mulher, o governo Lula anunciou que vai assegurar a oferta de absorventes pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com foco na população que está abaixo da linha da pobreza, através do Programa de Proteção e Promoção da Dignidade Menstrual.
De acordo com a União, cerca de 8 milhões de pessoas serão beneficiadas pela iniciativa que prevê investimento de R$ 418 milhões por ano. A nova política segue os critérios do Programa Bolsa Família, incluindo estudantes de baixa renda matriculadas em escolas públicas, pessoas em situação de rua ou de vulnerabilidade social extrema.
Pobreza menstrual nas escolas de SC
Em Santa Catarina, o governo estadual sancionou a lei também em 2021, no final daquele ano. Assim, em abril de 2022, começou a distribuição nas escolas. Patrícia explica que não foi feito um estudo aprofundado para evidenciar o porquê das faltas terem diminuído, mas que elas coincidem com o tempo do projeto.
Continua depois da publicidade
Ou seja, em 2021, quando não havia o “Segue o Fluxo”, as meninas do CadÚnico iam menos à escola em determinado período do mês.
A entrega é feita de forma discreta, comenta a diretora Valquíria. As jovens são avisadas do dia e do setor que devem ir para pegar os pacotes. Um dos trabalhos do projeto é trabalhar a vergonha que as meninas sentem com a situação.
— O adolescente tem essa característica de não se expor por vergonha, ainda mais com algo tão íntimo. Mas elas são cidadãs e têm esse direito — avalia a secretária.
Os números nas maiores regiões
- Na Grande Florianópolis, mais de 8 mil estudantes recebem absorventes, conforme dados da Secretaria de Estado da Educação;
- Em Joinville e região, 4,4 mil;
- Em Blumenau e municípios vizinhos, 2,4 mil.
Continua depois da publicidade
Leia mais
SC teve cinco casos de violência psicológica por dia em 2022