Todos têm o direito de se comunicar. Partindo desse princípio, a Educomunicação busca utilizar o ambiente escolar para romper as barreiras que separam emissores e receptores. Para tanto, capacita professores para trabalhar com recursos e processos tecnológicos em sala de aula, proporcionando aos alunos o domínio das linguagens e meios comunicativos. Tais recursos podem ser usados tanto no aprendizado de conteúdos formais, como português e matemática, quanto na realização de ações para a melhoria da própria escola e da comunidade ao seu redor, como campanhas de rádio que trazem orientações sobre saúde.

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Em entrevista ao NET Educação, o professor Ismar de Oliveira Soares, coordenador do curso de licenciatura em Educomunicação da ECA/USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) explica esse conceito e fala como ele pode contribuir para a formação dos jovens. Bacharel em Geografia, licenciado em História e formado em Jornalismo, Ismar também é doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo, com pós-doutorado pela Marquette University Milwaukee, nos Estados Unidos.

O que é a Educomunicação?

Educomunicação é um neologismo que aponta para uma ação que já vinha sendo desenvolvida nos últimos 50 anos, mas que não contava com essa designação. É uma interface entre comunicação e educação, que pode se dar na escola através do uso de recursos e processos tecnológicos.

Ela tem uma atuação diferente da mera comunicação, que é mais funcionalista e divide as pessoas entre emissores e receptores. Na educomunicação, entendemos o processo comunicativo como um direito humano, que está ainda mais acessível a todos por contar com um suporte barato hoje em dia. A grande dificuldade é como levar esse conteúdo à escola.

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De que forma a comunicação pode contribuir com a educação? E o contrário, como a educação pode contribuir com a comunicação?

A relação entre comunicação e educação se dá pelo reconhecimento de um espaço comum entre elas. Podemos dizer que a comunicação oferece recursos e processos para a educação, que aqueles que possuem uma boa formação acabam produzindo um conteúdo mais voltado para o interesse da sociedade. A educomunicação sistematiza os conhecimentos buscando uma educação para a mídia e a recepção crítica das informações.

De que maneira a Educomunicação pode contribuir para a formação dos jovens?

O direito à comunicação é universal, e a Educomunicação proporciona o manejo e a reflexão sobre os meios e sua produção. Ela tem por objetivo empoderar as crianças a se desenvolverem não apenas na linguagem escrita, mas também na visual, na digital, e discutir todos esses usos com elas. Como resultado observa-se uma melhora no aprendizado e envolvimento dos alunos inclusive em relação aos conteúdos formais.

Como esse conceito pode ser trabalhado no dia a dia da sala de aula?

A Educomunicação se faz presente na escola em três níveis distintos. O primeiro é o lúdico, no qual a criança começa a dominar os equipamentos por meio de oficinas. Essa fase é encarada por elas mais como uma brincadeira, distração, mas tem um grande fator motivador. Depois vem a fase pedagógica, quando passam a dominar as linguagens, que podem ser usadas para a transmissão de conteúdos formais, auxiliando no ensino de geografia, matemática etc.

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E um terceiro momento é quando a educomunicação começa a propor ações concretas para a melhoria da escola. Ela aumenta o protagonismo de professores e alunos com ações voltadas nas áreas de saúde e cidadania, por exemplo, envolvendo também a comunidade ao redor.

Já existem experiências práticas com educomunicação no país?

O nosso grande desafio é como levar a educomunicação para o currículo escolar, pois o professor não espera receber mais encargos do que ele já tem atualmente. Existe um projeto de formação de professores em parceria com a prefeitura de São Paulo desde 2001, e com isso os docentes recebem um ganho salarial e contam com o reforço de aprendizagem dado a especialistas em educomunicação.

Em Mato Grosso também existe uma parceria com a secretaria de educação, e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ministério da Educação (MEC) estão promovendo atividades sobre sustentabilidade com cerca de 25 mil jovens de todo o país. A educomunicação se faz presente ainda em muitos colégios particulares, onde os alunos produzem jornais e vídeos.

Quais os principais resultados dessas experiências?

O que temos observado de mais importante nos últimos tempos é a legitimação do conceito da Educomunicação. Já existem três cursos de graduação nessa área, na USP, na Federal de Campina Grande e na Estadual de Santa Catarina. Além disso, uma série de leis municipais está favorecendo a prática dela em várias localidades. Já em relação à educação, o maior ganho diz respeito à autonomia no manejo das tecnologias e à inserção de temas como educação ambiental.

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Quais os principais desafios para que a Educomunicação ganhe maior espaço nas escolas do Brasil?

O nosso maior desafio hoje é garantir a formação de professores e alunos de maneira continuada. O MEC dá um curso à distância para 100 mil pessoas chamado “Mídia na Educação”. Mas ainda falta uma discussão mais séria entre educadores e comunicadores sobre temas e objetivos comuns. A TV, por exemplo, exibe muitos conteúdos que não respeitam a criança, e os educadores não estão muito preocupados com isso. Por outro lado, o Ministério da Justiça se mostra bastante envolvido com o consumo infantil. Então ainda falta uma maior organização desse conceito para além da universidade.

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