Houve o tempo em que todo o lixo produzido em casa ia para dentro do mesmo saco. Hoje, essa prática está cada vez mais em desuso. Ainda assim, muitas pessoas insistem em não contribuir com a natureza, colocando no mesmo recipiente resíduos sólidos e recicláveis. Joinville não foge à regra. Conforme a Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra), órgão responsável pela coleta seletiva na cidade, o índice de reciclagem ainda é muito baixo.
Continua depois da publicidade
Leia as últimas notícias sobre Joinville e região no AN.com.br
Pedro Ivo Barnack, gerente da unidade de limpeza urbana da Seinfra, explica que de todo o lixo domiciliar produzido em Joinville, cerca de 35% poderiam ser reciclados, mas, na prática, apenas entre 5% e 8% são separados e recolhidos pela empresa Ambiental.
– Infelizmente, as pessoas não têm o hábito de separar o lixo para reciclar. É uma questão de cultura e queremos mudar essa situação – diz Barnack.
Continua depois da publicidade
Atualmente, o lixo reciclado de Joinville é levado para cooperativas credenciadas – duas no bairro Aventureiro, uma no João Costa e outra no Cubatão -, e postos avançados de coleta seletiva – um no Aventureiro e outro no Distrito de Pirabeiraba.
Nestes locais, cerca de 1,2 mil recicladores selecionam os materiais levados pela Ambiental e os revendem para intermediários, pessoas que negociam o lixo diretamente com a indústria. Em geral, separam-se papelão, latas de alumínio e garrafas plásticas (pets). O material de rejeito, que não interessa a indústria – cerca de 20% do total – é encaminhado para aterros sanitários.
– As pessoas precisam saber que vale a pena reciclar. Além de preservar o meio ambiente, criam-se oportunidades de trabalho para dezenas de recicladores – reforça Barnack.
Continua depois da publicidade
A empresa Ambiental realiza 104 roteiros de coleta seletiva durante a semana, atendendo a todos os bairros de Joinville. O material recolhido é levado para cooperativas como a do bairro João Costa, na zona Sul da cidade. Lá, perto de 30 recicladores – a grande maioria, mulheres – separam o material que chega misturado em turnos de oito horas de trabalho.
Segundo o coordenador da cooperativa, Anderson Ramalho da Silva, o volume de lixo depositado no galpão vem diminuindo nos últimos tempos por causa dos chamados atravessadores, pessoas que não são ligadas a cooperativas e recolhem o lixo nas ruas.
– A gente tem visto uma queda gradual do volume da coleta seletiva. Isso acontece também por que muitos moradores não fazem a separação correta dos materiais, além, é claro, das coletas clandestinas dos atravessadores. Isso nos prejudica bastante e tira o rendimento das pessoas que estão aqui – ressalta Anderson, que trabalha há 16 anos com reciclagem de lixo.
Continua depois da publicidade
Ele explica que os recicladores ganham por produtividade e que, em média, o rendimento mensal de cada trabalhador é de R$ 1 mil.
– Queremos ver mais gente reciclando, mais gente trabalhando nas cooperativas. Se um ajudar o outro, todos ganham – afirma.
A coleta seletiva municipal recolhe mensalmente mil toneladas de recicláveis. Segundo Barnack, esse volume poderia muito bem passar para duas mil toneladas de lixo reciclável por mês, ajudando as pessoas que trabalham nos galpões de reciclagem e que tiram dali o seu sustento, além de reduzir a quantidade de material que vai para o aterro sanitário. Atualmente, o aterro de Joinville recebe cerca de 11 mil toneladas de lixo domiciliar por mês.
Continua depois da publicidade
Coleta clandestina
Joinville ainda enfrenta a ação de coletores clandestinos, pessoas, inclusive de outras cidades, que chegam antes da Ambiental. Com isso, os trabalhadores dos galpões perdem volume de mercadoria, além de não haver segurança sobre a destinação correta dos materiais por parte desses coletores. Nos galpões, o que não puder ser reciclado será encaminhado ao aterro sanitário.
Para evitar a ação de coletores clandestinos, a Seinfra recomenda que os moradores disponibilizem o lixo reciclável em horários mais próximos ao da coleta seletiva. Vale lembrar que a produção de material reciclável pela população cai em torno de 30% a 40% no período do inverno.
– Por isso, é tão importante que as famílias separem todo o material que possa ser reciclado, ajudando trabalhadores da reciclagem e evitando que esse material vá parar no aterro sanitário – observa Barnack.
Continua depois da publicidade

Iraide tem 62 anos, mora há 40 em Joinville e trabalha na separação de lixo (Foto: Maykon Lammerhirt / Agência RBS)
Separação garante renda
A recicladora Iraide Ribeiro de Paula da Costa adotou uma nova postura em relação ao lixo há 11 anos. Ela confessa que não dava muita atenção à reciclagem, mas começou a mudar sua visão quando o marido passou a coletar lixo reciclado nas ruas. O pontapé inicial para entrar no negócio, entretanto, ocorreu mesmo quando ela ingressou em uma cozinha comunitária do bairro Jardim Edilene. Lá, aprendeu a lidar com hortas orgânicas e, por meio de um projeto social da Embraco, a focar no trabalho de geração de renda.
– Foi ali que despertei para a reciclagem de lixo. Foram dois anos de aulas e ensinamentos. Visitamos espaços de reciclagem e aprendemos a dar valor à coleta seletiva – lembra Iraide, que tem 62 anos e trabalha na cooperativa de reciclagem do bairro João Costa.
Continua depois da publicidade
Nascida em Rio Branco do Sul (PR), Iraide mora em Joinville há 40 anos e diz se sentir mal quando vê alguém jogando o lixo em locais errados.
– As pessoas deveriam saber que a separação do lixo ajuda a dar trabalho para muita gente e, principalmente, preserva o meio ambiente. O que é lixo para um, não é para outros – avalia.
