Com metas ousadas e produtos inéditos, o Banco do Brasil (BB) entra na disputa de clientes em busca de financiamentos para a compra de imóveis com recursos da poupança. A instituição recebeu nesta semana autorização do Conselho Monetário Nacional para operar nessa modalidade e já está acirrando a competição pelo mutuário.
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Atualmente, a Caixa Econômica Federal detém 70% do mercado, incluídos os financiamentos com recursos da poupança e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O restante é fracionado entre outras 21 instituições. Até o final do ano, o BB colocará à disposição R$ 1 bilhão para financiar a casa própria, com recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Para os próximos 12 meses, no entanto, o orçamento é de R$ 3 bilhões, com valor médio financiado de R$ 80 mil por cliente, calcula Paulo Rogério Caffarelli, diretor de novos negócios do banco.
Caffarelli adianta que a instituição reivindica também o uso dos recursos do FGTS (a resposta é esperada para 90 dias), o que poderá derrubar ainda mais o juro nessa modalidade de crédito.
– Estamos trabalhando com a taxa de 8,9% ao ano mais TR (Taxa Referencial) para os financiamentos de até R$ 120 mil. Com a autorização para o FGTS vai ficar um pouco abaixo – afirma o diretor, explicando que o BB está de olho em clientes com renda familiar acima de cinco salários mínimos.
Para atrair os mutuários, o Banco do Brasil chega oferecendo duas inovações: carência de até seis meses e a prestação pula. Na primeira, no período de carência, o mutuário paga o juro da operação, o seguro e a taxa de administração. Na outra, o cliente escolhe uma prestação no ano que não será paga, sendo transferida para o fim do contrato.
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Por si só, os novos produtos devem movimentar o mercado e em breve a idéia deve ser absorvida pelos concorrentes, prevê Carlos Alberto Aita, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado (Sinduscon-RS).
– Foi assim quando o Santander lançou as parcelas fixas – lembra o dirigente.
Professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Gilberto Braga considera o Banco do Brasil um concorrente de peso. Tamanho, capilaridade e atratividade da marca são fatores que podem favorecer a instituição, avalia.
Na comparação com os demais competidores, o BB teria outras vantagens, afirma Braga. O banco é dono da carteira do funcionalismo público federal. E em razão do perfil da instituição, se for mais ágil na concessão de crédito e no fechamento dos negócios, ganhará clientes rapidamente, prevê.
Condições ficam mais favoráveis
Embora rechace a idéia de que o ingresso do Banco do Brasil represente concorrência direta, mas sim um esforço do governo para reduzir o déficit habitacional, a Caixa Econômica Federal oferece desde fevereiro condições mais favoráveis. As vantagens são descontos percentuais de até 1% ao ano para os clientes que autorizarem débito em conta e utilizarem o cartão de crédito.
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– Em um financiamento longo, isso faz diferença – alerta Pedro Amar Ribeiro de Lacerda, gerente regional de negócios de habitação da Superintendência Porto Alegre da Caixa Econômica Federal.
Neste ano, o orçamento da instituição é de R$ 20 bilhões para a casa própria (inclui o Fundo de Garantia e a caderneta), mas a meta é superar essa quantia.
O gerente regional avalia que os financiamentos estão divididos igualmente entre os recursos da poupança e do FGTS, indicando um crescimento das linhas de crédito para imóveis acima de R$ 100 mil, modalidade que utiliza o dinheiro da caderneta.
Expansão e segmentação
A segmentação do mercado do Sistema Financeiro de Habitação deverá ser um caminho cada vez mais trilhado, avalia Ana Maria Castelo, economista e consultora da FGV Projetos.
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Por conta do crescimento da oferta de crédito, os clientes irão escolher o agente financeiro baseado na combinação de atrativos. E são esses benefícios, aponta Ana Maria, os decisivos para a fidelização dos clientes.
– Este é um aspecto importante. O banco está ganhando um cliente para 20, 30 anos – destaca a economista.
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança, foram aplicados R$ 9,7 bilhões da caderneta no mercado imobiliário no período de janeiro a maio deste ano. Com a injeção de dinheiro à disposição da construção civil, o país está prestes a ver a reedição do boom imobiliário ocorrida na década de 80, mas com mais segurança para as partes, diz Adilsson Machado, presidente da Associação dos Mutuários e Moradores das Regiões Sul e Sudeste do Brasil.
– É um bom momento para aproveitar. Apesar de os bancos, no entanto, estarem aceitando o comprometimento de até 30% da renda, o ideal seria não usar mais do que 20% – aconselha Machado.
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