Uma semana depois de abrir – com mais pompa do que circunstância – o 40º Festival de Gramado, a mais nova produção internacional dirigida por Fernando Meirelles estreia no circuito.

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360 é um filme coral de elenco estelar composto por diversas histórias interconectadas que versam sobre relacionamentos contemporâneos e que se passam entre Minneapolis e Paris, Viena e Bratislava (a capital da Eslováquia).

Leia entrevista com Fernando Meirelles e Maria Flor

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Apresentado pelo diretor como um filme independente e de produção “pequeninha” (custou R$ 14 milhões), 360 tem a dramaturgia forjada a partir de histórias de traição e, comentou Meirelles em entrevista a ZH, culpa.

– A infidelidade é um ponto de partida de várias histórias, mas o importante são suas causas, consequências e aquilo que leva ou não a isso – disse, instigado a comparar o longa com O Jardineiro Fiel (2005), o primeiro filme que dirigiu após Cidade de Deus (2002). – Em O Jardineiro Fiel, o protagonista só tem de fato essa fidelidade de que fala o título depois de desconfiar da traição da mulher. Seu comportamento é motivado, em parte, pela culpa. É esse sentimento que move os atos de grande parte dos personagens de 360.

No roteiro que Peter Morgan (A Rainha, Frost/Nixon, entre outros) escreveu com vaga inspiração em Arthur Schnitzler (na peça Reigen), um executivo britânico em viagem à Áustria (Jude Law) se debate entre trair ou não a mulher (Rachel Weisz). Enquanto isso, em Londres, com a consciência desabando sobre seus ombros, ela pensa em romper com o amante brasileiro (Juliano Cazarré). Este, por sua vez, é flagrado em infidelidade pela namorada (Maria Flor), que ao vê-los decide voltar, arrasada, ao Rio. Na viagem com escala nos EUA, ela tem dois encontros significativos: com um ex-presidiário condenado por estupro (Ben Foster) e um ex-alcoólatra (Anthony Hopkins) que segue uma dolorosa jornada de busca pelo corpo da filha desaparecida.

É o monólogo em que Hopkins se abre a colegas dos Alcoólicos Anônimos o ponto alto de 360 – a cena para a qual o veterano ator buscou inspiração em sua própria vida de ex-dependente de álcool é de arrepiar, algo que, no entanto, não encontra ressonância nos demais núcleos do filme. Há ainda duas outras tramas principais. Um dentista argelino viúvo, que vive em Paris (Jamel Debbouze), debate-se entre seguir os preceitos da religião muçulmana e a paixão por sua assistente (Dinara Drukarova). Completam a ciranda as histórias cruzadas de um capanga da máfia russa (Vladimir Vdovichenkov) e duas irmãs eslovacas (Lucia Siposová e Gabriela Marcinkova) para quem as oportunidades de redenção aparecem em momentos de tensão que exigem decisões às vezes inescrupulosas.

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– Sei que, num filme assim, é difícil aprofundar as histórias. É por isso que esta deve ser minha última experiência com filmes corais – afirmou Meirelles em Gramado.

O filme não é ruim, você vai ver, muito embora seja o menos inspirado de seu realizador desde Cidade de Deus. Preste atenção, por exemplo, em como a ótima trilha sonora assinada por Ciça Meirelles (mulher do diretor) se amalgama com a narrativa de maneira orgânica – até o ringtone de um celular, cuidadosamente escolhido, ajuda a criar climas e tensionar o ambiente.

Leia entrevista com Fernando Meirelles e Maria Flor

360

De Fernando Meirelles. Com Anthony Hopkins, Jude Law e Rachel Weisz.

Drama, Grã-Bretanha/Brasil, 2011. Duração: 110 minutos.

Classificação: 14 anos.

Em cartaz a partir desta sexta-feira.

Cotação: 3 de 5