A greve dos caminhoneiros há um mês atrás expôs a dependência das rodovias no Brasil e levantou, novamente, a importância das ferrovias para o escoamento de cargas pelos estados. Com a Estrada de Ferro Santa Catarina (EFSC) desativada há quase 50 anos, o Vale do Itajaí é uma das várias regiões que dependem exclusivamente dos caminhões e de estradas como a BR-470 para movimentar a produção. Em uma discussão, que já dura vários anos, o corredor ferroviário de Santa Catarina é uma opção esperada, mas corre o risco de não passar pela região.
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O traçado da ferrovia que vai ligar Dionísio Cerqueira a Itajaí é discutido desde 2014, e desde então é alvo de uma disputa política. Na última apresentação feita pela Valec (estatal responsável pelas ferrovias brasileiras) em Santa Catarina, no mês de abril deste ano, foram exibidos estudos sobre os traçados possíveis e a opção principal, por enquanto, não beneficiaria o Vale do Itajaí e nem o Norte do Estado. Denominada de “ligação Y”, a rota da ferrovia sairia do Oeste e seguiria pela Serra em direção ao sul, sem passagem pelo Vale, e com uma bifurcação em Alfredo Wagner, onde uma linha seguiria em direção a Tijucas e outra até Imbituba (confira no mapa). No litoral, então, um novo trecho Norte-Sul faria a ligação entre os portos até Itapoá.
O projeto orçado em cerca de R$ 16,1 bilhões é criticado por entidades empresariais e associações do Vale do Itajaí, que defendem a necessidade de trilhos de trem na região. Novos estudos foram solicitados e devem ser apresentados hoje à tarde em Rio do Sul, em reunião marcada entre a Valec e associações empresariais e de municípios do Vale.
– O traçado ainda não foi decidido, mas o projeto inicial deixaria o Vale do Itajaí sem ferrovia. Vamos defender que a carga para a região é muito maior, e como não temos a BR-470 duplicada, não tem hidrovia, temos que lutar por um trecho da ferrovia – destaca Eduardo Schroeder, diretor institucional da Associação Empresarial de Rio do Sul (Acirs).
Segundo os próprios estudos feitos pela empresa estatal, a ferrovia com ligação direta até Itajaí, sem bifurcação em Alfredo Wagner e com um trecho passando por Rio do Sul e todo o Vale do Itajaí custaria R$ 14,5 bilhões – menos que o projeto em Y – e transportaria mais cargas: 7,5 milhões de toneladas contra 5,4 milhões, com base nos dados levantados pela Valec, que combinam produções agrícolas e industriais.
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Vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) para o Vale do Itajaí, o empresário Ronaldo Baumgarten Júnior aponta a importância de uma decisão sobre a ferrovia sem discussões políticas e com foco nos estudos feitos:
– Os dados técnicos precisam ser seguidos para que o projeto saia do papel. Já estamos tanto tempo debatendo o traçado que vamos acabar sem ferrovia.
ESCOAMENTO DE PRODUTOS E LIGAÇÃO COM PORTO
Lideranças dos municípios do Vale do Itajaí pretendem aproveitar a reunião para mostrar força política e defender o traçado que passa pela região. O prefeito de Agronômica e presidente da Associação dos Municípios do Alto Vale (Amavi), César Cunha, afirma que a ferrovia na região poderia diminuir o gargalo que a BR-470 se tornou na região para facilitar o escoamento de produção de setores como agricultura e indústria metal-mecânica. A intenção é um traçado que corte a região ou, pelo menos, passe o mais perto possível do Alto Vale.
O secretário-executivo da Associação dos Municípios do Médio Vale do Itajaí (Ammvi), José Rafael Corrêa, confirma que a região de Blumenau também sente o problema da BR-470 como única via para transporte de cargas e acredita que a ferrovia ajudaria a indústria local no recebimento e distribuição das mercadorias. A intenção é, primeiro, defender que o traçado passe por Blumenau e, em seguida, tirar dúvidas técnicas. Uma delas é se haverá ponto de carga na região. Outra é saber se o projeto prevê transporte de passageiros.
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– O Vale sempre teve essa característica de ser uma região produtiva e a ferrovia seria fundamental para esse desenvolvimento econômico ser ainda maior. Assim como temos que lutar para manter os recursos para a BR-470, vamos ter que fazer uma luta em cima desse tema também – opina Rafael.
A Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí-Açu (Amfri) não deve enviar representante ao encontro. Quem deve representar a região do Litoral é o secretário de Urbanismo de Itajaí, Rodrigo Lamim. Ele aponta que, para a cidade o principal ganho da ferrovia na região seria o fato do complexo portuário gerir e transportar as cargas que passarem por esse novo corredor. Caso os projetos que preveem traçados em outras regiões prevaleçam, parte dessa carga poderia ser direcionada a outros portos. No entanto, outros aspectos como o possível transporte de passageiros também serão questionados pelo secretário.
– Seria muito interessante se isso também estivesse previsto. Imagine você tendo um trem de Rio do Sul ao aeroporto de Navegantes, quantos carros você eliminaria da BR-470? – indaga.