O período de plantio da soja em Santa Catarina foi reduzido a 100 dias para a safra de 2023/2024, que deverá ter a semeadura no Estado entre 21 de setembro e 29 de dezembro deste ano. Tradicionalmente, o calendário se estende até fevereiro do ano seguinte, mas foi agora limitado por portaria do Ministério da Agricultura (Mapa) como prevenção a uma praga. Autoridades catarinenses tentam reverter a redução.
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Calendário e vazio sanitário
O calendário do Mapa faz parte do Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja (PNCFS), que, desde 2021, organiza o período em que os 21 estados produtores de soja do país poderão realizar o plantio. Nesse ano, todos eles terão esse intervalo limitado a 100 dias.
O Mapa, sob gestão do governo Lula (PT), afirma que a redução atende a estudos da Embrapa: com o menor prazo de semeadura, a ideia é reduzir também a necessidade de aplicação de defensivos agrícolas no campo, o que diminui o risco de o fungo causador da ferrugem asiática da soja (de nome científico Phakopsora pachyrhizi) criar resistência a esses fungicidas, aos quais seria menos exposto.
A mesma doença, extremamente agressiva à soja, também exige que anualmente os estados adotem um período de vazio sanitário, de ao menos 90 dias e anterior ao início da semeadura, em que também fica proibido o plantio do grão para reduzir a população do fungo no intervalo de entressafra.
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Safras anteriores
Nas últimas duas safras, o período de semeadura em Santa Catarina se estendeu até 31 de janeiro de 2022 e 10 de fevereiro de 2023, tendo 140 e 142 dias, respectivamente.
— Aqui, desde 2007, o período de semeaduras ocorre até fevereiro. O produtor está habituado a isso, se programa para isso. Em 2021, quando teve aquela seca mais severa, foi demandado um prazo até o fim de fevereiro — diz o engenheiro agrônomo Alexandre Mees, gestor do Departamento Estadual de Defesa Sanitária Vegetal (Dedev), vinculado à Cidasc, órgão estadual que atua na defesa sanitária.
O prazo mais curto para a semeadura da soja ameaça o atual arranjo produtivo de pequenos agricultores no estado: eles costumam adotar duas safras de verão, adiando o plantio da soja para depois de uma primeira de safra de feijão, tabaco ou milho para silagem, por exemplo.
Reação de autoridades catarinenses
O gestor do Dedev irá se reunir nesta quarta-feira (8) com o secretário de Agricultura estadual, Valdir Colatto, para desenhar estratégias de ampliação da semeadura. Segundo adiantou ao NSC Total, uma possibilidade é a Cidasc mediar aos produtores catarinenses autorizações excepcionais de cultivo, o que depende de aval do Mapa.
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Ao elaborar o calendário de cultivo, o Mapa já ouve os órgãos de defesa sanitária estaduais, caso da Cidasc em Santa Catarina, mas apenas de maneira consultiva: é o governo federal que dá a palavra final.
Na ocasião da publicação da portaria que estabeleceu a semeadura da próxima safra, em 11 de julho, a Cidasc já havia pedido à Superintendência Federal de Agricultura no estado, braço do Mapa, que o prazo fosse ampliado, mas não foi atendida. Paraná e Rio Grande do Sul também tiveram pedidos frustrados.
A questão também mobiliza parlamentares: na Assembleia Legislativa catarinense (Alesc), o deputado estadual Fernando Krelling (MDB) publicou moção de apelo ao Mapa pela extensão do prazo de plantio; já em Brasília, o deputado federal Zé Trovão (PL) solicitou audiência pública para tratar do tema, enquanto o colega Rafael Pezenti (MDB) indicou, conforme noticiou a colunista Estela Benetti, que apresentaria um decreto legislativo para pressionar a mudança do calendário.
Procurado pelo NSC Total, o Mapa informou que consultaria sua área técnica antes de emitir eventual posicionamento. A reportagem ainda tenta contato com a Secretaria de Agricultura catarinense.
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