Jovens da geração Z — nascidos entre 1995 e 2009, ou seja, que tem entre 15 e 29 anos em 2024 — estão consumindo menos bebida alcoólica em relação às gerações anteriores, segundo um levantamento feito pela Martech MindMiner.

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O dossiê das bebidas ouviu 3 mil pessoas de várias faixas etárias em todo o país, em 2022. A pesquisa revelou que 45% da geração Z consome álcool, enquanto aqueles que fazem parte da geração Y, conhecida como “millenials” (nascidos entre 1982 a 1994), representam 57%; a geração X (nascidos entre 1965 e 1981), 67%, e os boomers (nascidos entre 1945 e 1964), 65%.

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A nutricionista Bárbara Lino, de Florianópolis, relata a diferença entre gerações nos atendimentos.

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— Esse é um movimento bem recente. Entre os pacientes com mais de 30 anos, o consumo de álcool ainda é um hábito e às vezes até um problema. Em meus tratamentos, costumo recomendar pelo menos 40 dias sem álcool e para alguns isto é algo inimaginável. Já entre os pacientes mais jovens, o álcool nem é mencionado porque eles já não costumam beber — diz.

O valor das bebidas na mudança do consumo

Dos entrevistados pelo dossiê, 30% precisou cortar ou diminuir o consumo de bebidas que gosta, devido ao aumento dos preços. A cerveja foi a bebida que sofreu o maior impacto nessas circunstâncias.

O preço está entre as maiores prioridades no momento de escolher a bebida, com 76%; depois vêm a qualidade, com 55%, e a marca, com 36%.

A questão financeira foi um dos fatores pelo qual Leticia Cordova Macedo, de 25 anos, que é estudante de Ciências Biológicas na Universidade Federal de Santa Catarina, cortou o consumo de bebida alcoólica.

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— Eu parava pra pensar: “pô, será que vale eu gastar isso nessa bebida?”. Como eu não gosto das bebidas mais comuns, o que eu tomava era mais caro — conta Leticia.

Já faz quase um ano que a estudante parou, abruptamente, de consumir bebida alcoólica. Além do fator financeiro, o que mais pesou na decisão foi o uso de remédios controlados que, ao serem misturados com álcool, causam efeitos colaterais.

Atualmente, ela diz que não sente falta de bebida alcoólica, a não ser pelo vinho, que sempre foi sua bebida favorita.

Confira o ranking das bebidas mais populares

  • Cerveja tradicional: 44%;
  • Vinho: 37%;
  • Destilados: 36%;
  • Prontas para consumo: 26%;
  • Outras opções: 24%.

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“Geração saúde”

Dos 42% dos entrevistados que não consomem bebidas alcoólicas, 30% não o fazem porque querem melhorar a qualidade de vida. É o caso de Wesley Fidencio Antônio, de 21 anos. Artista, tatuador e músico, ele é conhecido por “Zote” nas redes sociais e tem entre as opções de lazer shows, barzinhos e festas, quando está com mais pessoas.

Porém, Wesley não faz consumo de bebidas alcoólicas há pouco mais de dois meses porque quer melhorar o estilo de vida. Ele iniciou o processo de diminuição do consumo há mais ou menos seis meses.

— Eu não posso negar que às vezes dá vontade de dar uns goles de vinho ou cerveja, depende o dia, porque eu sempre fui um cara que gosta de beber pelo sabor. Apesar disso, foi algo tranquilo de trabalhar em mim — diz.

Além de Wesley, o estudante de Educação Física da UFSC, Ian Takimoto, de 22 anos, também optou por parar de consumir álcool em busca de um melhor estilo de vida. Ele faz academia há cinco anos e, ao entrar em contato com estudos que mostram que o consumo de álcool prejudica no ganho de massa muscular, decidiu parar de beber.

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A nutricionista Bárbara Lino explica que não é um mito: o consumo de álcool afeta mesmo os resultados que podem ser obtidos com exercícios físicos.

— Um treino após o consumo de álcool, primeiramente, não vai ter alto rendimento. O corpo mais desidratado e fadigado tende a não conseguir desempenhar bem e o treino fica mal feito — explica.

Ela também pontua que o ganho de massa magra — que é o objetivo de Ian — requer a mobilização de muitos nutrientes, e o consumo de bebida afeta a absorção deles. Para quem está em processo de emagrecimento, o problema é outro, segundo a nutricionista.

— Cada mL de álcool tem sete calorias. Para quem está em processo de emagrecimento, isso gera um impacto maior — diz.

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Volume de consumo

As pessoas querem diminuir o consumo de álcool, segundo o dossiê: 33% dos entrevistados pela pesquisa demonstram esta intenção.

A porcentagem é ainda maior quando o assunto é ter uma “rotina” para o consumo de bebidas alcoólicas: mais de 60% das pessoas afirmam que sábado é o dia da semana em que se permitem tomar uma cervejinha, vinho ou drink, especialmente para relaxar após uma semana de trabalho, já que muitas estão de folga e não trabalham no dia seguinte.

É o que acontece com Ísis Leites Regina, de 21 anos. Estudante de jornalismo, ela explica que só bebe socialmente quando sai de casa e está com mais pessoas, o que ocorre nos finais de semana. Apesar disso, ela diz que não bebe para relaxar, como os respondentes da pesquisa.

— Eu nunca vou beber sozinha para relaxar, por exemplo. Não sinto falta e não acho que faz muita diferença. Eu acabo bebendo para socializar. Como dizem, a bebida é um “lubrificante social”, né? — aponta.

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Religião

A pesquisa mostrou, ainda, que 17% das pessoas entrevistadas não consomem bebidas alcoólicas por questões religiosas. É o caso de Letícia Borges Nunes, de 20 anos. Adventista há 10 anos, ela segue os princípios de vida saudável da religião, que inclui a abstinência de álcool.

Letícia faz parte de um grupo de jovens da sua igreja, que tem cerca de 20 pessoas e também não fazem consumo de bebida alcoólica.

— Eu acabo não tendo muito contato com a bebida. Geralmente, as minhas opções de lazer são dar uma volta no shopping ou ir na livraria. Eu gosto muito de chamar meus amigos para vir aqui em casa, para a gente jogar alguma coisa, enfim, ficar assistindo Netflix… Eu sou mais caseira — conta a estudante.

Letícia não costuma frequentar festas universitárias ou barzinhos, locais onde geralmente acontece consumo de bebida exagerado, segundo ela.

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“Não gosto do sabor”

Mais da metade das pessoas entrevistadas não consomem bebidas alcoólicas por não gostar do sabor, segundo o dossiê. É o caso de Ayuni de Lucia, de 20 anos, prestes realizar o vestibular para Medicina, em Florianópolis. Suas principais atividades de lazer incluem assistir TV, ir à praia ou piscina.

— Às vezes, quando eu saio com as minhas amigas ou amigos para ir pra praia, eles trazem [álcool], mas eu não bebo — conta.

Eloíza de Lima, de 21 anos, traz um relato parecido. Ela cursa Inglês na UFSC e conta que, além dos fatores de estilo de vida, o gosto do álcool também não a atrai.

— O que eu já experimentei, envolvendo álcool, não foi muito agradável. Eu acho que uma coisa se juntou à outra e, agora, eu não consumo bebidas alcoólicas — conta.

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Maiah Luari Leite Ferreira, de 18 anos, atualmente faz cursinho pré-vestibular para passar no curso de Moda da Udesc. Ela também conta que não sente vontade de consumir bebidas alcoólicas por não gostar do gosto.

— Acho que eu não preciso de álcool para me divertir, nem para me soltar. Além disso, eu não frequento muitos lugares que tem bebida alcoólica — diz.

Arthur Bogo, de 19 anos, traz um relato similar. Ele cursa Ciências Sociais na UFSC e diz também não sentir a necessidade de consumir álcool. A última vez que ele bebeu foi há um mês, na festa de formatura do ensino médio.

— As vezes que eu consumi [álcool], foi muito por causa do fator coercivo mesmo, o espaço que eu estava inserido, os amigos que eu estava junto. Mas eu diria que vontade, mesmo, eu não tenho, de forma alguma — relata.

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André Rosito, psiquiatra que trabalha há mais de 20 anos com dependência química, explica que o fator coercivo é comum na sociedade, quando o assunto é a socialização.

— Uma pessoa que não consome álcool pode ter alguma dificuldade de socialização, dependendo dos grupos que ela frequenta. O problema está em como a nossa sociedade está organizada, e como é estimulado o consumo de álcool — explica.

O consumo de álcool pela Geração Z deve mudar?

Para o psiquiatra, a diminuição do consumo de álcool da Geração Z está associada à pandemia.

— Com a pandemia, a socialização e a possibilidade de estar em eventos sociais reduziu muito e isso, naturalmente, reduz muito o consumo de álcool. Um jovem bebe muito mais num evento social do que no dia a dia, porque ele ainda não desenvolveu esse hábito — explica.

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Para ele, a redução dos eventos sociais teve mais impacto nestes dados do que qualquer questão geracional.

— Com a volta de eventos sociais, talvez esse efeito de redução se perca — conclui.

*Sob supervisão de Luana Amorim

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