Se você aproveitou o fim de semana em alguma praia de Santa Catarina, deve ter achado a água mais quente do que o normal. Não foi impressão, em praias como o Pântano do Sul, em Florianópolis, a água está 8ºC mais quente do que no mesmo período do ano passado. Segundo o oceanólogo Argeu Vanz, da Epagri/Ciram, a temperatura da superfície está em média de 1,5ºC a 2ºC mais alta do que em janeiro de 2016.
Continua depois da publicidade
— O que se supõe é influência da corrente do Brasil, uma movimentação de água quente que deve continuar afetando toda a costa catarinense por mais alguns meses. Outro fator que influencia a temperatura da água é a falta de vento, o que faz que a superfície da água tenha menos movimentação e ela receba mais calor — explica Vanz.
O oceanólogo esclarece que o fenômeno não é atípico, o que não afeta os organismos presentes no mar, que já estão adaptados a essas mudanças de temperatura. O alerta fica para os banhistas, que tendem a se aventurar mais pelas águas, aproveitando a temperatura mais agradável. A recomendação é que fiquem atentos às orientações dos guarda-vidas.
A Epagri/Ciram não realiza a medição da temperatura da superfície do mar, mas acompanha os registros via satélite e dados obtidos de navios e boias oceanográficas. Na imagem divulgada no último domingo, é possível perceber a faixa vermelha entre o Paraná e Sul de Santa Catarina, o que indica temperatura entre 27ºC e 28ºC, sendo que a média na região varia de 24ºC a 25ºC.
— O que pode acontecer com esse aumento de temperatura da água é a proliferação de algas, o que pode ser nocivo para a maricultura. Mas ainda não é uma situação preocupante, já que temos a vantagem de que a temperatura tem diminuído à noite — esclarece.
Continua depois da publicidade
A partir do histórico dos registros de balneabilidade da Fatma, é possível observar a temperatura constatada durante as coletas nas praias do Litoral de SC. A diferença da temperatura registrada em janeiro de 2016 e no começo de 2017 chega a 8ºC em algumas praias, como o Pântano do Sul, 7°c no Campeche e 6°C em Jurerê, todas em Florianópolis.
Mas o fenômeno pode ser registrado em todo o litoral catarinense. Em Imbituba, na Praia da Vila Nova, por exemplo, a diferença é de 5°C. Já no Litoral Norte, como nas praias de Barra Velha, Praia Vermelha (Penha) e Mariscal (Bombinhas), a água está 3°C mais quente em relação a janeiro de 2016.
Impacto na vida marinha
— Há uma particularidade, porque no Sul da Ilha temos águas mais frias devido a um efeito de ressurgência [fenômeno que faz com que as águas mais frias subam para a superfície] próximo a Laguna. Teoricamente, essa água mais fria deveria ter sido afastada dali pelos ventos e ido em direção ao Pântano do Sul, mas os ventos não são idênticos todos os anos. Isso é natureza, não tem problema nenhum — avalia.
Especialista em oceanografia biológica, Schwingel ainda explica o impacto da água mais quente na vida marinha em um esquema de compensação em que os animais adaptados às águas mais quentes, como a sardinha, tendem a expandir a área de ocupação, enquanto aqueles adaptados às águas mais frias perdem espaço.
Continua depois da publicidade
O presidente da Federação dos Pescadores do Estado de Santa Catarina (Fepesca), Ivo Silva, garante que isso já é sentido pelos pescadores catarinenses.
— Estamos acompanhando essa situação extraoficialmente, mas já temos observado diferença. Espécies de água mais fria, como a merluza e o atum, estão mais afastadas da costa, o que logicamente diminui a produção. A pesca industrial mais uma vez ganha força em relação à artesanal — lamenta.