O pequeno país europeu de Luxemburgo entrou no noticiário catarinense e nacional nos últimos dias, após o assassinato de Dione Strecker, 52 anos, na cidade de Esch-sur-Alzette. Natural de Xaxim, no Oeste catarinense, ela morava há oito anos em Luxemburgo e o crime, cujo suspeito é o ex-companheiro da brasileira, pouco comum no país que possui um dos melhores Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, chocou a grande comunidade brasileira e catarinense que mora lá.
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Somente na região da cidade de Esch-sur-Alzette, onde Dione morava, estima-se que mais de 1 mil brasileiros façam parte da população. Além disso, a região também abriga muitos portugueses — assim como todo o país, visto que é de Portugal a maior população estrangeira de Luxemburgo, o que ameniza para os brasileiros o fato das línguas oficiais serem o francês e o alemão.
Leia mais: Confira os sobrenomes mais comuns em SC que podem ter origem de Luxemburgo
Com uma área geográfica parecida com a da região metropolitana de Florianópolis e uma população total de aproximadamente 600 mil habitantes (menos que a soma de Florianópolis e São José), o país entrou no radar dos catarinenses há poucos anos, quando veio à tona uma flexibilização nas leis de nacionalidade do país. Junto disso, catarinenses que acreditavam ter uma origem alemã descobriram que, na verdade, eram descendentes de luxemburgueses que vieram junto dos colonizadores alemães para cidades como São Pedro de Alcântara.
Foi o caso da família de Silvana Haening Gerent Juttel, de Palhoça, que sempre achou que tinha descendência alemã, até que anos atrás um tio pesquisou a árvore genealógica e encontrou o primeiro imigrante da família vindo de Luxemburgo. Através dessa descoberta a família de Silvana conseguiu a cidadania luxemburguesa e viu um meio de ajudar outras famílias nesse processo.
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— Desde 2016 trabalhamos com consultoria para processos de cidadania luxemburguesa. Até o fim do ano passado, quando fiz um levantamento, já havíamos feito o processo para cerca de 3 mil pessoas, a maioria de Santa Catarina — conta.
Silvana explica que a lei que gerou o boom na migração de brasileiros foi criada em 2008 e ficou válida por 10 anos, até o dia 31 de dezembro do ano passado. Foi a legislação luxemburguesa que permitiu a “recuperação” da cidadania sem limite de geração. Em termos gerais, praticamente qualquer pessoa que conseguisse provar com documentos oficiais ter um antepassado luxemburguês tinha a chance de conseguir a cidadania.
A procura foi tanta que chegou a sobrecarregar os departamentos do governo luxemburguês responsáveis pela análise da papelada, o que fez a espera pelos resultados chegar a cerca de seis meses para os brasileiros, que podiam abrir o processo sem precisar ir até a Europa.
Desde 1º de janeiro deste ano a lei mudou e aumentou um pouco as restrições, mas a procura segue grande. Agora há um limite de gerações (a pessoa precisa ter algum dos pais ou avós com a cidadania para poder pedir também), no entanto uma brecha na legislação diz que entre homens a cidadania luxemburguesa é passada automaticamente, então muitos brasileiros ainda têm a chance.
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— Não houve uma explicação oficial, mas a gente acredita que essa abertura tão grande para estrangeiros se deve a alguns fatores. É um país pequeno e de população mais velha, então houve essa tentativa de trazer de volta essas pessoas com alguma origem de Luxemburgo. Abriram as portas — diz Silvana.
5 mil catarinenses descendentes de luxemburgueses
Pelo fato de Santa Catarina reunir boa parte dos descendentes de luxemburgueses no Brasil, sendo que muitos estão na Grande Florianópolis, Palhoça foi escolhida para receber o primeiro consulado do país no Sul do Brasil. Segundo a cônsul honorária em SC, Karen Francesca Schwinden, estima-se que cerca de 5 mil catarinenses tem origem de imigrantes de Luxemburgo — mas o número pode ser ainda maior.
A instalação do consulado ocorreu no primeiro trimestre de 2019 e visa estreitar as relações entre os países e dar suporte para quem tiver a cidadania:
— O Consulado Honorário tem por finalidade prestar assistência aos cidadãos luxemburgueses em visita ao nosso Estado. Além disso, estreitar os laços com os cidadãos luxemburgueses que aqui vivem, bem como buscar resgatar os valores culturais dos nossos ancestrais, auxiliando no resgate da história e valorização da imigração luxemburguesa — destaca Schwinden.
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Descoberta de surpresa
Seja para morar ou não em Luxemburgo, a cidadania do país abre várias portas para os brasileiros. O país foi um dos fundadores da União Europeia e o passaporte de Luxemburgo é considerado um dos mais aceitos do mundo. Um exemplo prático é que brasileiros com o passaporte do país não precisam, por exemplo, de visto para entrar nos Estados Unidos.
Moradora de Florianópolis, a publicitária Mônica Keller está planejando com a família a ida a Luxemburgo para assinar os últimos detalhes do processo de cidadania do país. Foi pesquisando a história da família que ela descobriu um antepassado luxemburguês na família da mãe:
— O processo foi uma grande surpresa. Eu gosto de história, tenho blog sobre viagens, então sabia que a região da Grande Florianópolis tinha recebido luxemburgueses misturados com os alemães durante a colonização, mas eu sempre achei que a minha família era 100% alemã. Numa madrugada pesquisando sobre a árvore genealógica eu encontrei pela família da minha mãe, por parte do meu avô, que o bisavô dele era de Luxemburgo.
A jovem de 26 anos conta que o processo de buscar a papelada necessária durou cerca de três meses, com algumas idas a São Pedro de Alcântara em busca de certidões no cartório da cidade. Depois disso os documentos foram enviados para Luxemburgo em agosto do ano passado, e a resposta positiva veio em fevereiro deste ano.
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— A surpresa ainda vai além do fato da cidadania, que cria uma facilidade para visitar tantos países. É quase que um presente do meu avô que não está mais aqui e deixou essa herança — conta Mônica.
Confira os sobrenomes mais comuns
Vários sobrenomes tradicionais das famílias alemãs em Santa Catarina, na verdade, tem alguma origem luxemburguesa também. A lista abaixo é elaborada pelo consulado e não garante que todos que tenham esse sobrenome são de origem de Luxemburgo, pois imigrantes com o mesmo sobrenome podem ter vindo de países diferentes.
No entanto, a pesquisa pela árvore genealógica pode render alguma surpresa.
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