As chuvas que atingiram Santa Catarina entre quinta (16) e sexta-feira (17) somam estragos, com mais de 1 mil pessoas desabrigadas e 1,3 mil desalojados. De acordo com meteorologistas ouvidos pelo NSC Total, o fenômeno ocorreu por conta da combinação de circulação marítima e um sistema de baixa pressão atmosférica.

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Comum no verão, a circulação marítima ocorre quando ventos úmidos vindos do oceano se encontram com as áreas de relevo, criando um ambiente favorável à precipitação. Essa umidade é transportada nos níveis mais baixos da atmosfera.

No entanto, esse cenário foi intensificado por um sistema de baixa pressão, que proporciona formação de cavados. Isso aumenta as instabilidades e forma nuvens de tempestades como as que vimos no Estado, em forma de pancada, com trovoada, rajada de vento e possibilidade de queda de granizo.

Esse sistema de baixa pressão, localizado em níveis médios da atmosfera, atua como uma espécie de “vácuo”, sugando o ar para cima, puxando a umidade trazida pela circulação marítima.

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— Esse sistema atua como um aspirador da umidade que chega em superfície e níveis baixos, formando nuvens carregadas — explica a meteorologista da Epagri/Ciram, Gilsânia Cruz.

Segundo a meteorologista Andrea Ramos, um fenômeno acabou alimentando o outro.

— Vocês têm a circulação marítima, proporcionada justamente por essa umidade que vem do oceano, e também cavados que vão atuando e favorecendo essas instabilidades — resume.

Fenômeno já ocorreu outras vezes

Em janeiro, é comum que Santa Catarina experimente chuvas frequentes. Em outros anos, o Estado já sofreu chuvas intensas e repentinas como as vistas agora. Em 10 e 11 de janeiro de 2018, tempestades na Grande Florianópolis causaram uma série de estragos, principalmente no Norte da Ilha. Na ocasião, em 60 horas (ou dois dias e meio), a Capital recebeu de 300 mm a 400 mm de chuva.

Caso semelhante ocorreu em dezembro de 1995 na Grande Florianópolis, quando a Capital contabilizou 392 milímetros em três dias.

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— No verão a gente tem a recorrência desses fenômenos. Não é todo ano que tem, mas a gente tem a recorrência desses fenômenos que trazem bastante chuva, de característica intensa e rápida — pontua o meteorologista do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Mário Quadro.

Por que meteorologia não previu o fenômeno?

A intensidade de chuvas deste ano, porém, surpreendeu os meteorologistas. A cidade de Biguaçu, por exemplo, registrou 404 milímetros em dois dias — sendo que o esperado para a região em todo o mês de janeiro é de 170 a 250 milímetros, na média climatológica.

Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (17), o secretário de Defesa Civil de Santa Catarina, Fabiano de Souza, disse que os modelos meteorológicos do Estado não previram a intensidade da chuva.

— Todos os modelos existentes, que foram utilizados, e não foi apenas um, não apontavam uma chuva com esse volume. Eles indicavam circulação marítima entre 50 e 70 milímetros — disse o secretário.

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Segundo o meteorologista Mario Quadro, os modelos de meteorologia se diferenciam pela quantidade de informações (de radares, satélites, estações, etc.) que processam e pelas configurações que os meteorologistas fazem no modelo. Hoje, novas tecnologias permitem essa previsão mais apurada, mas isso depende de investimentos.

— Para fazer esses ajustes, para pegar todo tipo de condição meteorológica, precisa de investimentos e de gente para fazer essas melhorias no modelo. Precisa de máquina, capacidade computacional e pesquisa e desenvolvimento — pontua ele.

O Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) acaba de adquirir, junto à Fapesc, um mini supercomputador, máquina que tem capacidade de executar modelos mais completos. A máquina deve chegar em fevereiro e a equipe deve colocá-la para funcionar em fevereiro, conforme Mario Quadro. Seus resultados serão usados junto à Defesa Civil e à Epagri.

Gilsânia Cruz, meteorologista da Epagri/Ciram, diz que mesmo com a aquisição de novos equipamentos, identificar o fenômeno como o que ocorreu seria “impossível”.

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— Nem mesmo um modelo de escala menor conseguiria projetar tanta chuva em tão curto intervalo de tempo. Acreditamos que essa chuva é resultado do que temos no mundo todo, os impactos cada vez mais frequentes do aquecimento global — diz.

O que diz o governo estadual

O NSC Total procurou a Defesa Civil, que informou que irá divulgar uma nota sobre o fenômeno na tarde desta sexta-feira (17). O espaço segue aberto.

Chuvas em Santa Catarina

Municípios da Grande Florianópolis e do Litoral Norte foram atingidos por fortes chuvas entre quinta (16) e sexta-feira (17). Pelo menos 11 municípios registraram acumulados superiores a 200 milímetros nas últimas 48 horas, de acordo com boletim da Defesa Civil emitido às 11h desta sexta.

A cidade mais atingida foi Biguaçu, onde choveu 404 milímetros. Florianópolis, Tijucas e São José vêm em seguida, com acumulados superiores a 300 milímetros. As quatro cidades declararam estado de emergência, assim como Camboriú, Governador Celso Ramos, Porto Belo, Ilhota, Balneário Camboriú, Palhoça e Gaspar.

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Os temporais provocaram alagamentos, deslizamentos, interdição de rodovias e caos no trânsito. Às 14h desta sexta, o governo estadual informou que havia mais de 1 mil pessoas desabrigadas e 1,3 mil desalojadas.

Um pescador de Governador Celso Ramos morreu após sair de casa para verificar sua embarcação na praia de Palmas, na quinta-feira. Em Florianópolis, duas mulheres ficaram feridas nos escombros de um muro caído, na Costeira do Pirajubaé.

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