Tem gente que não pode nem ouvir a palavra liquidação. O coração dispara e a ansiedade chega a níveis de quase enlouquecer se não for o primeiro a chegar até a loja e garantir os melhores produtos. Exageros à parte, quem não adora a ideia de adquirir um produto que seja sonho de consumo, paquerado há tempos, pela metade do preço? Ou quase a preço de custo? Até mesmo os menos consumistas não deixam passar uma oportunidade como essa.
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A sensação de ter feito um excelente investimento faz com que muita gente vire pesquisador de ofertas e se torne quase profissional no quesito: os especialistas em moda barata. Pessoas que esperam a temporada de descontos para comprar roupas, acessórios e renovar o armário. E sabem que uma boa dose de paciência é essencial para pagar bem menos por uma nova peça de roupa ou um par de sapatos.
Com tantos ávidos por descontos, as opções de venda nesses moldes também têm aumentado. Agora, é possível gastar menos para repaginar o guarda-roupa durante o ano inteiro. Além da tradicional liquidação que marca a virada das coleções, as lojas cada vez mais organizam bazares e outlets. Sem falar nos brechós e sites especializados em oferecer produtos por uma pechincha. Um desbunde para consumistas espertos, econômicos ou sem grana de sobra mesmo.
Uma regra de mercado
Primeiro é preciso entender que as liquidações estão previstas no ciclo de de qualquer produto. Assim, em algum momento, você vai se deparar com modelos a preços menores. Alexandre Ayres, especialista em planejamento e estudo de mercado da Neocom Consultoria, explica que a queima do estoque excedente faz parte da atividade varejista porque, necessariamente, o lojista terá mais produtos disponíveis do que venderá durante a estação.
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– Ele precisa ter um excedente para realizar o mínimo de vendas e garantir a variedade de tamanhos e cores – justifica.
Matematicamente, se ele quiser vender uma peça, terá disponíveis pelo menos cinco exemplares da mesma. Caso contrário, o cliente não encontrará as especificações que procura.
A previsão é que entre 10% e 15% do estoque caia de preço ao fim da coleção. São as esperadas liquidações de estação, que fazem a alegria dos consumidores e ajudam os lojistas a não ficarem no prejuízo nem abarrotados de sobras. Mas tudo isso deve ser feito com planejamento e cálculo.
– O único problema é quando a liquidação se torna uma maneira de fazer dinheiro para cobrir os gastos dos lojistas e resolver problemas financeiros. Isso faz com que ele baixe os preços no auge da estação, condicionando o consumidor a comprar apenas em época de descontos – diz Alexandre.
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Quem espera a virada de temporada para procurar preços mais baixos corre o risco de não achar o tamanho ou a cor do produto desejado. É o ônus da economia. Mas, se o cliente encontra os descontos em época de prateleira cheia e diversificada, por que razão, então, compraria o produto com o preço cheio? Na época certa, para os empresários, reduzir os preços também representa um bom negócio.
– O mandamento número um é ?não se casar? com o estoque antigo. A obsolescência de uma peça pode ser eterna e aí é melhor vendê-la a preço de custo do que mantê-la – alerta o consultor de varejo Igor Paparoto.
Estoques persistentes, portanto, exigem ações criativas para, literalmente, desová-los ao longo do ano e não apenas no mês que antecede os lançamentos. O excesso de concorrência faz com que um ou outro produto com desconto sirva como isca para chamar a atenção do consumidor e, por isso, mesmo durante a temporada, o preço cai para algumas peças.
– A elasticidade dos movimentos de liquidação se dá por conta de um conjunto de fatores da economia (se vai mal, tem mais liquidações) e de estratégias para atrair tráfego e levar gente para a loja, que sempre acaba comprando alguma coisa que não está com desconto – explica Igor.
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A moda dos bazares
A etiqueta do “de tanto por tanto” é, de fato, um atrativo. Mas, para que a economia não seja atropelada e a concorrência prejudicada por lojas que liquidam no auge da estação, o consultor de varejo Alexandre Ayres aponta os bazares, realizados em parceria com várias marcas, como uma alternativa eficiente para vender mercadoria a baixo custo e ainda ter lucro.
Na prática, é quando shoppings ou empresas reúnem diversas lojas para queimar estoques passados. Isso mostra que se trata de uma ação específica e temporária. Sem falar que a divisão do ônus para divulgar o evento faz com que o lojista reduza custos e melhorem as ofertas.
– A queima de estoque benfeita não compete de maneira predatória com a coleção, nem cria a doutrina no cliente de esperar para comprar quando o preço baixar – alerta Ayres.
Conselhos preciosos
:: Garimpar requer foco e isso só acontece se você sabe o que quer. A indecisão leva ao consumo exacerbado e à sensação de não ter se realizado. Sabe aquelas pessoas que compram, compram e chegam em casa arrependidas? Elas mal se conhecem. Por isso, é importante criar uma referência e construir um estilo. Você pode encontrar ideias em blogs, jornais, revistas e eventos de moda.
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:: Tire um dia para bater perna, mesmo sem estar na época de comprar. Ver vitrines é um excelente exercício para conferir se suas referências estão adequadas. Aproveite para pesquisar as tendências.
:: Conheça a si mesmo. Entenda seu momento de vida e construa um estilo. De acordo com a sua rotina (trabalho e atividades), procure aquilo que lhe agrade e misture para ver se combina com você.
:: Faça um levantamento de suas necessidades. Avalie o que tem no armário e o que gostaria de ter. Isso leva a uma revisão no armário. Faça uma lista das coisas que deseja para compor seu estilo.
:: Depois, saia para garimpar. Pesquise e visite comércios de rua, veja as dicas de lojas e brechós que têm nos blogs e vá às lojas de departamento, que costumam ser mais baratas.
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:: Prefira peças atemporais, com bom acabamento, que usará por muito tempo e em várias ocasiões.
:: Aproveite a liquidação da estação e escolha itens para usar no próximo ano. Compre na liquidação deste inverno o que for usar nos dias frios de julho do ano que vem.
Quanto vale o usado?
Uma das alternativa para quem deseja pagar mais barato por roupas, sapatos e acessórios são os brechós, como o Peça Rara, que participará do bazar promovido pela revista. Peças de outrem, ainda com etiquetas ou pouco usadas, saem muito mais em conta do que na loja. É só não ter preconceito e garimpar. Procurar aquilo que não sai da moda, que está em excelente estado, que você sonhou e não pôde comprar na época em que ela brilhava – e valia ouro – na arara do shopping.
Garimpe os achados
Para os aficionados por bons negócios, a internet é uma aliada na hora das compras. Há uma lista de sites especializados em vender apenas ofertas. Tudo a preços bem menores que nas lojas. Um dos que faz mais sucesso hoje entre os internautas consumistas é o Privalia, um clube de compras on-line que nasceu na Espanha, mas está na Itália, no México e há um ano e meio chegou ao Brasil.
– O foco é servir como canal de escoamento de produtos de grandes marcas que já estão fora na coleção – explica o presidente da empresa no Brasil, André Shinohara.
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Para atrair os compradores, os preços são, de fato, bem agressivos. Até 70% mais baratos. E, para não desgastar a marca participante, há uma troca constante de grifes e cada oferta dura, no máximo, quatro dias. A proposta é tão acertada que, comparado ao primeiro semestre do ano passado, o crescimento de vendas pelo site ultrapassou os 1.500%. São mais de 1,5 milhão de sócios, que constantemente visitam a página em busca de boas ofertas.
Cuidados ao optar pela web
:: Se optar por um troca-troca virtual, peça referências a outros consumidores de brechós on-line e sobre a pessoa que está vendendo a peça que despertou seu interesse. Há sites específicos em que são feitas reclamações desse tipo de serviço. Um deles é o Sindicato dos Brechós (www.sindicato-brechos.blogspot.com).
:: Solicite todas as medidas da peça para saber se ela servirá em você. Em geral, esses brechós não fazem trocas.
:: Pergunte sobre eventuais defeitos e peça fotos do produto. Assim você não terá surpresa quando a encomenda chegar.
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:: Procure na internet referências sobre os sites de compra. Há sites específicos para registrar reclamações e elogios desse tipo de serviço.
Outros sites de vendas de roupas
:: Consulte o Procon para saber se há referências sobre o site em que deseja comprar.
:: Faça uma pesquisa de preço antes para ter certeza de que está fechando um bom negócio.
:: Saiba o tamanho e o modelo do produto que vai comprar. Muitas vezes, você pode se enganar e depois ter dificuldades em trocar a peça.
:: Fique atento às promoções nesses sites. Em geral, elas duram poucos dias ou poucas horas. É preciso ser ágil e garantir logo o que deseja.