Os meses de impasse sobre a tributação de ICMS para agrotóxicos ganharam uma solução, ou ao menos uma trégua, após reunião entre o governador Carlos Moisés da Silva (PSL) e líderes de quatro entidades ligadas ao setor agropecuário. O encontro de quase duas horas ocorreu na tarde desta quinta-feira (22) na Casa d’Agronômica, em Florianópolis, e chegou a acordo em torno de uma proposta de transição apresentada pelo Executivo.
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A solução prevê isentar todos os agrotóxicos de ICMS até 31 de dezembro deste ano. A partir de janeiro, o governo vai adotar uma tributação escalonada dos defensivos, de acordo com o potencial agressivo de cada produto ao meio ambiente.
Os produtos na faixa vermelha, considerados os mais nocivos, vão pagar a famigerada alíquota cheia, de 17%. Os azuis, considerados os menos agressivos, continuarão com a alíquota zerada. Outras três faixas de tributação, de 4,8%, 7% e 12% vão ser aplicadas sobre os demais produtos, em categorias intermediárias de toxicidade – de cores azul e amarela.
A definição segue os critérios da classificação toxicológica de insumos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A intenção do governo é desestimular o uso dos agrotóxicos que mais poluem para incentivar o uso dos com menor potencial tóxico, ou até os que não agridem a natureza, como bioinsumos e insumos orgânicos.
A isenção até dezembro e as novas faixas de cobrança de ICMS em 2020 vão ser adotadas por uma medida provisória que deve ser assinada até esta sexta-feira pelo governador Moisés. O texto tem validade retroativa a partir de 1º d agosto, mas precisa ser aprovado pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) para não perder a validade após 120 dias.
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Para o governo, a medida representa uma forma de manter o posicionamento e implantar a chamada tributação verde – ainda que somente a partir do próximo ano. A cobrança de ICMS dos agrotóxicos foi defendida de forma enfática pelo governador nos últimos meses.
Segundo o governador, dados da Cidasc mostram que de 60% a 70% dos agrotóxicos usados no Estado ficam entre a classificação azul e verde, que pela proposta do governo teria alíquota de 0% ou 4,8% de ICMS a partir do próximo ano. Por isso, a medida resultaria em um impacto financeiro de 1% a 1,5% no custo dos produtores. A isenção até o fim do ano foi vista como forma de atender a um pedido dos agricultores.
Para o setor, o acordo ajudou a salvar a safra deste ano. No entanto, a ideia de tributar os agrotóxicos a partir de 2020 está longe de ser ponto pacífico para lideranças do agronegócio.
Em entrevista após o encontro, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc), José Zeferino Pedrozo, afirmou que os produtores pretendem rediscutir o assunto em dezembro, na reunião do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz).
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A intenção ainda é defender a isenção dos defensivos ou, pelo menos, alíquotas iguais entre estados vizinhos. Outra esperança do agronegócio é de que a tributação sobre os agrotóxicos faça parte da Reforma Tributária, que começa a ser discutida no Congresso Nacional.
Estado vai apresentar proposta como modelo ao país em dezembro
Se por um lado o acordo desta quinta traz alívio para produtores sobre a próxima safra, a medida anunciada pelo governo pode ser apenas uma trégua na discussão. Isso porque em dezembro o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que reúne os secretários da Fazenda de todo o país, vai se reunir para discutir a renovação ou não do chamado Convênio 100, que estabelece normas nacionais sobre cobranças de ICMS desde 1997.
O secretário da Fazenda de SC, Paulo Eli, afirmou nesta quinta que essa tributação escalonada conforme a classificação toxicológica de cada agrotóxico é o modelo que o Estado pretende apresentar para aplicação nos demais Estados do país nessa discussão do Confaz.
Caso o modelo não seja aceito, o Estado cogita votar contra a renovação do convênio, que é o instrumento que permite que os Estados concedam reduções ou isenções no ICMS de agrotóxicos para os produtores internos e também prevê descontos para vendas interestaduais.
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Alíquota anularia corrida de produtores a outros Estados
Estabelecer as alíquotas de 0% e 4,8%, na visão do governo, evitaria um dos principais efeitos que o setor apresentou como reflexo do fim da isenção, que seria a corrida para compra dos chamados defensivos no Paraná e no Rio Grande do Sul.
Nesses Estados, o produto é isento de ICMS para produtores locais, mas para compras interestaduais prevê apenas um desconto, de 60% da alíquota padrão. Segundo o governo, isso resultaria em uma alíquota final próxima aos 4,8% que os produtores que utilizam agrotóxicos menos agressivos devem pagar a partir do próximo ano em SC.
Com o acordo dessa quinta, Moisés afirmou acreditar o que projeto de lei que pretendia estender ao final de agosto a isenção de agrotóxicos, que ainda aguardava sanção ou veto do governador, teria perdido o objeto. A situação de carnes, água mineral e outros produtos não foi discutida na reunião desta quinta.
Outros setores como os de cerâmica vermelha, trigo e café seriam incluídos no chamado “PL do Rescaldo”, que , segundo o secretário Paulo Eli ainda está sendo elaborado pelo governo. Ele inclui algumas áreas que ficaram de fora dos projetos anteriores que regulamentaram em lei incentivos fiscais concedidos pelo Estado.
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Tipo de produto FaixaAlíquota cheia*Alíquota para 2020
Produto extremamente tóxicoVermelha17% 17%
Produto altamente tóxicoVermelha17% 17%
Produto moderadamente tóxicoAmarela17% 12%
Produto pouco tóxicoAzul17% 7%
Produto improvável de causar danoAzul17% 4,8%
Produto biológico ou bioinsumoVerde17% 0%
* Até dezembro deste ano, a MP proposta pelo governo em acordo com o setor agrícola prevê que todos os agrotóxicos sejam isentos desta alíquota.
Estamos protegendo nosso produtor que já vendeu sua safra futura por um preço delimitado em janeiro, fevereiro, março. A mudança de regra em cima do laço pode trazer prejuízos que ele não consegue recuperar. Por isso essa flexibilização que o governo apresenta como regra de transição, por pleito inclusive dos setores representados".
Governador Carlos Moisés (PSL), após reunião com líderes do setor agropecuário.
O momento angustiante era agora. Até 31 de dezembro a safra se completa, e depois é outra situação. Torcemos para que o Confaz se manifeste. Ou Santa Catarina convence os demais estados, ou os demais Estados convencem Santa Catarina. Mas o que nós queremos é que haja um tratamento igualitário, tanto para os produtores catarinenses quanto para os do Brasil, mas principalmente igual entre os produtores do Paraná e Rio Grande do Sul"
José Zeferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc)
Não tem como reduzir, infelizmente. Temos uma agricultura industrial. No passado tirávamos 30 sacas por hectare e hoje tiramos mais de 200 sacas por hectare, graças ao uso dos defensivos".
José Zeferino Pedrozo.
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Vamos continuar trabalhando para que tenhamos produtos orgânicos para o consumidor, mas não podemos imaginar que dá para trocar a roda do carro com o carro andando”.
José Walter Dresch, presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura (Fetaesc)