Logo após o governo do Estado anunciar que o Hospital Infantil Doutor Jeser Amarante Faria, em Joinville, será pioneiro na realização do transplante de medula óssea autólogo – quando a medula utilizada é a do próprio paciente – em Santa Catarina.
Continua depois da publicidade
Apesar de o transplante autólogo ser uma exceção no combate a tumores malignos, por se tratar de um procedimento agressivo e invasivo, o oncologista pediátrico Gilberto Comaru Pasqualotto explica que o tratamento costuma ser feito em pacientes com tumores que respondem à quimioterapia, mas não da forma esperada, ou seja, 100%.
– Nos casos em que o paciente não tem resposta de 100%, o mais indicado é o transplante – esclarece o médico.
Conforme Pasqualotto, o transplante permite que a criança seja submetida a uma quimioterapia de superdosagem, que interrompe o ciclo de reprodução acelerada das células cancerígenas até que elas sejam extintas.
Continua depois da publicidade
Para que isso seja possível, é necessário retirar uma amostra significativa da medula óssea da criança antes que ela receba a aplicação da quimioterapia de alta dosagem. Cerca de três ou quatro dias depois do procedimento, essa medula é reinjetada no corpo do paciente e dá suporte para a recuperação da medula.

– Sem essa quantidade armazenada em laboratório, o paciente não suportaria o tratamento porque a exposição a essa quimioterapia de alta dosagem pode comprometer de tal forma o ciclo celular da medula que ela pode parar de fabricar os componentes do sangue – observa o oncologista.
Isso ocorre porque as células da medula, assim como as do cabelo e das mucosas, têm uma reprodução mais rápida, independentemente da exposição ou não aos medicamentos da químio, sendo mais facilmente afetadas pelo tratamento. Por isso, os pacientes que são submetidos ao transplante ficam com a imunidade baixa, devido ao atingimento da medula; podem sofrer queda de cabelo e perda de mucosa, ficando com a boca seca.
Continua depois da publicidade
– Produzimos sangue muito rapidamente. O principal efeito que o tratamento causa é na medula, por isso a quimioterapia (convencional) é feita em fases, para dar tempo de a medula se recuperar. Dessa forma, o efeito é limitado – afirma Pasqualotto.
:: Leia as últimas reportagens publicadas no A Notícia ::
Recuperação
Durante a recuperação do transplante, o oncologista pediátrico explica que a criança faz, diariamente, hemogramas, exame que aponta a quantidade de hemácias, leucócitos e plaquetas no sangue. É dessa forma que se avalia o nível de resposta ao tratamento.
Nos meses seguintes ao transplante, o paciente precisa ficar isolado em decorrência do alto risco de sangramento pelo baixo número de plaquetas e a imunidade extremamente baixa, por causa da falta de leucócitos.
Continua depois da publicidade
– Normalmente, as crianças necessitam de acompanhamento ambulatorial por seis meses.
Benefício dos serviços em SC
Para o oncologista pediátrico Gilberto Comaru Pasqualotto, o benefício de as crianças poderem fazer o transplante de medula óssea autólogo no Hospital Infantil Doutor Jeser Amarante Faria é evidente.
– Vai aumentar a chance de resposta dos pacientes ao tratamento porque eles não vão mais sofrer o desgaste de longos deslocamentos e ter de ficar por grandes períodos internados longe de boa parte da família – observa o médico.
O benefício também se estende aos oncologistas do Infantil, que vão desfrutar da nova estrutura, uma vez que, havendo o serviço no hospital, o planejamento do tratamento por parte dos médicos ficará muito mais fácil. E a proximidade também vai permitir aos oncologistas maior interação com os especialistas em transplante para alinhar melhor o tratamento.
Continua depois da publicidade
– O transplante também vai ajudar a alavancar outros serviços do hospital, como a hemoterapia, a nutrição e a enfermagem – prevê o médico.