O pacote de concessões anunciado pela prefeitura na semana passada tem um projeto que passou discretamente, mas que pode alterar de forma considerável a atividade econômica e ambiental em Blumenau. A proposta de utilizar resíduos sólidos para gerar energia elétrica ou combustível derivado de resíduos no município teve consultas de cerca de 50 empresas, entre brasileiras e internacionais. O potencial estimado é atrair R$ 150 milhões de investimentos privados e corte de custos para a administração municipal.
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Mas, afinal, como é possível transformar materiais que atualmente são problemas ambientais e econômicos em energia elétrica? Antônio Machado, gerente de tecnologia da Companhia de Gás de Santa Catarina (SCGás), explica que qualquer material orgânico isolado de oxigênio e decomposto por bactérias produz biogás, energia que pode ser utilizada como combustível em geradores:
— Os aterros sanitários geram biogás, pois esse processo ocorre naturalmente. Porém, na maioria das vezes essa energia do biogás não é aproveitada, com os materiais apenas sendo queimados para evitar a liberação de gases tóxicos na atmosfera.
A maior dificuldade para começar a produzir energia elétrica com resíduos sólidos é o custo dos equipamentos e as adequações nos aterros sanitários. Machado afirma que é necessário instalar tubos verticais para coletar o biogás e criar um sistema de purificação primária para remover compostos como silício e enxofre, além de reduzir a concentração de água.
Por fim, o material é levado para o gerador de energia da usina, onde estão os maiores equipamentos da construção. Machado destaca que o processo tem um sistema de combustão semelhante a um motor de carro, com a diferença de ter um alternador com dínamo na ponta para produzir a energia e ligação com a rede elétrica.
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O país é carente de energia elétrica e deve haver crescimento de demanda nos próximos anos, então nada mais animador do que poder tirar energia do próprio lixo. É algo que a princípio não teria uso nenhum, mas que pode criar uma grande oportunidade para o meio ambiente e a matriz energética.

Prefeitura planeja consultoria e prevê potencial de 7 MW
As possibilidades de transformar resíduos sólidos em energia ainda estão sendo avaliadas pela prefeitura de Blumenau. Uma das outras opções é gerar combustível derivado de resíduos a partir do lixo do município. Neste caso, uma das aplicações é utilizar a energia em fornos, caldeiras e usinas de atividades como a produção de cimento.
Outra alternativa disponível no mercado é produzir biometano, algo que exige o aumento do nível de purificação da matéria orgânica para que possa adquirir as mesmas características do gás natural. Essa energia pode que ser distribuída por tubulação subterrânea, como já é feito pela SCGás, para atender indústrias, residências, comércios e veículos.
Essa escolha será feita após um estudo para entender qual é o melhor modelo a ser aplicado. A administração municipal planeja contratar uma consultoria especializada em engenharia e energia para emitir relatórios técnicos e auxiliar no processo de decisão da tecnologia que deve ser utilizada no projeto.
O município também considera a possibilidade de abrir um procedimento de manifestação de interesse do projeto para receber as propostas de empresas com as tecnologias que estão disponíveis no mercado. Desta forma, a prefeitura pode avaliar os modelos que a iniciativa privada está disposta a investir em Blumenau.
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O secretário municipal de Turismo, Marcelo Greuel, um dos responsáveis pela elaboração do pacote de concessões, afirma que a prefeitura quer utilizar o aterro sanitário próximo ao trevo da Parada 1, no bairro Salto do Norte, para instalar a usina. O local foi desativado após recomendação do Ministério Público em 2004 por ter excedido a capacidade, sendo utilizado apenas como ponto de parada dos resíduos que serão despejados no aterro sanitário para onde o lixo é levado, em Brusque.
Queremos que a nova usina utilize a pilha de quase 30 metros de lixo que foi depositado ali há vários anos, até porque a maioria já está seco, o que pode facilitar na geração de energia. A partir disso, conseguiremos regenerar a área contaminada e começar a gerar energia. Mas o uso do local ainda depende da tecnologia que será utilizada no projeto.
Greuel conta que a prefeitura abriu várias frentes de trabalho para acelerar o processo e definir o modelo ideal para Blumenau, antecipando a possibilidade de gerar mais receitas e diminuir as despesas do governo. O secretário estima que o município tenha potencial de gerar sete megawatts por mês de energia utilizando os resíduos sólidos. Energia capaz de alimentar 6 mil unidades consumidoras, equivalente ao bairro Escola Agrícola, de acordo com a Celesc.

Projeto deve reduzir custos
A estimativa da prefeitura é que o projeto tem potencial para movimentar R$ 150 milhões em Blumenau, sem que seja necessário utilizar dinheiro do poder público. O cálculo leva em conta a instalação da usina, que exige investimento de aproximadamente R$ 90 milhões, e o repasse de parte da receita do lucro bruto da concessionária.
O corte de custos, estimado pela prefeitura em 20% a 22%, também está incluído na conta. O planejamento prevê economia na destinação dos resíduos, que deixariam de ser levados para Brusque, e na redução de custeio da energia elétrica dos prédios públicos — que podem passar a ser atendidos com a energia gerada pelo projeto.
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O benefício dessa usina é bastante grande para o morador de Blumenau, desde o ineditismo do projeto até os benefícios econômicos e ambientais. Iremos acabar com os lixões, poderemos regenerar áreas contaminadas e ainda teremos economia para o caixa da prefeitura.
Projeto semelhante funcionava em Itajaí

Há cinco anos, Itajaí inaugurou uma usina de médio porte no aterro sanitário da Canhanduba para gerar energia elétrica a partir de resíduos sólidos. O local transformava todos os dias cerca de 300 toneladas de lixo recebido de Itajaí e Balneário Camboriú em um megawatt para abastecer a rede elétrica instalada no município.
Entretanto, a usina está com as atividades paralisadas no momento. Conforme Eduardo Covas, presidente da Itajaí Biogás, responsável pela operação do projeto, o gerador teve problemas técnicos e a empresa está investindo em um novo equipamento para retomar a produção de energia. Nesse período, o empreendimento também teve mudanças societárias para ampliar o serviço.
— Interrompemos a operação por motivo de problemas técnicos com o equipamento de geração e desacordo comercial com a empresa fornecedora do equipamento. Reestruturamos técnica e financeiramente o projeto e estamos substituindo o gerador e ampliando a geração.
A previsão é que o serviço seja retomado no início de 2020 com a ampliação da capacidade da usina para 2,3 megawatts. Enquanto isso, a empresa está apenas queimando o biogás para não criar riscos ao meio ambiente e aos funcionários que trabalham no aterro.
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