Há mais de 40 anos, a Associação Americana de Psiquiatria retirou a homossexualidade de sua lista de doenças. Em 1998, a mesma organização posicionou-se contra “qualquer tratamento psiquiátrico de ‘reparação’ ou ‘conversão’” de gays, como já fizera a Associação Americana de Psicologia. Ainda assim, o presidente americano Barack Obama teve de ir a público nesta semana fazer um discurso contra a chamada “cura gay“. Em nota, a Casa Branca confirmou que “apoia os esforços para proibir o uso de tratamentos de conversão em menores”.

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Tudo isso por causa da morte de Leelah Alcorn, uma transgênero que se suicidou em dezembro de 2014, após ser submetida pelos pais a uma terapia do tipo. Na nota que escreveu antes de se atirar em frente a um ônibus, Leelah disse que se sentia “uma garota presa no corpo de um garoto”. O fato reacendeu um debate que foi tema de calorosas discussões no Brasil em 2013: a cura gay.

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Se nos Estados Unidos a situação é diferente em cada estado e o debate se dá mais em torno da possibilidade ou não de tratamento em crianças, no Brasil é tudo mais claro: desde 1999, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), que rege a atuação de psicólogos no Brasil, determina que “os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados”.

Ou seja, a cura gay é proibida.

– Considerar cura gay implica em dizer que a homossexualidade é uma doença. E isso não é considerado dessa forma. A psicologia deve trabalhar no sentido do autoconhecimento, da aceitação, do desenvolvimento do ser humano – explica Sonia Martins Sebenelo, presidente da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul (SPRGS).

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Favas contadas para médicos e psicólogos, o assunto volta à tona com religiosos. Foi assim no Brasil, quando o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) tornou-se presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e quis derrubar a decisão do CFP, é assim também nos Estados Unidos. Por lá, o que falta é a federalização das normas – nos Estados Unidos, os estados têm muito mais autonomia para estipular leis e regras próprias, diferentes entre si. Califórnia, Nova Jersey e Columbia proibiram as terapias de conversão em menores. Desde 2014, outros 18 estados também introduziram regras semelhantes em suas legislações.

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Agora, Obama dá pinta de que o assunto pode virar regra no país inteiro.

– O ser humano não é o que nós queremos, ele é parte dessa diversidade. Nós acabamos nos moldando, enquanto sociedade, em direção ao que é o nosso ideal pessoal. Mas entre o ideal e o real há um abismo, com diversas variáveis, diversas categorias, que algumas pessoas têm dificuldade em aceitar. O grande problema, que deve ser tratado, é a maneira como a sociedade se relaciona com essas questões – avalia Sonia.