A enchente que atinge o norte e noroeste do Rio Grande do Sul e o oeste catarinense – a maior em 30 anos na região – é causada pela retenção da umidade vinda da Amazônia. Conforme a Somar Meteorologia, há um bloqueio atmosférico que faz com que uma frente fria não se desloque da Região Sul. Por causa disso, ela represa a umidade e forma grandes precipitações.

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– Quando o vento sai de uma direção e vai para outra, leva uma parcela de ar até um local com condições diferentes. As florestas transpiram e geram umidade e calor para o ar ao redor. Como ele é mais quente e leve, sobe para níveis mais altos da atmosfera. Os ventos chamados correntes de jato distribuem esse ar quente e úmido pela América do Sul, como se fossem rios. Durante o processo, podem levar o vapor de água ou instabilidades e nuvens carregadas – explica a meteorologista Patrícia Vieira.

Segundo ela, o caminho normal da corrente de vento é se formar na Argentina, beirar a costa da América do Sul, passar pelo Uruguai e toda a região Sul do Brasil e seguir em direção a São Paulo e Bahia. Porém, quando o vento sopra na direção contrária – o que está acontecendo no Rio Grande do Sul e Santa Catarina -, ele bloqueia a frente fria, que fica estagnada.

– E quando passa uma frente fria, que é um sistema que está perturbando de certo modo a atmosfera local, ela acaba procurando um “alimento” para continuar atuando. Pode conseguir este alimento, no caso a umidade, tanto do oceano como do fluxo de umidade da Amazônia. O jato subtropical que está fazendo o tal bloqueio também é responsável por um fenômeno conhecido dos gaúchos: o dos azulejos sorando. Quando a umidade fica bem alta a ponto das paredes verterem água, provavelmente estamos com a corrente de jato levando umidade extra – complementa Patrícia.

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A situação é agravada pelo grande volume de chuva nos leitos de rios que compõem a bacia do Uruguai em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Com o passar dos dias, o volume de água que se acumula nos rios da bacia hidrográfica deságua no Uruguai, aumentando o nível do rio na divisa entre os dois Estados.

– A bacia do rio tem um limite. Até uma altura de Santa Catarina, tudo escoa para o Rio Uruguai, como acontece também em uma área do Rio Grande do Sul. O rio é receptor em uma área muito grande, que começa na Serra gaúcha, no Rio Pelotas, Rio Canoas, Rio do Peixe e outros rios em Santa Catarina – explica o geólogo Antônio Pedro Viero, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

A maior cheia dos últimos 30 anos

A enchente que atinge o norte e noroeste do Rio Grande do Sul e o oeste catarinense já é a maior em 30 anos na região. No Estado, mais de 3 mil pessoas já tiveram de deixar suas casas e 39 municípios enfrentam transtornos em função da chuvas.

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Em Iraí, o nível do Rio Uruguai atinge 12 metros acima do normal, pouco abaixo dos 13 metros registrados em 1983 – a pior cheia já documentada na área. Em Porto Mauá, o rio chegou a 17,30 metros e, devido à elevação de 15 a 20 centímetros por hora, a previsão é que o nível ultrapasse os 21 metros no município no sábado. Caso isso ocorra, será superada na cidade também a enchente de 1983, quando o Uruguai alcançou 20,70 metros.

– Como a previsão de chuva continua para as próximas 24 horas, provavelmente teremos em cidades como Iraí e Porto Xavier o aumento do nível ainda superior a hoje, passando mais de 18 metros. Com certeza, as cidades que estão mais para baixo serão atingidas – alerta o geólogo e engenheiro João Manuel Trindade Silva, coordenador do monitoramento de rios da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema).

A enchente provoca o bloqueio das principais ligações entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Travessias de balsa na fronteira com a Argentina foram suspensas.

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– O grande problema agora é o atendimento às pessoas, aos desabrigados. Os outros danos serão avaliados posteriormente, como estragos em pontes e estradas. Os municípios de Uruguaiana, São Borja e Quaraí já estão em alerta no sentido de que se preparem para a cheia do Rio Uruguai – diz o coordenador da Defesa Civil do Estado, coronel Oscar Luis Moiano.

Até o momento, nenhum município encaminhou pedido ao órgão para decretar situação de emergência – o que deve ocorrer nas próximas horas. Conforme a regional da Defesa Civil de Passo Fundo, há pelo menos 25 famílias ilhadas nas áreas rurais dos municípios de Marcelino Ramos, Nonoai e São José do Ouro.