A ginasta norte-americana Simone Biles deixou as Olimpíadas de Tóquio na manhã desta quarta-feira (28), um dia antes de disputar a final da competição. A decisão, de acordo com a federação de ginástica dos Estados Unidos, foi feita porque a atleta está com a saúde mental abalada e precisa se cuidar no momento.

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O desgaste emocional por conta do trabalho tem um nome, segundo a psicóloga Alessandra Fischer, especialista em saúde mental. O distúrbio emocional causado pela exaustão extrema no meio profissional é chamado de Síndrome de Burnout e pode acontecer quando há muita cobrança, pressão e competitividade no trabalho.

– Preciso me concentrar no meu bem-estar, há vida além da ginástica. Esses Jogos Olímpicos têm sido muito estressantes… Uma longa semana, um longo ciclo olímpico e um longo ano – disse Biles na coletiva de imprensa após a desistência.

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A intensidade da pressão, os excessos de treinamentos e a exigência em “ser sempre bom” na profissão podem afetar a saúde mental do profissional, de acordo com Alessandra.

– Nos Estados Unidos, os atletas são exigidos a serem o melhor. Então, no caso dela, existia a pressão de ser referência mundial na ginástica, representando o país, e ainda uma exaustão física – comentou a especialista.

De acordo com a psicóloga, essa exaustão do trabalho pode acontecer vinda de uma frustração e uma cobrança muito grande por parte do profissional.

– A pandemia foi adiada para 2021, então provavelmente o sentimento dela tenha sido, em 2020, que ela ainda precisaria treinar muito mais para chegar nas Olimpíadas. É um sentimento de “desvalorização” depois de muito treino e uma falta de realização em comparação a todas as horas de treinamento – explicou.

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Simone é considerada a maior ginasta da história dos Estados Unidos e tem 24 anos. 

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– A cobrança de ganhar uma medalha tira o glamour do esporte. Eles ficam em cima de metas, números e resultados e isso gera um estresse e uma angústia para o atleta – comenta Alessandra.

Os sintomas, segundo a psicóloga, começam a se apresentar depois de um longo tempo de muita exigência tanto do próprio profissional quanto de pessoas externas. Para que essa frustração não aconteça, é necessário que o atleta ou qualquer outro profissional tire tempo para fazer algo que goste além do esporte.

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– É preciso se cobrar menos. Claro que isso depende também do treinador e da equipe técnica, no caso do esporte, e estamos em um momento atípico que é a pandemia.

Coragem

Falar de saúde mental ainda é um tabu e, segundo Alessandra, a decisão de Simone é importante para todo o mundo:

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– A atleta se mostrou vulnerável, e isso mostra pra nós que todos podemos passar por situações difíceis. Somos humanos e precisamos procurar ajuda. 

A coragem da ginasta impressiona a todos. De acordo com a psicóloga, é importante perceber quando é necessário dar um tempo e parar.

– O corpo sinaliza. É preciso descansar para depois retornar, isso não é demérito ou fracasso. Pelo contrário, a pessoa é forte o bastante para perceber que precisa se cuidar – afirma.

Sintomas de Síndrome de Burnout

Há uma série de razões para que a Síndrome de Burnout apareça e os sintomas podem ser vários, de acordo com Alessandra. Um dos primeiros sinais de que algo está errado é quando o indivíduo não consegue mais se divertir com o que antes trazia satisfação.

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Porém, os reflexos podem se apresentar por meio de outros sintomas, como alterações no sono e apetite, cansaço extremo e explosões de raiva.

Como prevenir

Com o mundo mais acelerado, as tarefas têm tido prazos específicos, e muitas vezes curtos, para serem entregues. Tanto no esporte quanto em qualquer outra profissão, a psicóloga orienta que é preciso priorizar a saúde mental em qualquer momento e tirar alguns minutos do dia para realizar alguma atividade que dá prazer:

– Um filme, um banho mais demorado. Algo que recarregue as energias. 

*Sob supervisão de Vinícius Dias.

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