No mapa da disputa à presidência da República, o vermelho do PT se destaca na parte superior do território, sobretudo no Nordeste. Foi lá que Dilma Rousseff (PT) venceu Aécio Neves (PSDB) com uma vantagem de 12 milhões de votos. Em discussões pós-eleição – a mais acirrada desde 1989 – e postagens nas redes sociais, a região é apontada como fiel da balança. Mas, de fato, foram os nordestinos que decidiram o pleito?

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Segundo especialistas, os votos conquistados lá pela candidata à reeleição são vistos como importantes para o resultado final, mas não como a única razão para estender por mais quatro anos o governo petista. Até porque, em números absolutos, a votação da presidente no Sudeste – onde teve vitórias em dois dos quatro Estados – foi semelhante (300 mil a menos).

– No Nordeste é que Dilma teve uma vantagem bem maior sobre Aécio. Contribuiu, mas não foi só isso. No Sudeste, Dilma ganhou em Minas Gerais e no Rio de Janeiro (segundo e terceiro maiores colégios eleitorais). Se Aécio tivesse vencido em seu Estado (foram mais de 11 milhões de votantes), poderia ter ganhado a eleição – analisa o cientista político Pedro Fassoni Arruda, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP).

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O PT não fez menos de 60% dos votos em nenhum Estado nordestino. No Maranhão, o índice foi de 78,76%. No Piauí, chegou a 78,30%. O local em que o tucano teve maior vantagem sobre a rival foi Santa Catarina, com percentual bem inferior: 64,59%.

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Jorge Almeida, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), elenca uma série de fatores que manterão Dilma no Palácio do Planalto, como a ação mais forte do Estado a partir do governo Lula, o desenvolvimento de programas sociais e o uso da máquina pública ao longo da campanha eleitoral.

– Essa votação de Dilma no Nordeste já era esperada. A partir de 2006, as candidaturas do PT vêm sistematicamente tendo votação maior na região. E, no Norte, também foi bastante significativa – afirma Almeida, que atua no Departamento de Ciência Política e no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da instituição.

Docente do mestrado em Economia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Cícero Péricles Carvalho diz que os governos Lula e Dilma não fizeram políticas especificas para a região. As políticas de inclusão, porém, atingiram em cheio o Nordeste porque é lá que está grande parte da população pobre do país. Carvalho não cita o Bolsa Família como o maior propulsor da mudança, mas sim a Previdência, com o aumento do salário mínimo influenciando em pensões e aposentadorias. Também diz que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que não é nordestino, geram dinâmica na construção civil, no consumo e na geração de empregos em cidades carentes de investimento.

– De 19 milhões de famílias nordestinas, 8,5 milhões recebem previdência social e 6 milhões recebem o Bolsa Família. Essa renda toda gera um fenômeno do consumo – explica o economista. – Existe um processo que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) vem estudando que é a chamada migração de retorno. Desde os anos 2000, o número de nordestinos que voltam de São Paulo para o Nordeste é sempre maior do que os que migram para lá – acrescenta.

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OAB repudia mensagens preconceituosas

Uma onda de manifestações discriminando nordestinos se espalhou pelas redes sociais após a vitória de Dilma. As mensagens preconceituosas foram repudiadas, nesta segunda-feira, pela Ordem dos Advogados do Brasil. A OAB afirmou que “repudia de forma veemente essas manifestações, contrárias ao conceito exposto na Carta Maior da construção de uma sociedade justa, solidária e fraterna”.

– O Brasil é uma nação plural, tolerante e respeitosa. Essas manifestações preconceituosas contra nordestinos advêm de uma minoria e merecem ser repudiadas pela sociedade brasileira – salientou o presidente nacional da Ordem, Marcus Vinicius Furtado Coêlho.

*Zero Hora