Nos últimos capítulos de A Vida da Gente, novela das seis da TV Globo que termina nesta sexta-feira, a pequena Júlia (Jesuela Moro) lutou contra um tipo raro de hepatite, curável somente com o transplante de fígado. A doença foi identificada porque a menina se mostrava muito cansada, com enjoos, pouca disposição para comer, estudar e brincar. Depois de uma série de exames, a gravidade do quadro foi diagnosticada.
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A hepatologista pediátrica Sandra Vieira, coordenadora do Programa de Transplante Hepático Infantil do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, explica que a raridade da doença da personagem está na evolução da inflamação do fígado. Em crianças, o tipo mais comum de hepatite é o A, transmitido por vírus através do consumo de alimentos ou água contaminada, por exemplo.
Na maior parte dos casos, a doença evolui para a cura, mas em 0,5 a 1% das ocorrências a infecção pode gerar a chamada hepatite fulminante ou inflamação hepática aguda. Quando não é possível encontrar a causa da complicação (se hepatite A, B, C ou E), é chamada de hepatite aguda idiopática (de causa desconhecida). Seria esse o caso de Júlia. A única esperança para o tratamento, como mostra a novela, é o transplante de fígado – na trama, uma parte do órgão de Manu (Marjorie Estiano), tia da menina e mãe de criação.
– A abordagem desse tema na novela desmistifica que a hepatite em crianças é sempre benigna e coloca a problemática do transplante – avalia a médica.
RS tem poucos doadores
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Outro fator comemorado pela especialista é o fato de a novela se passar no Rio Grande do Sul, onde o número de doações de órgãos é um dos mais baixos do país. No caso da hepatologia pediátrica, o que minimiza o problema é a possibilidade de transplante intervivos, como o realizado em A Vida da Gente. De acordo com Sandra, esse tipo de procedimento evita que o paciente fique na fila de espera por um órgão, a não ser em casos gravíssimos, que passam a ser prioritários no cadastro nacional de doações.
– O transplante intervivos pode ser planejado e reduz o tempo que o órgão fica fora do corpo, diferentemente de quando ele é retirado de um doador falecido. Esse tempo de transporte do órgão, que às vezes cruza o país, pode dificultar o funcionamento inicial depois de implantado – explica.
No Hospital de Clínicas, 10% dos transplantes realizados no Programa de Transplante Hepático Infantil são de casos idênticos ao de Júlia, desses, 40% evoluíram de uma hepatite A. De 10 transplantes realizados, três foram intervivos.
Além de crianças, idosos também estão mais expostos à contaminação por hepatite A e suas complicações. As hepatites B e C, transmitidas sexualmente, por transfusão de sangue ou compartilhamento de seringas no uso de drogas injetáveis são mais comuns na idade adulta.
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