A Venezuela vive uma crise após Nicolás Maduro ser declarado reeleito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país, na madrugada de segunda-feira (29). O chavista foi anunciado vencedor com 51,2% dos votos, mas a oposição alega fraude e contesta os resultados, afirmando que Edmundo González teria vencido com uma margem significativa. Paralelamente, a comunidade internacional cobra mais transparência na divulgação do resultado.
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Nesta terça (30), a Organização dos Estados Americanos (OEA) informou que não reconhece a vitória de Nicolás Maduro e afirmou haver indícios de que o governo distorceu o resultado. A organização se soma às autoridades de vários países que cobram acesso a dados das atas eleitorais — que são como os nossos boletins eleitorais e registram a quantidade de votos em cada seção eleitoral.
— Esses dados não estão sendo disponibilizados e, portanto, não podem ser conferidos pela oposição e pelos observadores internacionais que estão em território venezuelano, o Centro Carter e as Nações Unidas — explica a professora de Política Internacional e Segurança na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Danielle Ayres.
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Posição do Brasil na crise
O governo brasileiro adotou posição cautelosa em relação à crise. Em nota divulgada na segunda (29), o Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou que “acompanha com atenção o processo de apuração” das eleições e que vai aguardar a publicação dos “dados desagregados” pelo CNE, “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.
— O Brasil faz força, tem interesse e respeita um processo eleitoral democrático justo, limpo e transparente. Como não tem um resultado capaz de ser verificável, então o Brasil não pode tomar uma posição dizendo que o Maduro ganhou, mas também não tem nenhuma clareza sobre o que houve do ponto de vista de fraude, e não pode dizer que houve fraude. O que o governo pode dizer é que, desta forma, não dá para legitimar o pleito — pontua a professora da UFSC.
Manter um diálogo com o governo de Maduro também é do interesse do Brasil, que faz fronteira com a Venezuela e que, enquanto principal líder na América do Sul, precisa manter a capacidade de mediar possíveis conflitos decorrentes da crise eleitoral.
— A posição de cautela do Brasil é muito louvável. É a posição de um país que está se colocando acima de qualquer relação direta que tenha com Maduro, que está se colocando com uma neutralidade e como um observador muito importante na região — avalia.
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Quais os cenários possíveis
Apesar das contestações internacionais, o controle do processo eleitoral na Venezuela está nas mãos da CNE e da burocracia pública interna, segundo a professora. Uma intervenção é improvável, mas há pressões externas possíveis, como a imposição de sanções, o isolamento político e o fechamento de fronteiras com o país.
— Há muitas pressões que podem ser feitas. Mas nenhuma delas me parece suficiente para fazer Maduro pensar em largar o cargo. Ele já mostrou claramente que tem um comportamento ditatorial, autoritário e que esse tipo de pressão não é relevante se ele tem o controle interno das forças públicas de segurança — diz a professora.
Enquanto isso, a tensão política continua a crescer na Venezuela, com a oposição prometendo intensificar os protestos. Desde que Maduro foi anunciado reeleito, manifestações eclodiram em várias cidades do país, exigindo a renúncia do presidente e a realização de novas eleições.
— Com o controle das polícias e do exército, o Maduro consegue reprimir manifestações. Então nós vamos ter que acompanhar essas manifestações dia após dia. Se tiverem um peso e volume muito grande, pode ser que a repressão de alguma forma não ocorra com o sucesso que o Maduro espera. Mas tudo ainda é nebuloso — diz ela.
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