Uma festa de aniversário de uma prima abrandou a ansiedade dos irmãos Vítor, seis anos, e Diego, dois anos, no último domingo. Enquanto brincavam na piscina de bolinhas e se deliciavam com docinhos, os dois escapavam por instantes da diversão e perguntavam para o pai como estava o placar do jogo do Grêmio. O mais velho, um apaixonado colorado, queria ver a vitória do time, mas não estava torcendo pelos gremistas – requisito necessário na etapa final do campeonato para dar ao Inter o título brasileiro.

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– Eu sabia que o Inter perderia o campeonato, então estava torcendo pelo Flamengo – explica.

Além do amor pelo time e de querer a vitória, Vítor precisa saber lidar com as brincadeiras de parte da família – especialmente da tia, a estudante de Psicologia Paula Daniele Assmann, que insiste em converter os meninos em gremistas. Aí é preciso também saber perder.

– Já aconteceu de ele ficar nervoso. Com muita conversa resolvemos a situação. Esporte é para divertir, e não para sofrer – afirma a mãe dos guris, a psicóloga Flávia Assmann Castro.

Lidar com perdas e ganhos é essencial para o crescimento das crianças. Aprender a perder não é diferente de saber dividir coisas com o irmão, deixar a mamadeira, aprender a aceitar a atenção que a mãe dá para os outros.

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– Estamos sempre perdendo. O jogo é mais uma dessas perdas, e a criança precisa ter tolerância – diz Flávia.

Para a psicoterapeuta Nádia Maria Marques, professora da faculdade de Psicologia da PUCRS e mestre em psicologia clínica, o processo de aprendizagem começa quando os pais aprendem a dizer não aos filhos, aceitando a reação deles. Assim, as crianças vão, aos poucos, entendendo a situação.

– Enfrentar a frustração é uma oportunidade de encontrar outros recursos e possibilidades de satisfação. Sem limites, a criança não aprende a tolerar a frustração – afirma Nádia.

Além disso, a família não pode encarar a derrota como algo negativo.

– Mostre para a criança que só existe um primeiro lugar – explica a psicóloga Denise Happert Saraiva.

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Perder é fundamental

:: Aprender a perder não é tarefa fácil para pais ou filhos. A questão surge inúmeras vezes ao longo da vida – desde que o bebê desmama – e faz parte de um processo de crescimento e amadurecimento de toda a família. Os pais devem ser firmes para ajudar as crianças a superar a decepção e para não sofrer junto com os pequenos.

:: Querer vencer é algo positivo, funciona como desafio para melhorar sempre, seja nos esportes ou na vida escolar. Mas competição saudável é aquela em que o resultado não é encarado como uma obrigação.

:: Em competições, a criança e o adolescente devem demonstrar interesse e ter espírito competitivo. Inseri-los em um grupo que compete em esportes, por exemplo, pode ser a oportunidade para ampliar amizades e propiciar o contato com pessoas de todas as classes, além de ser um exercício que ensina a ganhar e perder.

:: Pais e professores não devem criar expectativas sobre os resultados, pois a competição deve ser usada na formação do caráter dos pequenos e não como uma maneira de superar frustrações da família. No caso dos esportes, os pais ainda devem se preocupar em conhecer a modalidade e saber como o treinador trabalha.

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:: Quem não aprende a perder corre o risco de ter imaturidade psicológica na construção da personalidade. Saber suportar frustrações é uma construção para a idade adulta. Do contrário, vai se tornar um adulto frustrado, sempre insatisfeito, sempre buscando coisas que nunca atinge.

Fontes: Denise Happert Saraiva, psicóloga, Flávia Ciane Assmann Castro, psicóloga escolar, e Nádia Maria Marques, psicoterapeuta