A rotina endurece o espírito, cega o olhar e enterra as novidades no buraco do lugar-comum. Transforma o colorido em preto e branco. Milhares de pessoas circulam diariamente pelo Centro de Florianópolis, mas quantas dessas têm uma foto sob a centenária figueira? Quantas sabem que na sacada do meio do palácio rosa um ditador discursou sob vaias do povo? Quantas sabem que é um palácio?
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Diariamente, as vielas do Centro transbordam história, transpiram conhecimento, latejam curiosidades e expelem criatividade. Tudo ali em algumas quadras, cercando os passos acelerados, as mentes distantes. Por sorte, há quem saiba aproveitar a beleza às vezes ignorada.
– Moro em Palhoça e vou pegar o meu filho na escolinha daqui a pouco no Centro de Floripa. Enquanto aguardo, gosto de ler o jornal aqui na Praça XV. Um lugar de sossego no meio da correria. É muito aconchegante – indicou o confeiteiro Vitor Meiato, de 40 anos, sombreado pelos braços da figueira de 120 anos (há quem afirme que tenha 140).
Os olhos vindos de terras longínquas e sedentos por novidades, ou seja, olhos de turista, também não passam indiferentes pelo casario na Rua Felipe Schmidt, pela velha Catedral, no Palácio Cruz e Sousa, pelo Largo da Alfândega, no Mercado Público.
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– Em todos os lugares para onde viajo sempre procuro o Mercado Público do local. Sei que nele vou encontrar coisas nativas e aprender mais sobre a cultura. Por isso, trouxe a minha família aqui hoje – destacou José Estanislau, de 41 anos, de Limeira (SP).
Por trás das edificações
Os prédios históricos oferecem muito mais que as rústicas fachadas. Atrás das antigas paredes, escondem-se figuras lendárias, testemunhas oculares da história, enciclopédias humanas. Pessoas que deveriam entrar na rota dos pontos turísticos. Alvim Espinoza, de 69 anos, desde os 19 anos acompanha o dia-a-dia no Mercado Público da Capital. O espaço onde atualmente funciona o bar do Alvim pertence à família há 51 anos.
O dono do bar carrega na memória o que não é possível “enlatar” nos livros didáticos: a história oral. Um conhecimento singular tão importante como saber quem descobriu o Brasil.
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– Já vi tudo aqui nesses 51 anos. História é o que não falta para contar – brincou Alvim.