Enchentes, furacões, calor extremo e outros fenômenos climáticos nada agradáveis. Prepare-se: cada vez mais, eles virão para ficar. Será porque os governos das nações ricas e em desenvolvimento insistem em não chegar a um acordo efetivo para frear as emissões de dióxido de carbono – produto da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento. Enredados em desculpas políticas e econômicas, os países agora correm o risco de não renovar o Protocolo de Kyoto, pacto criado para diminuir a poluição e que se encerra no final deste ano. A discussão do momento ocorre na COP-18, conferência das Nações Unidas com fim na sexta-feira, em Doha, no Catar.
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O jogo de empurra ocorre logo na semana em que foram divulgados dados alarmantes sobre as emissões no planeta. Segundo o Global Carbon Project, da Universidade de East Anglia, na Grã-Bretanha, desde 1990 houve 58% de aumento no volume de combustíveis fósseis na atmosfera – e 2012 deverá registrar novo recorde, com 35,6 bilhões de toneladas.
Confira mais análises sobre o Protocolo de Kyoto no blog de Rodrigo Lopes
Ou seja: parece improvável cumprir o objetivo de restringir em 2ºC o aumento da temperatura global até 2050. Até porque, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, seria preciso atingir, em 2050, redução de 80% nos gases de efeito estufa.
– Como as emissões seguem crescendo, é como se ninguém escutasse a comunidade científica – afirma a responsável pela publicação do Global Carbon Project, Corine Lé Quéré.
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Crise bloqueia investimentos
O desabafo da cientista à imprensa internacional ecoa no Greenpeace. Diretor de Políticas Públicas do órgão no Brasil, Sérgio Leitão cita fenômenos climáticos cada vez mais frequentes – o devastador furacão Sandy, nos EUA, e as secas e chuvas no Brasil. Os prejuízos materiais custam dinheiro, ponto que trava qualquer negociação.
Conforme o professor Pedro Paulo Funari, especialista em Relações Internacionais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a crise econômica envolvendo Estados Unidos e União Europeia bloqueia investimentos em matrizes energéticas renováveis. Como os mais ricos não querem gastar com sustentabilidade, os países em desenvolvimento se sentem no direito de fazer o mesmo. Basta ver o exemplo da China, locomotiva movida a carbono, maior responsável pelo salto de emissões deste ano.
– Investimentos em fontes alternativas têm de ser atrativos – diz Funari.
Por isso, ele é realista ao acreditar em fracasso na COP-18. Só vê perspectivas de mudanças em um prazo de cinco a 10 anos se a situação econômica mundial melhorar. Sérgio Leitão, do Greenpeace Brasil, acha possível avançar em curto prazo se houver uma conscientização quanto à divisão de responsabilidades. Para ele, falta “senso de urgência” ao Brasil.
– O Brasil tem responsabilidade pelo desmatamento e passará a ter pela energia – opina.
Culpados à parte, a única certeza é de que todos pagarão a conta de um clima cada vez mais severo.