O agricultor Afonso Furlan e o engenheiro agrônomo Wilibaldo de Souza têm algo em comum: os dois são apaixonados pelas árvores. Enquanto Afonso se dedica a plantios no quintal de casa, Wilibaldo é um estudioso do assunto. Por mais de quatro décadas, ele trabalhou em órgãos ambientais, tornando-se um especialista no que diz respeito às plantas.

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Neste dia dedicado às árvores, o AN Verde promoveu um encontro entre os dois para que cada um contasse as suas histórias e experiência. Confira o que rolou neste bate-papo informal e descontraído.

O pomar de Afonso

O agricultor Afonso Furlan gosta de capinar todos os dias. Pisar no quintal da casa dele é como caminhar sobre travesseiros. Uma maciez de pura teimosia. Isso porque a natureza do terreno é empossar toda a água que entra, fazendo lama. Se o agricultor que nasceu no Rio Grande do Sul encerrou a carreira na lavoura, na terra, ainda não. Quem perguntar se o que ele mais gosta é de cuidar das árvores, Afonso responderá afirmativamente três vezes.

– Aham, sim, uhum – simplifica o agricultor, que cita as mesmas palavras para autorizar a visita do engenheiro Wilibaldo de Souza.

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O pomar que Afonso tem em casa é para puro deleite. São árvores frutíferas de todos os tipos e tamanhos: pitangueira, laranjeira, mangueira e pessegueiro. A preferido, no entanto, é a de tangerina.

– Às vezes, eu comia muito e nem queria almoçar. Gosto muito de frutas e, por isso, planto árvores.

Ele tem também um pé de café no quintal que “é só pra bonito”. Mostrar as árvores plantadas às pessoas é motivo de orgulho. O agricultor de 64 anos, morador do bairro Paranaguamirim, compra as mudas sempre no início no mês e por telefone. Não gosta de ir até a floricultura e pede para que as entregas sejam feitas na sua casa.

As atendentes Danieli Martins e Daniela Serafim já se acostumaram com as exigências de Afonso. As mudas são levadas por um entregador que, ao chegar ao local, não sai de lá sem receber uma apresentação informal das árvores.

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De tão reservado que é, as atendentes conhecem apenas a voz do aposentado. Do pouco que sabem, afirmam que Afonso é um homem simpático e aparentemente bastante desconfiado. Tanto que, para fazer o cadastro na loja, foi preciso insistir muito. Até com os familiares de Afonso elas precisaram conversar para concluir o cadastro.

Gaúcho de nascimento, Afonso é solteiro, não tem filhos e aprendeu a admirar as plantas com os ensinamentos do pai, Fernando Furlan, e do tio, Henrique Furlan. Amigos também deram uma força para estimular o aprendizado com as plantas. Um exemplo é o truque da telha na cova das árvores. Como em Joinville chove muito, as árvores ficam protegidas pela telha e não ficam debaixo d?água.

A dedicação de Wilibaldo

O jardim que o engenheiro florestal Wilibaldo de Souza, 70 anos, mantém ao redor de casa, no bairro Saguaçu, é uma forma de homenagear a sua esposa, Doraci de Souza, que adorava estar dentro ou perto de um mato.

– Éramos dois pica-paus felizes – diz Wilibaldo, ao lembrar da ave-símbolo da engenharia florestal, com saudade do tempo em que a mulher não precisava da cadeira de rodas.

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Espelhadas pelos canteiros, Wilibaldo cultiva plantas de pequeno e médio porte em casa. A maior delas é uma jacatirão de jardim, que atinge os dois metros de altura. A muda do Olandi, que ele ganhou no dia em que foi aposentado compulsoriamente, em maio deste ano, não será plantada em sua própria casa.

O olandi é uma árvore que pode chegar facilmente aos 20 metros de altura e ocupar uma área de 30 metros quadrados.

Wilibaldo usa a técnica que aprendeu na profissão para distinguir o tamanho das plantas e o espaço que elas necessitam para se desenvolver. Para ele, pensar que as árvores são meros objetos é uma visão equivocada.

Após trabalhar 45 anos com reflorestamento em seis Estados brasileiros, Wilibaldo não tem ideia do número de árvores que plantou ou ajudou plantar, mas ele sabe a importância que elas têm e pede para que as pessoas as olhem com responsabilidade.

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– Se eu olho para uma árvore, olho pra um ser vivo que tem necessidades de alimentação, de cuidados especiais contra doenças ou ataques de formiga.

Todos os dias, Wilibaldo rega as plantas do jardim de casa quando o sol abranda. Além de dar água no horário adequado, o engenheiro conversa com elas. Se ele percebe qualquer tom de amarelo nas folhas que deveriam verdejar, faz o que for preciso e até muda de lugar a planta. Aposentado de suas funções da Fundação do Meio Ambiente de Joinville (Fundema), o engenheiro se diz um defensor das árvores. Por conta disso, já comprou brigas e fez pessoas mudarem projetos.

– Sempre que eu posso, vou salvar uma árvore para que ela permaneça viva e com saúde. Isso já me causou muitos problemas, por não ser compreendido.

A diretora da Fundema, Raquel Migliorini, é uma das herdeiras dos ensinamentos de Wilibaldo. Ela conta que o ex-colega de trabalho sempre preocupou-se em transmitir a mensagem de “sentimento de respeito pelo ser árvore”. Cada membro da equipe de Raquel sabe disso e tem um pouco desse espírito de preservação. Sentimento preservado mesmo após a aposentadoria do engenheiro.

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– Olhando para uma árvore, meu sentimento sempre foi esse. É uma diferenciação que levei para a Fundema – diz Wilibaldo.

Das divergências ao aprendizado

Ao chegar à casa de Afonso, Wilibaldo olhou para as árvores plantadas pelo agricultor e identificou alguns problemas. As flores e o verde das folhas do pessegueiro eram sinal de que a planta não estava bem. O engenheiro explicou que a árvore frutífera de dois anos estaria com uma floração muito precoce e os pêssegos não vingariam.

– Pode ter certeza de que desse jeito não segura nenhum fruto – sentenciou o engenheiro.

Wilibaldo explicou que as plantas são inteligentes e tentam se perpetuar antes de morrer. Por isso, as florações são tão intensas em plantas jovens.

Com um olhar de espanto, Afonso disse que começou a preparar a terra para plantio em sua casa há cinco anos. Cada árvore no terreno dele tem no máximo três anos e elas ainda não ultrapassaram os dois metros de altura. Apenas uma mangueira reina no terreno. É a mais alta e frondosa, mas ainda não deu frutos.

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Wilibaldo também considerou o terreno de Afonso muito úmido, quase um “brejo”. Diante desta contatação, o agricultor arregalou os olhos claros e pediu alguns conselhos. Wilibaldo deu algumas dicas para reverter o quadro e Afonso ouviu atentamente. Aprendeu a identificar alguns sinais das plantas e que as florações abundantes nem sempre são positivas. A sugestão do engenheiro florestal para resolver definitivamente o problema é aterrar o terreno ou cobrir as raízes de terra.

– Elas não podem ficar assim tão expostas. Faça isso que suas plantas vão agradecer – garantiu.

Afonso aproveitou a oportunidade e fez outros questionamentos ao engenheiro.

– Quero saber se essa manga está plantada corretamente, porque é enxerto. Eu posso usar esse produto aqui? – indagou o agricultor, mostrando um inseticida químico e outro orgânico.

Wilibaldo recomendou descartar o inseticida químico porque ele faz muito mal à saúde. Em relação aos frutos, o engenheiro ressaltou que é preciso haver uma troca, saber do que a planta gosta e como ela se desenvolve. Dessa forma, o resultado obtido será muito melhor.

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Saiba mais

Durante o tempo em que trabalhou na Fundação de Meio Ambiente de Joinville, Wilibaldo participou da arborização da cidade. Foram usados cinco tipos de árvores nesse processo: olandi, palmito-juçara, romã, pupunha e palmeira-real.