O Google está no centro de uma polêmica desde domingo (6), depois que um de seus funcionários tentou justificar em um comunicado interno a ausência de diversidade no Vale do Silício, afirmando que a reduzida presença de mulheres é provocada por diferenças biológicas.

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Considerada “sexista” pela imprensa americana, a nota reavivou o atual debate sobre a existência de uma “cultura sexista e de assédio” no conglomerado de tecnologia, amplamente dominado pelos homens.

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Na carta de 3 mil palavras, o funcionário, um engenheiro, afirma que “as opções e as capacidades de homens e mulheres divergem, em grande parte devido a causas biológicas, e estas diferenças podem explicar por quê não existe uma representação igual de mulheres (em posições) de liderança”.

As aptidões naturais levam os homens a serem programadores de informática, enquanto as mulheres são, de acordo com o profissional que não teve a identidade revelada, mais proclives “aos sentimentos e à estética que às ideias”, o que as leva a escolher carreiras nas áreas “social e artística”.

— São asneiras sexistas, disfarçadas de um discurso sobre a proteção não merecida da liberdade de expressão — critica a jornalista Kara Swisher, do site especializado Recode.net.

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“Não é um ponto de vista que a empresa e eu mesmo respaldemos, promovamos, ou incentivemos”, respondeu em um e-mail aos funcionários Danielle Brown, diretora da área de diversidade, que trabalhava na Intel e foi contratada pelo Google há apenas um mês.

De acordo com sua mensagem, o debate interno na empresa está estimulado pelos “princípios de igualdade no emprego, que podem ser observados em nosso código de conduta, nossas políticas e nossas normas antidiscriminatórias”.

Danielle destaca que o Google sempre defendeu “uma cultura, na qual aqueles que têm pontos de vista diferentes, inclusive políticos, sintam-se seguros para poder expressá-los”.

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Considerando “incorretas as hipóteses alegadas sobre o gênero”, ela afirma que “a diversidade e a inclusão são uma parte fundamental dos nossos valores e da cultura que cultivamos”.

Procurada pela AFP, a empresa não fez comentários. Não foi possível saber se o grupo pensa em adotar alguma medida contra o engenheiro.

A publicação da nota pelo site Motherboard aconteceu após vários escândalos e demissões vinculadas à ausência de diversidade em empresas emblemáticas do Vale do Silício, como Uber.

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Sanções?

Em um memorando interno obtido pela AFP, o vice-presidente de Engenharia do Google, Ari Balogh, afirmou que “questionar nossas premissas e compartilhar diferentes perspectivas é uma parte importante da nossa cultura”. “Mas, ao fazer isso, não podemos permitir que estereótipos e premissas nocivas tenham qualquer papel”, completou.

“Um dos aspectos da mensagem que mais me perturbaram profundamente é seu preconceito implícito, ao sugerir que a maioria das mulheres, ou dos homens, sente, ou age, de uma certa maneira”. “Isso é estereotipar, e isso é nocivo”, insistiu.

Atualmente, 69% dos funcionários do Google são homens, uma proporção que chega a 80% nos cargos da área tecnológica, de acordo com os últimos números do grupo.

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No Facebook, as mulheres ocupavam apenas 27% dos cargos de chefia em 2016. Na Apple, esse percentual chega a 37%.

A polêmica do Google se soma a uma série de escândalos e de demissões relacionados com a falta de diversidade no Vale do Silício. O cofundador do Uber Travis Kalanick se afastou em 21 de junho, após acusações de sexismo, discriminação e assédio na empresa.

No final desse mesmo mês, o investidor Justin Caldbeck deixou seu fundo de investimento, o Binary Capital, depois que seis empreendedoras relataram terem sido assediadas, quando foram solicitar recursos para seu negócio.

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Alguns dias depois, um outro investidor do setor, Dave McClure, confessou “ter assediado várias mulheres em situações profissionais, onde era claramente inapropriado”. Ele divulgou um texto, no qual disse ser “um canalha”.

Todos esses episódios explodem três anos de Ellen Pao ter-se tornado um símbolo do sexismo no Vale do Silício. Ela processou seu ex-empregador – KPBC, uma empresa de capital de risco – por discriminação. Perdeu o processo.

* AFP