Um acessório acoplado ao celular promete facilitar a realização de testes de visão. O dispositivo, que está em estudo, permitirá que um celular identifique problemas de miopia, hipermetropia ou astigmatismo com baixo custo. Apesar da promessa de revolução, para o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) o parecer de um médico ainda será necessário para a prescrição

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de óculos.

A invenção está sendo desenvolvida pela startup EyeNetra, empresa fundada pelo catarinense Vitor Pamplona, junto com o professor Ramesh Raskar, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), e o americano David Schafran. A empresa, que quer tornar acessíveis as tecnologias para detectar problemas de visão em regiões menos desenvolvidos, por enquanto só produziu protótipos do produto e já está avaliada em cerca de US$ 20 milhões.

O aparelho, chamado de Netra, é formado apenas por uma série de lentes e o custo de fabricação gira em torno de US$ 2. Para o trabalho, a equipe estudou o sensor de Shack-Hartmann, que usualmente é usado para exames de visão. O dispositivo só tem eficácia devido à alta resolução das telas dos smartphones. Também por isso o dispositivo só funciona em celulares em sistema Android. iPhones não têm resolução suficiente para um bom exame.

Empresa desenvolve aparelho para catarata

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Além do Netra, a empresa está desenvolvendo o Catra, aparelho para o mapeamento de cataratas. O sistema faz a análise da doença e permite acompanhar a sua progressão, com medição do tamanho e densidade das opacidades no olho.

Um terceiro projeto em desenvolvimento, chamado de Tailored Display, pretende revolucionar a vida de quem usa óculos. Trata-se de uma tela que se ajusta para compensar os erros de visão. A ideia é que, no futuro, as pessoas não precisem usar óculos para assistir à TV, pois a tela fará essa compensação automaticamente.

De Gaspar para o MIT

Nascido em Gaspar, graduado na Universidade Regional de Blumenau (Furb) e pós-graduado em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Vitor Pamplona conta que teve uma experiência ruim ao tentar desenvolver a ideia no Brasil devido a entraves de tempo, custo e conhecimento – frutos da falta de um ecossistema de inovação no país.

– Para montar uma startup de inovação técnico-científica é necessário ter acesso a ferramentas para fazer modelos e praticamente nenhuma delas está disponível a custos acessíveis e velocidades de produção aceitáveis no Brasil – diz.

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Ele conta que enquanto nos Estados Unidos o tempo para montar um protótipo e testá-lo leva dois dias, no Brasil, de acordo com as estimativas que fez em 2011 quando a empresa foi fundada, levaria de três a cinco semanas. A EyeNetra passou por 340 protótipos até chegar ao produto atual em menos de um ano e meio. No Brasil, o processo levaria 20 anos.

Outro entrave foi a dificuldade em encontrar engenheiros com experiência em design, advogados para estruturarem a parte legal e patente global da empresa e investidores interessados em uma tecnologia sem fim aplicável a curto prazo.

O que diz o presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, Milton Ruiz Alves

O especialista analisou os estudos com o Netra e afirmou que o dispositivo pode ser utilizado em programas de rastreamento visual. Contudo, quando o exame é feito com a pupila dilatada, o resultado da refração melhora bastante. Sem essa dilatação, o diagnóstico não é adequado para a prescrição de óculos.

– O método oferece resultados longe dos necessários e deve melhorar com o seu aperfeiçoamento. Assim poderá ser útil no exame em áreas carentes.

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