“Quem sabe, em momento tão propício para a reflexão como este, estejamos mais receptivos a pensar sobre as rotinas que incorporamos em nossas vidas ao longo de 365 dias do ano. Os cientistas sociais já perceberam, os intelectuais fazem silêncio ou críticas de baixa repercussão. O fato é que com a universalização do acesso aos bens – um grande avanço social e econômico -, parcelas cada vez maiores da população estão consumindo serviços e tecnologias.
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O poder da mídia disseminou-se. O culto ao mundo VIP e às celebridades ganha adeptos na conservadora Inglaterra e faz brilhar os olhos de coreanos a brasileiros, em extremos do planeta. Nosso estilo de vida é movido a imagens e estímulos sensoriais. Tudo é submetido à ordem do imediatismo e da espetacularização: o trabalho intelectual, as procissões religiosas, as convocações cívicas, os debates políticos não existem sem o apelo de marcas e de fortes estratégias de marketing. Até as tragédias ganham efeitos de cinema quando irradiadas sob diferentes ângulos e focos. Diferente é quando você faz parte delas.
Um dos maiores escritores da atualidade, o peruano Mario Vargas Llosa, dedicou um ensaio inteiro a respeito em que alerta: “No passado, a cultura foi uma espécie de consciência que impedia que virássemos as costas para a realidade. Agora, atua como mecanismo de distração e entretenimento”. O verdadeiro convívio e o espaço para o diálogo, porém, sempre aguarda uma oportunidade. Mais uma vez, estamos diante dela. Fica a mensagem de Carl Jung, pai da psicologia analítica: “Onde o amor impera, não há desejo de poder: onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro”. Façamos uma parada para cultivar o amor, o diálogo e reabastecer os corações nestes tempos frenéticos.“