Localizado em área central de Florianópolis e desabitado há seis anos por causa do risco de desabamento, o edifício de 11 andares Solar de Manacor, na Rua Dom Jaime Câmara, enfim poderá voltar a ser ocupado.

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Quem garante é o engenheiro Dickran Berberian, da empresa Infrasolo, com sede em Brasília. Especialista em geotécnica e reforços de estruturas, ele foi contratado pela construtora Koprime, de Florianópolis, para a primeira e mais complicada etapa de recuperação do prédio: a de estabilização.

Em 13 de março de 2007, 11 famílias tiveram de desocupá-lo as pressas e nunca mais retornaram. O motivo da interdição dos Bombeiros e Defesa Civil foram fissuras no subsolo e inclinação de 26 centímetros causadas por obras no edifício ao lado, Prime Tower.

Três anos depois, em 6 de dezembro de 2010, o juiz Hélio do Valle Pereira determinou a recuperação total pela Koprime. Na fase do reforço da base, concluída recentemente, foram utilizados 800 sacos de cimento e 70 novas estacas para mantê-lo estabilizado.

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– O quadro do paciente é muito favorável. Está duas vezes e meia mais seguro do que era – disse ao DC o engenheiro sobre a “saúde” do prédio (leia entrevista).

O engenheiro afirma que a operação para mantê-lo em pé está concluída – resta a reforma nos apartamentos e na parte externa para que então haja a decisão da volta ou não da ocupação. A inclinação não foi corrigida. Essa ação para desentortá-lo é possível de ser realizada.

Uma ação dos moradores por danos morais ainda tramita na Justiça e valores são discutidos. Há recurso que aguarda julgamento no Tribunal de Justiça de Santa Catarina com o desembargador Cid Goulart, da 2ª Câmara de Direito Público.

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O futuro do imóvel, conforme o DC apurou, deverá ser decidido em assembleia dos condôminos e não tem data para acontecer. Dos 11 moradores, cinco venderam o apartamento para a construtora.

Zelador e vigilante para evitar invasão

Os únicos habitantes do Solar de Manacor nos últimos anos – no térreo – foram o zelador e o vigilante, que continuam trabalhando. Um deles mantém a rotina há 24 anos. O maior receio é o de invasão de usuários de drogas da região central, principalmente de crack.

Na fachada, a entrada da garagem está fechada com madeira e o acesso ao hall de entrada é gradeado. Dentro, também está fechado o acesso às escadas. O elevador segue desligado.

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A aparência externa, principalmente a da garagem, é de abandono. O DC não foi autorizado a entrar no espaço interno. Ainda há pertences como móveis dos moradores em alguns apartamentos. Procurados, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros de Florianópolis informaram que não fizeram vistoria nos últimos meses no edifício.

ENTREVISTA: Dickran Berberian, engenheiro civil

Com mais de 700 obras examinadas e responsável por mais de 12 mil, professor em duas universidades, Dickran Berberian, 70 anos, estava a caminho da Bahia quando conversou por telefone com o DC. Veja as principais partes da entrevista:

Diário Catarinense – O que a empresa fez no Solar de Manacor?

Dickran Berberian – A construção do edifício vizinho prejudicou esse prédio, que é o Solar de Manacor. Ele ficou 26 centímetros fora do prumo. Então, a primeira etapa foi reforçar as fundações. Reforçadas as fundações, ele entrou em estabilização e está agora estabilizado. Ele já não sofre mais influência de ninguém. Pelo contrário, aonde tinha duas estacas originais nós colocamos quatro. Portanto, ele está agora em termos de estabilidade duas vezes e meia mais seguro do que era. Porque a gente não retira a velha, que já estava funcionando, e desconsidera qualquer contribuição dela. Portanto, esse prédio pode acontecer terremoto, chover canivete, que ele não vai ter mais problema.

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DC – Não tem risco de desabamento então?

Dickran – Já estava longe, agora não tem mais nenhum. A inclinação dele ainda é considerada – pela altura – pequena. Está se estudando a estrutura e tal, mas pela experiência que tem, ele está estruturalmente muito bom. Nenhum dos sintomas que um prédio que inclina, mesmo que ocorra igual a esse daí, apresentou. O quadro do paciente é muito favorável. A decisão não é minha, sou só consultor técnico. É uma questão a ser discutida entre a construtora, que honrou todos os compromissos como eu nunca vi. Eu já examinei 704 obras. Em momento nenhum a empresa me pressionou para economizar no reforço. Eu injetei muito cimento aí.

DC – Quanto foi utilizado de cimento?

Dickran – Fiz aí 70 novas estacas, injetei 800 sacos de cimento, inclusive favoreceu o vizinho que tinha vazamento na cortina. A injeção de cimento de alta pressão curou ele e curou o vizinho.

DC – O senhor comandou pessoalmente os trabalhos?

Dickran – Full time. Eu projetei e comandei.

DC – Essa primeira etapa se encerrou?

Dickran – Já encerrou e o prédio está surpreendentemente estável – eu esperava que ele se estabilizasse daqui a seis meses -, porque quando você pisa no freio, o veículo não para de repente, ele desacelera. Mas a injeção de cimento feita produziu uma estabilização precoce muito boa e está estabilizado.

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DC – Foi feito o novo laudo pela empresa?

Dickran – Já e diz que o prédio está estável, que a construtora cumpriu as exigências. A questão de reaprumo ou não é só uma questão estética e funcional.

DC – A informação é que haverá reforma no prédio…

Dickran – É porque a construtora é habilitada. Eu não trabalho com muito arroz e feijão. A reforma é simples. Os apartamentos estão muito bons. Até eu gostaria de ter condições de comprar apartamento aí. Mas Florianópolis está longe de mim.

DC – Pela sua experiência o senhor acredita que basta uma reforma ali e o prédio pode voltar a receber moradores sem problemas?

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Dickran – Sim. A questão da decisão social não é minha. Está entre a construtora e os moradores, mas estão sendo feitos os estudos. Contratamos um calculista daí só para confirmar o que eu sinto, o que eu vejo e o que eu medi, que está tudo bem e ele pode ficar do jeito que está ou ser reaprumado dependendo da decisão social.

DC – É comum acontecer esse tipo de problema em prédios como o que aconteceu em Florianópolis?

Dickran – É e vai acontecer mais. Porque Florianópolis deixou de crescer, a cidade agora incha, entendeu? O que vai acontecer, engarrafamento, falta de estacionamento, problemas de água, luz, a cidade vai esquentar com bastante prédio. Tem que se projetar um polo de crescimento um pouco afastado da cidade. Aí sim prédios que tenham andares, pistas largas, coisas do outro mundo, e parar de fazer propaganda que a qualidade de vida de Florianópolis é boa, pois vai encher de gente. Isso vai destruir a cidade, consequentemente toda a obra nova, como foi feito o edifício Prime, quatro subsolos de garagem, o que é bastante louvável da prefeitura aí.

DC – Tem como resolver a inclinação e voltar o Solar de Manacor ao normal ou não?

Dickran – Tem sim. É um processo um pouco invasivo, mas é possível sim. Cerra-se os pilares, coloca-se macaco hidráulico e levanta o prédio. Como a inclinação dele não é grande, é pequena, é uma questão de decisão entre eles.

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DC – Tem alguma coisa a ver o solo daqui ou é outra questão mesmo?

Dickran – O solo daí ele é bom e tem uma camada de rocha na região melhor ainda. Precisa que as fundações alcancem essa rocha. O problema está na execução das cortinas de contenção, você tem que segurar ele. É preciso tecnologia. Não é qualquer projetista.