Ao conclamar o exército a lutar “uma batalha heroica” pelo destino do país, o presidente da Síria, Bashar al-Assad, evidenciou na quarta-feira o desespero do líder para salvar a própria pele.

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Na guerra civil generalizada pelo país, o governo se mostra incapaz de esmagar os rebeldes, que caçam os aliados do regime em regiões onde o exército perdeu o domínio.

Grupos de oposição, segundo a missão de observadores das Nações Unidas no país, controlam tanques e armamentos pesados. As armas estariam entrando pela fronteira com a Turquia, cujo regime é contrário a Al-Assad.

Em Aleppo, coração financeiro da Síria, as forças armadas tentam impedir os avanços do Exército Sírio Livre – guerrilha que agrupa desertores do regime – usando caças de combate para impedir os avanços.

Desde que um atentado em Damasco matou generais da cúpula da segurança do país, em julho, Al-Assad não falou mais em público. Na quarta, divulgou um comunicado por escrito aos soldados sírios, no qual frisou: “O exército trava uma batalha heroica e crucial (…) da qual depende o destino de nosso povo e de nossa nação, porque o inimigo se encontra agora entre nós, utilizando agentes internos como meio para desestabilizar a pátria, a segurança dos cidadãos e esgotar nossos recursos econômicos e científicos”.

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Com deserções de diplomatas e militares, Al-Assad perde força e há quem arrisque dizer que seguirá a mesma trajetória do ex-presidente líbio Muamar Kadafi, que tentou resistir, mas perdeu todo o poder, foi caçado e morto.

O título de uma matéria do jornal americano Washington Post ontem dava o tom: “Para o sitiado ditador Al-Assad, saída pode ser como um corpo em um saco preto”.

Embora as declarações oficiais tenham o costume de suavizar as palavras, o governo dos Estados Unidos aumentou o tom:

– Acreditamos com toda a franqueza que é covarde um homem que se esconde e permanece abrigado, ao mesmo tempo em que ordena que seus soldados de massacrem civis em seu próprio país – disse o porta-voz do Departamento de Estado, Patrick Ventrell, em resposta a um discurso do presidente Al-Assad divulgado pela agência de notícias oficial síria Sana.

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Conflito chegou a bairros cristãos da capital

O fortalecimento dos grupos rebeldes com armas mais modernas e dinheiro pode elevar o nível de violência. Alguns analistas internacionais lembram que, se o governo não consegue mais controlar o próprio território, a violência deve aumentar nas próximas semanas e deixar o conflito ainda mais sangrento.

Em Damasco, a capital, os bairros cristãos de Bab Tuma e Bab Sharqi, no centro, foram pela primeira vez palco de combates, que deixaram ao menos um soldado morto. É uma região onde seguidamente são organizados atos de apoio ao governo.

Nos últimos dois dias, os bombardeios de helicópteros e artilharia pesada contra Aleppo e seus arredores provocaram uma fuga em massa de 200 mil pessoas, segundo a ONU. Para a Anistia Internacional, a ofensiva contra a cidade é um crime contra a humanidade, segundo relatório divulgado ontem pela organização.