No Hospital Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú, 60 funcionários foram afastados desde o fim de março, entre gestores, profissionais que atuam diretamente com pacientes e até servidores que trabalham na cozinha. Destes, 47 já receberam resultado positivo no teste para o novo coronavírus.

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O primeiro deles foi Ricardo Lorenz Brodersen, 42 anos. Diretor do setor de enfermagem, Brodersen estava engajado com as preparações para a unidade hospitalar receber pacientes com coronavírus quando ele mesmo começou a apresentar os sintomas.

– Ainda não tínhamos atendido nenhum paciente com o Covid-19, estávamos montando a tenda de triagem, e usando todos os EPIs – recorda.

Ele acredita que o contágio tenha vindo de um colega médico que havia atendido o telefone para conversar com um paciente a pedido dele – e que ele mesmo pode ter transmitido para outros colegas, pela posição de gestor dentro do departamento, sempre em contato com vários profissionais. Os primeiros sintomas apareceram em 28 de abril, e o médico que dividiu o telefone com ele em um curto período de tempo relatou que estava com sinais do novo coronavírus no dia seguinte.

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– Eu estava bem e, de repente, fiquei muito cansado, com calafrios. Decidi dormir e acordei com 38,7°C de febre. Tomei uma medicação e, em vez de passar, a febre chegou a 39,1 °C. Foi quando a "luzinha vermelha" acendeu – relata o diretor do setor de enfermagem da unidade.

No caso dele, os sintomas vieram em etapas: houve febre, dificuldade de respirar, dores de cabeça e nas articulações e sudorese excessiva. Boa parte delas permaneceu pelos 14 dias de isolamento. Na última segunda-feira, dia 20, Brodersen voltou ao trabalho no hospital.

— Acho que 14 dias são pouco tempo para ficar afastado, porque a doença não mexe só com o corpo, mas com o psicológico também. E um profissional de saúde precisa estar bem para realizar seu trabalho — analisa.

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Agora, ele aproveita a experiência para ajudar colegas que ainda estão com a doença, ou com sintomas, e também pacientes que estão com medo do contágio.

— Eu os incentivo a ficarem em casa e aproveitarem o tempo para se dedicarem a tudo o que não conseguiam fazer antes. Conto que, mesmo com a doença, tentei seguir minha rotina, fazer vídeoconferências e ocupar meu tempo — conta ele.

Assim como Brodersen, outros 36 profissionais da unidade hospitalar de Balneário Camboriú já estão recuperados e começam a deixar o isolamento.

Além do afastamento dos profissionais da saúde da linha de frente do combate à pandemia, o novo vírus causa outros impactos, como a interdição e fechamento temporários de unidades de saúde. Isso ocorreu em diversas cidades do Estado.

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"São heróis modernos", diz o escritor Luís Fernando Veríssimo sobre os profissionais de saúde

SC tem mais de 400 enfermeiros afastados

O governo do Estado não tem um levantamento do número de profissionais de saúde do Estado infectados pelo novo coronavírus, mas na rede estadual de saúde de Santa Catarina chegava a 190 a quantidade de servidores que não estavam trabalhando porque tinham diagnóstico confirmado, apresentavam sintomas ou porque fazem parte do grupo de risco.

De acordo com dados divulgados pelo Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (Coren), 438 profissionais de enfermagem estavam afastados dos postos de trabalho — 30 deles com resultado positivo para Covid-19, até a última quarta-feira.

Maior cidade do Estado, Joinville tinha cerca de 500 profissionais afastados na última semana, mas a Secretaria de Saúde da cidade não detalha quantos destes contraíram Covid-19 – do Hospital São José, eram nove pessoas, contando com o diretor da unidade – e quantos estavam aguardando resultados, ou em quarentena por serem do mesmo setor que profissionais diagnosticados ou com sintomas.

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– Quando um profissional apresenta sintomas, todos daquela área são colocados em isolamento – informou o prefeito de Joinville, Udo Döhler.

Em Florianópolis, até a segunda quinzena de abril 44 profissionais foram afastados por conta do coronavírus, dos quais 22 tiveram diagnóstico de casos confirmados. Em Blumenau, até o início do mês, 45 servidores haviam se afastado por conta do novo vírus. Em Chapecó, não há trabalhadores municipais da saúde em licença por causa do coronavírus.

Ministério da Saúde convoca médicos e voluntários

De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 8,2 mil pessoas se inscreveram para atuar como voluntários na força-tarefa depois do chamamento feito pelo governo federal. Em Santa Catarina, 143 médicos se inscreveram para atuar nos postos de saúde do Estado durante a pandemia, como parte do programa Mais Médicos para o Brasil.

A reportagem fez contato com o ministério, via e-mail e também por telefone, para saber se algum profissional havia sido convocado para atuar em Santa Catarina, mas até o fechamento da edição não teve retorno com a resposta.

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