100 dias se passaram desde que o Hospital São José, de Joinville, instalou uma área restrita para atendimento exclusivo de casos do novo coronavírus. Desde então, médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem se dividem em plantões para, dia e noite, garantirem a recuperação dos casos mais graves de pessoas infectadas pela doença. Até 29 de junho, mais de 1,6 mil pessoas já haviam sido diagnosticadas com a doença em Joinville e, nesta data, a ocupação das UTIs na cidade era de 66%.
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Uma delas é Cristiana Maria Uller. Ela atua como enfermeira há 22 anos e, desde que a pandemia chegou a Joinville, vive experiências totalmente diferentes daquelas que estava acostumada, mesmo dedicando-se há tanto tempo à missão de ajudar a salvar vidas.
— Em toda a minha carreira, desde a formação, nunca pensei que um dia a gente iria vivenciar isso e que eu estaria de frente para este turbilhão de novidades. Mas aconteceu e precisamos enfrentar. Não sabemos ainda quantos dias virão e as pessoas precisam da nossa ajuda — disse ela, em entrevista à Rádio Globo Joinville.
Entre as atividades dentro do pronto-socorro, cuidando dos pacientes e ajudando o trabalho dos infectologistas e pneumologistas, Cristiana tem mais uma tarefa que não foi ensinada em nenhuma faculdade: apertar os botões certos e segurar firme — o aparelho e as emoções — enquanto o paciente conversa, por meio de vídeo conferência no celular, com os familiares, antes de ser entubado.
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Este momento acontece quando a pessoa não consegue mais respirar sozinha e precisa dos ventiladores pulmonares — e, muitas vezes, a ligação por vídeo feita com a ajuda de Cristiana e de outras enfermeiras e enfermeiros é o último contato que os familiares terão com o paciente. Entre 30 de março e 29 de junho, 38 pessoas haviam perdido suas vidas por causa da doença na cidade, e parte deste grupo estava internado no Hospital São José.
— A gente deixa [conversar] o tempo que for necessário, porque não sabe o que vem depois. E aquela é uma vida, e toda vida tem seus amores. Isso tem que ser preservado. Muitas vezes, a gente está sensível, mas precisa ser fortes e passar segurança aos pacientes — contou.
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Distância da família e cuidados extras
Em compensação, há momentos de felicidade. Em alguns casos, ela pôde acompanhar pacientes com Covid-19 que passaram por um estado grave, mas conseguiram se recuperar. Depois, voltaram para agradecer o trabalho dos profissionais da saúde.
Enquanto vive tudo isso, Cristiana ainda tem a preocupação de não levar o vírus para casa. Nos primeiros dias da pandemia, o marido e as filhas dela — uma menina de 11 anos e a caçula de apenas três anos — chegaram a morar em outro lugar para não correrem o risco de infecção. Duas enfermeiras do São José também deixaram suas famílias e foram morar com Cristiana, para evitarem o contágio das pessoas que amam.
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— Naquele momento, pela novidade da situação, fizemos esta opção. Enfrentamos o medo de levar a contaminação para casa, devido à exposição que teríamos — conta.
Agora, com a família de volta ao seu lado, ela toma cuidados que são indicados à toda a população, com alguns detalhes a mais por causa da profissão. E ela chama a atenção para que todos levem a prevenção à sério.
— Usem a máscara e lavem muito as mãos, sempre, mesmo que estejam em dúvida se tocou em algo, mesmo que pareça exagero, mas é um exagero que pode salvar sua vida. O vírus morre com facilidade com água e sabão. Muitas pessoas pagam pra ver, e a gente não precisa chegar a esse ponto — afirma.
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Homenagem aos profissionais
Na manhã desta segunda-feira, a equipe que trabalha na Área Restrita do Covid-19 no Hospital São José recebeu um café da manhã especial, oferecido pela coordenação, pela gerência e pela diretoria do hospital. Eles também receberam homenagens com um painel de frases e fotos, com o objetivo de agradecer a dedicação prestada.
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— Algo simples, mas para que possamos expressar os nossos parabéns para estes verdadeiros guerreiros — comentou Arnoldo Boege Junior, coordenador do Pronto Socorro.
O diretor Clínico do hospital, Niso Balsini, explicou que eles precisaram se adaptar a um protocolo específico, desenvolvendo uma expertise de atendimento diferenciado, e com cuidados extras, incluindo a utilização de uma complexidade de Equipamentos de Proteção Individual (EPI´s). Também atuam numa escala específica e ficam isolados do restante do hospital.
— Eles enfrentam uma restrição ainda maior — avaliou Balsini.
As equipes dedicadas aos pacientes com coronavírus trabalham em escalas de 24 horas e são compostas por quatro médicos, quatro enfermeiros e 16 técnicos em enfermagem. Quem atua na área restrita conta com o apoio de outras áreas do hospital, como do laboratório, da fisioterapia, entre outras.
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