Ficou um colchão velho, cobertores e caixas com lixo. O casal de lageanos que morou por quase um mês embaixo do acesso do elevado do Itacorubi, em Florianópolis, partiu para Imbituba sem data para voltar na última terça-feira.

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Antônio Carlos de Freitas, 53 anos, se denomina “trecheiro” – quem puxa o trecho, caminha – desde 2001. Preza, acima de tudo, pela liberdade de viver e morar nas ruas. Trabalhou em obra, como vigia, jardinagem e ajudante de caminhoneiro. Há dois anos diz ter vendido uma casa em Lages, como se quisesse provar o que acha de si mesmo.

– Não tenho muito juízo.

Com abordagens seguidas de assistentes sociais do município, seu Tonho e a companheira há quatro meses, Ilza de Oliveira Branco, temeram ter que seguir algumas regras e preferiram migrar para o Sul.

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– Imbituba eu conheço, tem um pessoal gente fina, como o que encontrei aqui na Ilha. Mas os homens não querem que a gente fique, é hora de ir – concluiu sob a luz do fogo improvisado nos pés da pilastra, onde insistia em cozinhar um feijão.

Encontro em Florianópolis

Moradores de rua resistentes a receber assistência são uma situação comum, diz o secretário municipal de Assistência Social, Alessandro Balbi Abreu. Segundo ele, muitos preferem ficar na rua a passar por um centro terapêutico ou um abrigo.

– É uma dificuldade convencer a pessoa a fazer a recuperação – observou.

O tema está na pauta do 1º Encontro Estadual sobre os Serviços de Alta e Média complexidade para pessoa em situação de rua, promovido pela Secretaria de Estado da Assistência Social, Trabalho e Habitação (SST), até esta quarta-feira, no auditório da SST.

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O encontro busca aprimorar a oferta dos serviços de proteção social especial.

– Queremos iniciar o processo de melhoria dos serviços em Santa Catarina, por meio da troca de experiências e do diagnóstico preliminar da execução dos serviços para a elaboração de protocolos e fluxos de atendimento da população em situação de rua – explica a diretora de Assistência Social da SST, Simone Machado.

O encontro reúne gestores e equipes técnicas dos 17 municípios que prestam serviços de média e alta complexidade do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) destinados às pessoas em situação de rua, como os Centros de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centros POP) e os serviços de acolhimento. Durante o encontro os municípios vão trocar experiências de atendimento nas regiões.

Centro Pop

Na assistência social existem os Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua, os Centros Pop, para atender a população em situação de rua. O Centro Pop é uma unidade pública e estatal, que oferece a essas pessoas um serviço especializado e pode oferecer também a abordagem social.

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A recomendação é de que a estrutura desses locais seja composta de uma recepção; sala para atividades referentes da coordenação, reunião de equipe e atividades administrativas; sala de atendimento; salas e outros espaços para atividades coletivas com os usuários; socialização e convívio; cozinha; banheiros masculinos e femininos com adaptação para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida; refeitório; lavanderia; local para guardar pertences e local para higiene.

Santa Catarina conta com seis Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (Centro POP) nos municípios de Florianópolis, São José, Joinville, Blumenau, Rio do Sul e Tubarão. De acordo com o Censo SUAS 2012, esses serviços realizaram em 2011 cerca de 148 atendimentos por dia, uma média de 3.256 atendimentos por mês nesses locais.

Pesquisa

Uma pesquisa nacional, realizada em 2008 a pedido do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), traçou um perfil da população em situação de rua. De acordo com o estudo, realizado em 71 municípios nas instituições e na rua, a população em situação de rua é predominantemente masculina (82%); mais da metade (53%) possui entre 25 e 44 anos e os níveis de renda são baixos: 52,6% recebem entre R$ 20,00 e R$ 80,00 por semana.

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Entre as principais razões da ida para a rua estão o alcoolismo ou o uso de drogas (35,5%); o desemprego (29,8%) e desavenças com pai, mãe ou irmãos (29,1%). Ainda segundo a pesquisa, a população em situação de rua é composta, em grande parte, por trabalhadores: 70,9% exercem alguma atividade remunerada como catador de materiais recicláveis, flanelinha, construção civil, limpeza e carregador ou estivador. Apenas 15,7% das pessoas pedem dinheiro como principal meio para a sobrevivência.

Serviço:

Centros Pop em Santa Catarina

Florianópolis: Av. Gustavo Richard s/n, Centro

São José: Rua Dr Constâncio Krummel 2119, Praia Comprida

Joinville: Rua Urussanga no: 1180, Bucarein.

Blumenau: Rua Capitão Santos s/n (em frente ao prédio número 145), Garcia

Rio do Sul: Rua XV de Novembro, s/n, Laranjeiras

Tubarão: Rua José João Mateus número 82, São João

Programação:

Local: Auditório da SST, localizado na Av. Mauro Ramos 722, centro, Florianópolis.

Quarta-feira

9h: rede de atendimento: Fluxos e articulação com demais políticas setoriais (Gerência de Proteção Especial da SST)

9h40mim: panorama situacional dos Centros POP e dos Serviços de Acolhimento para Pessoa em Situação de Rua em Santa Catarina (Gerência de Proteção Especial da SST)

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10h45min: Revendo práticas. Oficina (dois grupos de trabalho) Coordenação: Gerência de Proteção Especial da SST

12h: Intervalo Almoço

13h30mim: socialização do Produto do Conhecimento Produzido Coordenação: Gerência de Proteção Especial da SST

16h: encerramento/ Coffee Break