O dia 21 de fevereiro costuma ter um significado especial para os ex-combatentes que integraram a Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a 2ª Guerra Mundial. A data marca a tomada de Monte Castelo, após uma batalha travada entre as tropas aliadas e o exército alemão, que se prolongou por três meses, e será lembrada hoje pelo 62º Batalhão de Infantaria, em Joinville.

Continua depois da publicidade

Durante uma cerimônia de formatura, aberta ao público, que será realizada a partir das 8 horas, 11 ex-combatentes da região serão homenageados. E pelo menos três deles são esperados para a celebração. Otto Eduardo Kuhr, de 91 anos, é um deles.

Dono de uma memória invejável, Otto guarda com carinho as lembranças dos tempos da guerra, em especial da batalha de Monte Castelo. Ele conta que esta foi uma das últimas lutas, travadas no Norte da Itália, que foram cruciais para por fim ao conflito, que levou a vida de muitos soldados. Ele conta, inclusive, que foi depois desta batalha que ele resolveu pedir a então namorada, Irmagard, em casamento, após um longo período de indefinições.

– Mandei uma carta, através do Exército, e foi assim que noivamos, por carta -, conta.

Continua depois da publicidade

Após a batalha, Otto ainda permaneceu por seis meses na Itália, totalizando um ano de serviço em território estrangeiro.

– Trabalhava no pelotão de transmissão da companhia de petrechos pesados, de morteiros e metralhadoras. Éramos os responsáveis pela comunicação entre o batalhão e a companhia -, relembra, mostrando a foto que guarda do pelotão, formado por seis soldados brasileiros.

– Graças a Deus, todos voltaram sãos e salvos, mas os colegas daqui todos já faleceram.

Quando foi convocado, Otto, que é natural de Massaranduba, servia ao Exército em Itajaí. Mas, quando voltou, ele e companheira casaram e escolheram morar em Joinville.

Continua depois da publicidade

– E assim que voltei já pedi baixa do Exército, com receio de um novo conflito, porque as coisas ainda estavam instáveis lá no Japão -, relembra o aposentado, que trabalhou durante 39 anos na firma Germano Stein, de indústria e comércio, como inspetor de segurança.

Como não teve filhos, há alguns anos ele e a mulher optaram por morar do Lar Bethesda, em Pirabeiraba. Ele diz que os colegas costumam ter curiosidade e cobram dele, porque ele não costuma contar muito sobre a guerra. Mas estas são lembranças que ele nem sempre gosta de compartilhar.

– Quando uma linha (do sistema de comunicação) arrebentava, a gente tinha que ir consertar, e tinha que ir armado, porque as vezes a gente acabava indo parar na frente de batalha -, relata.

Continua depois da publicidade

Já algumas histórias, mais engraçadas, ele faz questão de contar.

– Toda a comida e os uniformes eram fornecidos pelo exército americano, e eles quiseram adaptar o cardápio para agradar os brasileiros, só que não deu muito certo: fizeram feijão doce -, conta.

– Também lembro que foram os brasileiros que encontraram uma solução para um problema que estava levando muitos soldados para o hospital. Como o inverno era muito rigoroso, era comum os pés congelarem nas trincheiras, à noite. E os brasileiros inventaram de por feno dentro das galochas. Para variar, o velho jeitinho brasileiro resolveu a questão, e os americanos também passaram a adotar esta tática -, revela.

Outro episódio que surpreendeu Otto durante a guerra e permanece vivo na memória diz respeito a um soldado alemão.

Continua depois da publicidade

– Seis meses depois de conhecer um soldado alemão, estávamos num acampamento em Pizza, do lado de um campo de prisioneiros, e lá estava ele. Acredita que ele me reconheceu e lembrava meu nome. Vai ser fisionomista assim lá na Alemanha! -, brinca.

Saiba Mais

A Batalha de Monte Castelo foi travada ao final da Segunda Guerra Mundial, entre as tropas aliadas e as forças do Exército Alemão, que tentavam conter o avanço das tropas alemãs no Norte da Itália. Esta batalha marcou a presença da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no conflito. A batalha arrastou-se por três meses, de 24 de novembro de 1944 a 21 de fevereiro de 1945, durante os quais se efetuaram seis ataques, com grande número de baixas, devido a vários fatores, entre os quais as temperaturas extremamente baixas.

Os homenageados

Adolfo Otto – Joinville

Bonifácio Pereira – Joinville

Eugenio Lemken – Joinville

João Carlos Villa Verde – Joinville

José Damathe – Joinville

Otto Eduardo Kuhr – Joinville

Sebastião Menott Nunes – Joinville

Hercilio Spezia – Jaraguá do Sul

Walter Carlos Hertel – Jaraguá do Sul

João Apolinário Francener – Massaranduba