Na saída do elevador da gigantesca sala Ballroom, instalada no WTC, uma torre de 25 andares da capital paulista, a atriz, modelo e apresentadora Sabrina Sato deixa o elevador seguida por um pequeno séquito. Atravessa o corredor, estende o dedo indicador e pergunta.

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– Ele está ali?

Ele é o Rei. É Pelé, instalado em um camarim no meio do corredor. O maior camisa 10 da história é a grande atração do dia no lançamento do novo shampoo anticaspa Head and Shoulders, em São Paulo, o Pelé 10. Aos 73 anos, ele ainda é capaz de atrair quase uma centena de jornalistas em uma abafada manhã de quinta-feira, todos sedentos por uma frase do melhor jogador de futebol de todos os tempos.

Com Sabrina, que chegou em busca de uma entrevista exclusiva com Pelé – que ZH conseguiu perto das 13h -, perdida na multidão, os jornalistas passaram o tempo discutindo São Paulo e Ponte Preta (1 a 3) pelas semifinais da Sul-Americana, disputado na noite anterior no Morumbi. As teses se encerram no mesmo segundo em que Pelé pisa no palco. Ele ergue a mão, acena, sorri e toma a sua cadeira.

Outros três históricos camisas 10 são apresentados na sequência. Rivellino, companheiro de Pelé na formidável Seleção Brasileira de 1970, Djalminha, ex-Flamengo e La Coruña, e Rivaldo, campeão do mundo com o Brasil em 2002, sentam em três cadeiras brancas. Quando falam, olham para o Rei e depois para a plateia.

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O assunto é um só: futebol. O tema da camisa 10 não pode fugir _ é o número mais emblemático da história do futebol desde que os algarismos começaram a ser desenhados nas costas das camisas dos atletas no final dos anos 1930.

– Eu não escolhi o número 10. Foi por sorteio na Copa do Mundo de 1958. Deus queria que eu usasse este número. Antes, ninguém se preocupava. Depois, o 10 virou até sinônimo de coisa boa – contou Pelé com o microfone na mão.

Rivellino herdou a camisa de Pelé no Mundial de 1974:

– A camisa era dele. Como ele não foi, peguei emprestada (risos). Mas o 10 é dele. Ele é o 10 verdadeiro.

Rivaldo ficou surpreso quando recebeu uma camisa da Seleção com o mesmo número, em 1998.

– O Zico, que era coordenador da Seleção, me avisou ainda no hotel. Disse que iria anunciar à imprensa que eu seria o camisa 10 na Copa. Logo ele, um cara que honrou a mesma camisa. O Zico me deixou tranquilo. E, depois, tinha o Ronaldo Fenômeno na minha frente.

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Como Pelé, Rivellino e Rivaldo, Djalminha entende que o verdadeiro camisa 10 está sumindo do futebol brasileiro. O número existe em todos os times, o que falta é preservar a cultura do organizador e do pensador, que também faz gol. Pelé marcou mais de 1,2 mil. Segundo o quarteto, os volantes estão estrangulando o qualificado armador do passado:

– Jogamos com três, quatro volantes. A preocupação é marcar. Não tem mais o 10 de antigamente – atalha Rivellino.

Pelé entra no embalo.

– A função é que mudou. Em 1970, tinha quatro jogadores que vestiam a camisa 10, eu, Rivelino, Gerson e até o Tostão. Fomos campeões do mundo. No Brasileirão de 2011, os melhores da posição eram estrangeiros, o Conca, o D’Alessandro – lembra Pelé.

Quando o papo com os ex-craques se encerra, Sabrina está atrás do palco. Ensaiou a sua fala, mas ninguém presta atenção. Todos querem Pelé, um abraço, um aperto de mão, uma foto de recordação, um autógrafo. Ele não consegue caminhar. Precisa da proteção dos assessores. Mais de 50 camisas esperam seu autógrafo no camarim, onde ele só quer uma cadeira estofada e um copo de água. Pelé garoto é só em foto.

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