Quando a dona Irene teve um problema de saúde que restringiu a sua movimentação, ela não sabia que isso também lhe traria uma alegria: ver o neto de 15 anos aprender a renda de bilro para fazer companhia durante as tardes em casa. Mariano Boch, que mora na praia da Armação, em Florianópolis, começou a aprender o ofício há um mês e na última sexta-feira esteve no Centro, ao lado de dezenas de senhoras, para participar de uma roda de rendeiras que terá encontros mensais até o final do ano.
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— Minha avó está doente, com problema de locomoção, então ela fica em casa o dia todo fazendo renda. Aí eu decidi aprender também pra fazer companhia para ela. É só ter paciência que se aprende rápido — indica o estudante.
A realização de um encontro mensal de rendeiras no Centro de Florianópolis visa, não só dar visibilidade ao extraordinário trabalho, mas também manter viva a tradição do ofício tão característico da cidade.
— Eu faço rendas desde os seis anos de idade, foi minha avó quem me ensinou. Mas como todos os meus netos são homens e não se interessam, não vou ter como repetir o que minha avó fez. Por essas e outras que esse encontro aqui (no Centro) é legal, porque atrai mais gente, o pessoal se interessa e também pode começar a fazer. Tem que incentivar para não deixar morrer — comenta a rendeira Ivanilde Beatriz Pereira Garcia, de 75 anos.
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Um exemplo de que sempre há alguém que pode se interessar e começar a fazer renda de bilro é a artesão Carina Duarte, de 31 anos. Há um ano ela decidiu ocupar o horário de almoço com aulas de renda lá na Casa das Rendeiras, na Armação.
— Sou apaixonada pela renda. Já tinha a veia do artesanato, então, quando tive a oportunidade de aprender a renda, me joguei de cabeça. O encontro de hoje (sexta) é maravilhoso porque fortalece a amizade e mostra que essa tradição está viva e acessível a todos — afirmar Carina.
Quem passou pelo Centro e viu todo aquele grupo de rendeiras reunido aprovou, como é o caso da carioca Aline Nascimento, de 33 anos, que mora no Campeche há quatro anos. Com a visita dos pais e do sobrinho, que vieram de férias, Aline decidiu almoçar no Mercado Público e se surpreendeu com o que viu ali no Largo da Alfândega.
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— A gente sempre se surpreende aqui no Centro, sempre tem alguma coisa legal acontecendo. As rendas são lindas, as senhoras unidas, sorrindo… É muito legal poder mostrar isso a eles (parentes) — disse Aline.
Moda e design
Dentro do encontro mensal de rendeiras, há também um projeto de uma universidade particular, intitulado “Escola de Empreendedores — Renda-se à Moda”, que visa aproximar rendeiras e estudantes do curso de Design de Moda. A intenção é profissionalizar as atividades, divulgar os produtos e impulsionar a comercialização do artesanato local, para que a produção se torne referência no país.
— É difícil as rendeiras se sustentaram só com as rendas. Então o intuito é agregá-las e tentar inseri-las no mercado de trabalho, dando um novo significado. As rendas são um baú de ouro da Ilha, não podemos deixar cair no esquecimento. Fiz uma peça (vestido) de renda, que é o intuito desse projeto — conta a estudante Isabela Souza Prates, de 27 anos.
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Programe-se
O encontro de rendeiras no Largo da Alfândega, no Centro de Florianópolis, acontecerá todos os meses até o final do ano, sempre das 10h às 17h, na última sexta-feira de cada mês (com exceção de dezembro, mês em que será realizado na terceira sexta-feira). Confira as datas:
27/7
31/8
28/9
26/10
30/11
21/12