As fortes chuvas que atingiram Santa Catarina em junho causaram estragos bem conhecidos, mas recentemente uma consequência interessante descoberta após as águas das enchentes baixarem foi revelada em Águas de Chapecó, no Oeste do Estado. Arqueólogos encontraram dois grandes vasilhames cerâmicos que acreditam terem sido usados como urnas funerárias por povos que habitavam a região entre 500 e 1000 anos atrás.
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– Como ainda não escavamos a parte interna, não se pode confirmar se foram utilizados de fato para sepultamentos, mas os indícios da disposição em que foram encontrados deixam pistas de que os artefatos foram usados para esse fim – conta a arqueóloga coordenadora do projeto, Mirian Carbonera.
As peças foram retiradas, ainda envoltas por terra, como um bloco único, do local onde foram achadas e levadas ao laboratório do Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina (CEOM) da Universidade Comunitária da Região de Chapecó(Unochapecó) para serem escavadas sem estarem expostas à chuva e à umidade.
Vista geral da área escavada pela equipe do CEOM. Foto: Divulgação/CEOM/Unochapecó
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As pesquisas fazem parte de uma missão franco-brasileira que analisa a trajetória das ocupações antigas do alto e médio vale do rio Uruguai. A região de Águas de Chapecó é conhecida pelos achados arqueológicos desde a época de construção da Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó, entre o município catarinense e o de Alpestre, no Rio Grande do Sul, iniciada no fim de 2006, com a instalação do canteiro de obras.
– A construção da usina proporcionou estudos prévios e o levantamento de dados que motivaram essa nova etapa de pesquisa. Como os vestígios estão enterrados em superfícies muito amplas, nem sempre os arqueólogos conseguem localizar os objetos. É aí que entra a contribuição da enchente, que revira a terra e os deixa evidentes – explica Carbonera.
As escavações na área já revelaram dois períodos da pré-história distintos. Uma ocupação com grupos nômades de caçadores-coletores, que viveram entre 7 a 9 mil anos atrás, e outra ocupação mais recente – da qual pertencem as urnas -, com grupos ceramistas agricultores, que além da caça, coleta e pesca, também cultivavam alimentos.
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Carbonera destaca que, além do importante conjunto de vasilhames, foram encontrados exemplares de um tipo específico de artefato, conhecido pelos arqueólogos como “lâmina”. São utensílios que eram um suporte para a confecção de outros instrumentos, como pontas de flechas e facas.
– Essa indústria lítica se refere ao período mais antigo da ocupação no alto rio Uruguai e era, até então, desconhecida no Brasil – destaca o também coordenador do projeto Antoine Lourdeau.
Objetos confeccionado em pedra lascada, de 7 a 9 mil anos atrás. Foto: Divulgação/CEOM/Unochapecó
O projeto teve início em 2013, e conta com apoio financeiro do Ministério das Relações Exteriores da França, é executado pelo CEOM/Unochapecó e pelo Museu de História Natural da França. A equipe também é formada por profissionais e estudantes de diferentes universidades do Brasil (Unochapecó, UFFS, Unesc, Univasf, UFSC) e da Université Paris 1 – Sorbonne, na França.
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Neste ano as atividades em campo estão encerradas, mas seguem com as análises em laboratório. Os dados serão apresentados à comunidade por meio de livros, artigos científicos, além de palestras e exposições que acontecerão nos próximos anos.