A Sexta-feira Santa reserva mais um ano de espetáculo àqueles que comparecem à Paróquia São Judas Tadeu, de Jaraguá do Sul. A igreja no bairro Água Verde será palco, pelo 17ª ano consecutivo, da encenação da Paixão de Cristo, peça que mostra o calvário de Jesus por meio de atores da própria comunidade. Mesmo sem um elenco profissional, o teatro emociona e é carregado de cenas fortes e efeitos especiais que revivem as últimas horas de Cristo vivo na Terra.
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Nas primeiras edições, o espetáculo era tímido. Os poucos integrantes se desdobravam em diversas atividades, de atores a cenógrafos e técnicos de som. Ricardo Tomaselli, hoje coordenador da peça, acompanha o teatro desde a primeira vez.
– O roteiro é o mesmo, mas criamos alterações a cada ano, melhorando algumas cenas e criando pequenas diferenças para o público. Para o ano que vem, pensamos em incluir um telão com imagens da Campanha da Fraternidade – conta.
Mesmo focados na peça e em seus detalhes, tudo que permeia a apresentação é embasado na fé. Os atores, em sua maioria adolescentes, integram grupos de jovens da igreja, são coroinhas ou participam de outros grupos da paróquia. Neste ano, cerca de 30 pessoas assumem os papeis principais, enquanto mais 30 pessoas complementam o elenco, interpretando o povo fariseu. Somados à produção, são quase cem pessoas envolvidas no espetáculo.
Os ensaios começaram em fevereiro e, desde então, tomaram todas as tardes de domingo. E tudo feito voluntariamente pelos envolvidos. Evento já tradicional, a peça costuma ser assistida por até 2 mil pessoas na igreja.
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Neste ano, a estimativa é de que 3 mil moradores acompanhem a Paixão de Cristo.
Cenário real
Um dos diferenciais do espetáculo da Paróquia São Judas Tadeu é o cenário. No começo, as cenas ocorrem dentro da igreja, porém, o final da peça ocorre na parte externa, sobre um rochedo que se encontra ao lado da igreja. É lá que Cristo é crucificado e também onde o público se depara com Judas enforcado. Quando a peça se transfere da igreja para o pátio, o público acompanha o cortejo ao redor de Cristo, que carrega a cruz. Assim, o espetáculo convida a mais que a mera assistência.
– Procuramos fazer com que o público se sinta parte do povo fariseu – conta Tomaselli.
Flagelo real
A cena da flagelação de Jesus é uma das mais intensas do espetáculo. Para passar a mensagem ao público, tudo é feito com o maior nível de realidade possível.
As chicotadas que açoitam Cristo são realmente infligidas pelos soldados. Apesar da proteção interna na roupa do ator, a pele por vezes acaba avermelhada após o espetáculo.
– Vale a pena pela emoção que vemos nas pessoas. Algumas choram, enquanto as crianças até pedem para parar – conta Rodrigo dos Santos, 25, que faz o papel de Jesus Cristo há três anos.
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Antes dele, Diego da Silva, 28, encarnava Cristo. Os dois compartilham as intensas experiências trazidas pelo papel, que acaba fugindo ao momento do espetáculo.
– Ficamos marcados, todo mundo nos chama de Jesus – sorri Rodrigo.
Teatro em família
Reunindo diversas pessoas do bairro Água Verde, a Paixão de Cristo acaba reunindo famílias inteiras no trabalho. Murilo Fari participará de sua 13ª edição da peça. Seu irmão, Marcos Júnior, já ultrapassou esse número, chegando à 13ª. Já seu pai, Marcos Antonio Fari, está em seu 12º ano. Enquanto os filhos atuam e realizam atividades da produção, Marcos é a voz por trás do narrador.
– O público se emociona muito e tenho que cuidar para não entrar na emoção junto. Nos ensaios, o tom é de brincadeira, mas na hora é muito sério.
O que faz com que os três retornem, a cada ano, cedendo seu tempo e dedicação para a perfeição da peça. As amizades criadas e a certeza de retorno do público.
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– Cria-se um vínculo de amizade muito forte, então é uma oportunidade de encontro com o grupo. Mas é, também, muito importante para passar a mensagem cristã. A cada ano tentamos aprimorar para ser o sinal da verdadeira história vivida por Jesus – explica Murilo.