O palhaço-anfitrião do espetáculo passa duas horas rodopiando pelo picadeiro, provocando o público e arrancando gargalhadas de crianças e adultos, na espera pelas atrações. Sua presença é um alívio cômico diante da tensão dos trapezistas, malabaristas, acrobatas e a toda a trupe de artistas que desafiam o perigo — e a física.
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No palco, ele é Palhaço Potato. Fora dali, Fernando Fernandes Rodrigues, pai de dois filhos e casado com uma bailarina. Os quatro viajam pelo Brasil com os cerca de 250 funcionários do Mirage Circus, um dos maiores circos do Brasil, que estreia em Joinville na quinta-feira (23).
Aos 28 anos, Fernando representa a quinta geração circense da família e aprendeu o ofício com o avô. O artista nasceu durante uma temporada no Rio Grande do Sul e concluiu o ensino médio apesar das mudanças constantes de escola, como garante a legislação federal. Dentre todas as opções de carreira, escolheu a de palhaço:
— Eu tinha dois anos de idade quando minha mãe me maquiou de palhaço. Eu entrava junto com o meu avô no circo deles, e ali começou esse gosto por divertir as pessoas. Isso me trazia muita vida. Aí que eu falei: esse é o meu caminho, eu vou ser palhaço.
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O fascínio pela arte circense une a trajetória dos artistas que compõem os espetáculos do Mirage. O circo, com sede em São Paulo, roda pelo País há nove anos — dos quais dois permaneceu instalado em Manaus, por conta da pandemia de Covid-19 — e tem como anfitrião o ator Marcos Frota. No elenco, há 32 artistas de diversas origens e regiões, tanto nascidos em famílias circenses quanto profissionais que embarcaram na vida itinerante.
— Sabe quando falam “ah, ela foi embora com o circo”? Essa sou eu — conta a bailarina e coreógrafa Tereza Haianne, de 26 anos. De riso fácil, Tereza estrela no show de mágica e estampa os cartazes do circo.

A artista, graduada em Dança, fez audição para vaga de bailarina para durante uma temporada em Belém do Pará, em 2019. Após se apresentar na cidade natal, onde morava com a família, ela topou o convite para se apresentar em Macapá. De lá, foi para Santarém. Desde então, segue na estrada.
— O que me enfeitiçou foi mesmo a oportunidade de trabalhar. Também acabei me relacionando com um trapezista e a gente começou a namorar. De início, foi por conta do do trabalho. Depois, foi por amor também — compartilha a artista, que mora com o companheiro em um dos cerca de 40 trailers que ficam instalados em torno da lona.
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A rotina itinerante é a realidade de cerca de 9,5 mil trabalhadores empregados nos 651 circos ativos em todo o Brasil, segundo mapeamento da Fundação Nacional de Artes (Funarte).
Para participar do número de mágica e outros bailados do espetáculo às 20h30, a rotina começa duas horas antes. No camarim, Tereza se prepara ao lado da acrobata Caroline Valente, de 40 anos.
Sob o nome artístico de Carol Lubinah, a carioca se preparou desde a adolescência para ser artista circense. No Mirage, há nove meses, se apresenta na lira, uma espécie de arco suspenso, ligado ao teto da lona em movimento pendular. Em uma das manobras, que envolvem força e destreza, ela fica pendurada ao arco apenas pelo pescoço.
— Eu fazia ginástica olímpica e assistia na televisão as apresentações do Circo de Solei e falava para a minha mãe que queria ser trapezista — conta ela, que estudou na Escola Nacional do Circo, no Rio de Janeiro, dos 14 aos 18 anos e, desde então, atua profissionalmente no meio circense.
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A trajetória profissional da contorcionista Charne Potgieter, de 27 anos, também começou na ginástica olímpica. Natural de Joanesburgo, na África do Sul, Charne treinou desde os 11 anos, após ficar encantada com uma apresentação de contorção em circo — o mesmo onde fez a sua estreia, aos 19.
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Talentos catarinenses

O Mirage desembarcou em Florianópolis em dezembro, e a partir de 23 de março estreia em Joinville. A viagem até o Norte do Estado exige 60 carretas, transportando 800 toneladas de materiais. Inclusive, um globo da morte. Ao todo, a montagem da megaestrutura compreende mais de 19 mil metros quadrados.
No trailer-escritório, uma maquete mostra a disposição da estrutura no terreno: são quatro tendas, sendo uma principal – com capacidade para um público de 1372 pessoas —, duas auxiliares e uma de recepção, circundadas por trailers e por um gerador-carreta.
No percurso, o circo já incorporou dois artistas catarinenses: Alex Santiago, de 33 anos, e Paulo Roberto Rodrigues, de 40. A dupla foi convocada para fazer o mesmo número de malabarismo com os pés que apresentou por cinco anos no Beto Carrero World, em Penha.
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A convite do circo, Paulo conta que chamou Alex de volta de uma temporada de shows no México para retomar a parceria. Quem assiste, da plateia, Paulo lançando o colega em piruetas pelo ar não imagina que foram apenas três semanas de ensaio para retomar a sinergia.
— Sou de Penha, então por estar perto a gente sempre ficou muito emocionado de ver o pessoal saltar [no parque]. Ficava muito fascinado — compartilha Alex, que pretende seguir viagem com o Mirage.
Serviço
A estreia do Mirage Circus será às 20h30min de quinta-feira, 23 de março, com a presença do ator Marcos Frota. O circo está instalado na Avenida Beira-Rio, ao lado do Sesc Joinville. Assinantes do Clube NSC podem obter ingressos para o espetáculo com 50% de desconto