Um despachante e uma empresa de vistoria de veículos tiveram as atividades suspensas na última sexta-feira (1º), após serem alvos da Operação Profusão, em Joinville, que investiga um suposto esquema de corrupção que acontecia dentro do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) da cidade. No órgão, pessoas “limpavam” carteiras de habilitação de motoristas de outros municípios catarinenses e até de outros estados.
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Os estabelecimentos foram notificados pela Polícia Civil e devem manter os locais fechados até que uma nova decisão judicial envolvendo a investigação seja emitida.
De acordo com o delegado Pedro Alves, da Delegacia Especializada em Combate à Corrupção (Decor), a investigação aponta que condutores de Balneário Camboriú, Florianópolis, do Paraná, São Paulo e Goiás vinham até a cidade para zerar as multas das CNHs de forma irregular.
Um dos servidores que atuava no Ciretran de Joinville, órgão vinculado ao Detran estadual e responsável pelo setor de multas e documentação, era o responsável por fazer a liberação dos documentos. Para isso, ele inseria no sistema do órgão dados adulterados. Quando quem procurava pelo serviço não era da cidade, por exemplo, até o endereço cadastrado era falso.
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Mais de 100 motoristas beneficiados com as fraudes foram identificados na Operação Profusão, deflagrada nesta quinta-feira (30). Em um dos casos, segundo investigador, o condutor que teve a liberação para dirigir estava com mais de 240 pontos na carteira.
— Um agente público dificilmente atuaria sozinho, ainda mais que a metade dos condutores não são de Joinville. Então, iniciamos a investigação e identificou-se um núcleo criminoso — destaca Pedro Alves.
Este servidor, um despachante, foi preso nesta manhã de quinta-feira (30) na operação da Polícia Civil. Durante a apuração do caso, ainda foi descoberto que, para cometer os crimes, este funcionário público utilizava o login e a senha de um colega de trabalho para evitar que fosse descoberto.
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Vereador é suspeito de cooptar pessoas para o esquema
O delegado diz que os cabeças do esquema eram servidores, pessoas que atuavam no poder público, e profissionais ligados a serviços de despachantes. Seis pessoas são investigadas no total e, entre eles, o vereador Mauricinho Soares (MDB). Segundo aponta a investigação, o parlamentar era o responsável por cooptar motoristas para buscar o serviço de maneira ilícita.
Mauricinho foi preso durante a ação policial por posse ilegal de arma de fogo, encontrada na casa do parlamentar. Quando questionado, de acordo com a polícia, o vereador alegou que ganhou a arma de presente e a mantinha em casa há mais de 20 anos por questão de defesa pessoal.
Durante a tarde, Mauricinho foi encaminhado ao Presídio Regional de Joinville e foi liberado após o pagamento de R$ 12 mil em multa. O advogado do vereador Mauricinho Soares (MDB), em nota enviada à reportagem, diz que o vereador “foi alvo de uma investigação policial decorrente de fatos que já estão sendo esclarecidos e que não passam de intrigas políticas”.
Os envolvidos são investigados por crimes de falsidade ideológica, inserção de dados falsos em sistema de informações e organização criminosa. Entre eles, além do vereador e do despachante, estão dois trabalhadores terceirizados do Detran e dois ex-funcionários, que participavam do esquema mesmo após terem deixado o órgão.
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Já os motoristas beneficiados, caso seja comprovado que buscaram o serviço de forma irregular, além de terem a CNH novamente bloqueada, podem responder por corrupção ativa.
O que diz o Detran
O presidente do Detran – SC, Kennedy Nunes, e a Corregedora do órgão, a delegada Fedral Konell, divulgaram uma manifestação após a operação desta quinta em Joinville. Em nota, dizem que “são enfáticos em afirmar que “as ilegalidades cometidas dentro do Departamento serão investigadas e, na comprovação dos crimes, punidas com o rigor da lei”.
Veja o que diz Kennedy Nunes:
“Nossa Corregedoria tem total aval para, em conjunto com a Polícia Civil, apurar todos os fatos criminosos que são praticados por pessoas que trabalham no Detran/SC ou são credenciados, prestadores de serviços. Não vamos admitir que o Detran seja usado por pessoas de má fé para enganar ou ludibriar os nossos procedimentos. Lembrando que os beneficiados pelo crime também serão investigados e, se comprovado, serão punidos. Quando fui chamado para assumir o Departamento de Trânsito pelo governador, a determinação foi bem clara, a de ‘arrumar a casa’, e é o que estamos fazendo”.
Saldo da Operação Profusão
A investigação iniciou em janeiro deste ano e, no decorrer da apuração, foram descobertas mais de 100 condutas criminosas. De acordo com o delegado Ross, em três meses, foram auditados 60 processos de liberação de CNH a condutores impedidos de dirigir com envolvimento dos suspeitos. Desses, 58 apresentaram irregularidades.
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Além das prisões, também foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão e duas ordens de suspensão de atividades de duas empresas do ramo despachante com sedes em Joinville e Araquari. Nos endereços, foram apreendidos aparelhos eletrônicos, especialmente telefones celulares, e documentos relacionados aos fatos sob apuração.
Agora, esses documentos serão analisados pela polícia a fim de comprovar os crimes e, possivelmente, identificar outros envolvidos no esquema fraudulento. Há a suspeita de que cada envolvido recebia quantias em dinheiro para cumprir com sua parte no esquema.
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