Grandes empresas catarinenses estão apostando alto no uso de realidade virtual (VR) e elevando o nível de competitividade em seus respectivos mercados. As plantas da Embraco, Whirlpool e Rôgga Empreendimentos, instaladas em Joinville, são algumas das referências no emprego da tecnologia, que, junto da realidade aumentada (AR), promete movimentar US$ 182 bilhões até 2025 no mundo, segundo projeções do banco de investimentos americano Goldman Sachs.

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O potencial da aplicação de Realidades Aumentada e Virtual já demonstra indícios fortes de expansão nos últimos anos, alcançando em 2017, US$ 3,2 bilhões, conforme estudo da IHS Markit – provedora global de informações. Os números demonstram uma estrutura sólida de crescimento conquistada pelo crescente investimento das companhias globais em aplicativos, conteúdos e equipamentos baseados em RV.

Para se ter uma ideia, os gastos dos consumidores com headsets de realidade virtual bateram a marca de US$ 2,4 bilhões há dois anos, e a previsão é de que chegue a US$ 5,9 bilhões até 2021. Nas fábricas de Joinville, a tecnologia é utilizada com o objetivo de otimizar processos, além de evitar retrabalho e reduzir erros em produtos, máquinas e processos. Há ainda implementação comercial, que permite experiência de navegação virtual para a geração de novos negócios. Veja exemplos:

Redução de 3% no custo de produção de equipamentos

Em Joinville, a presença efetiva da realidade virtual existe desde janeiro de 2018 em vários setores da Embraco – líder mundial em compressores para refrigeradores e detentora de mais de 30 prêmios de inovação. Dentre as áreas que utilizam o método estão as de Pesquisa e Desenvolvimento e Engenharia de Processos e Operações.

A aplicação contempla equipamentos que ainda serão construídos e implementados nas linhas de montagem na fábrica, que chega a ter capacidade produtiva anual de 37 milhões de compressores globalmente. Ou seja, grande parte dos equipamentos que entram na manufatura é visualizada com antecedência por meio de RV. Ao ano são de 20 a 30 máquinas validadas via RV. Tudo acontece em uma estação de trabalho com óculos de realidade virtual, sensores de posição e controles remotos, em que feitos ajustes específicos, o usuário consegue imergir no mundo virtual e analisar as funcionalidades do equipamento.

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De acordo com Rogério Morrone, especialista em Processos da Embraco, a aplicação contempla o processo de digitalização da manufatura iniciada nos últimos anos. O objetivo é garantir mais qualidade, segurança, produtividade e agilidade à produção. Ao mesmo tempo, os investimentos previnem falhas e auxiliam a empresa na tomada de decisões.

— O uso da Realidade Virtual já permitiu reduzir, em média, 3% do custo total de produção de equipamentos, além de acelerar sua implementação na fábrica. Por meio da tecnologia todos os envolvidos conseguem ver a máquina em tamanho real e podem corrigir eventuais erros antes mesmo das fases de produção e implementação — aponta.

Na planta joinvilense, um bom exemplo vem da linha de fabricação do rotor – um dos componentes do compressor, composto por sete etapas de montagem. Por meio de um projeto 3D e com uso direto de realidade virtual, foi possível discutir sobre os ferramentais empregados na linha até chegar naquele que seria o mais adequado.

Ganhos apontados no sistema

O sistema também apontou a necessidade de mudanças na concepção do equipamento, como realocar a posição de alguns motores e atuadores, facilitando o acesso futuro das equipes de manutenção. Outro ganho foi a melhoria nas condições ergonômicas nos postos de trabalho do chão de fábrica. Uma realidade bem diferente do passado, quando Morrone ingressou na empresa há 25 anos.

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— A rapidez com que as informações fluem é a principal diferença, Na época que eu entrei a gente estava comprando um grande equipamento e as informações vinham por fax, em que o desenho da máquina era composto por 20 folhas, que depois tínhamos que montar. O tempo para desenvolver o projeto era muito maior, hoje devido a tecnologia a velocidade com que as coisas acontecem (na execução de um projeto) é fantástica — compara Morrone.

O ganho também se reflete em maior competitividade. “Em termos de competição, a diferença é muito grande, porque você consegue reduzir o prazo de implantação e execução de um processo. É como se a RV atuasse como uma ferramenta preventiva, a qual demanda menor custo e reduz a possibilidade de falhas, e com isso se ganha um tempo precioso”, considera.

Uso na engenharia e design de produto

A fabricante de eletrodomésticos Whirlpool, dona de marcas como Brastemp e Consul, utiliza a realidade virtual tanto na parte de engenharia quanto no design de produtos desde 2017. A tecnologia de interface é voltada ao consumidor por meio do ‘Design Thinking’, que desenvolve novos produtos tendo o cliente como foco. O intuito é conquistar a escolha do consumidor, visando suas preferências.

— Neste processo, temos a oportunidade de entrar na jornada do consumidor, podendo identificar as suas necessidades e cruzá-las com tendências tecnológicas e de mercado, além de testar conceitos e desenvolver novas tecnologias. Além disso, temos a possibilidade de colaboração em tempo real com os Estados Unidos, onde há uma mesma sala de realidade virtual em que podemos ver os protótipos ao mesmo tempo e, assim, gerar mais sinergia para o negócio — atesta Marcelo Minasi, diretor de Desenvolvimento de Produto na Whirlpool.

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Dados da empresa mostram que nos últimos anos, a companhia superou a barreira de 25% da receita adquirida por meio de produtos considerados inovadores, tendo a realidade virtual como grande aliada. Desde o início da utilização desse tipo de tecnologia, a fábrica já contabiliza mais de US$ 600 mil de economia, e pretende ampliar o recurso para outras plantas no País.

Ao todo são duas salas com o equipamento de RV na gigante global, uma nos Estados Unidos e outra em Joinville. Por aqui, dos aproximadamente seis mil colaboradores, 340 são responsáveis pela área de tecnologia e inovação. Para realizar os testes, o produto é inserido em um software para ser analisado.

— Colocamos o óculos de realidade virtual e, assim, entramos no ambiente para realizar as análises necessárias. Além disso, com os joysticks – manípulo eletrônico – interagimos com o produto, simulando as próprias mãos — revela Marcelo Minasi.

Os benefícios dessa aplicação são mensuráveis e imensuráveis. É possível reconhecer pontos de melhoria no desenvolvimento dos produtos sem a necessidade de criar protótipos, economizando tempo e energia.

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Somente em 2017 foi realizado o lançamento simultâneo de 50 novos produtos, em seis categorias, todos com auxílio da RV. Em fevereiro de 2018 houve mais 50 lançamentos, também em seis categorias, de uma só vez. “Praticamente todos os produtos das categorias de cocção e refrigeração tiveram contato com a tecnologia de realidade virtual”, reforça.

Cliente tem experiência antes da compra

A capacidade de utilização dos óculos que simulam a realidade chega a ser intangível, tanto que é utilizado para potencializar a área comercial de alguns setores. No ramo das construtoras um dos exemplos vem da Rôgga Empreendimentos, que desde 2015 realiza uma espécie de “tour virtual”, primeiro com a internet, depois aliado ao uso dos headsets de RV. Nessa modalidade, o cliente é imerso em uma experiência capaz de trazer a sensação de que está dentro de um apartamento em tamanho real. O retorno é representativo, segundo a companhia.

Conforme Maurício Costa, gerente de Marketing da Rôgga, a inovação ocorreu com a criação de um aplicativo específico e os próprios óculos, relacionados às projeções dos imóveis feitas por softwares. O equipamento facilita a venda dos produtos principalmente para quem é de fora de Santa Catarina e tem a oportunidade de conhecer ao menos seis empreendimentos lançados no Litoral Norte catarinense de onde estiver. A medida também representa cerca de 5% dos custos com a construção de um decorado para visitação.

— Com essa tecnologia, o cliente acaba tendo uma experiência mais interessante, porque dá a sensação de que ele está dentro, de fato, do apartamento. Não só na área privativa, mas também nos ambientes comuns e de lazer. Hoje praticamente todos os nossos clientes de outros estados e até fora do País experimentam esse recurso — destaca.

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Um dos imóveis com o sistema ativo é o Vila Açoriana, de Barra Velha, que ainda está em fase de vendas. Neste empreendimento, quando o potencial comprador faz uso da realidade virtual, ele consegue ter uma visão em 360º de todo o prédio, de dentro da piscina, e com o mar ao fundo.

A intenção da empresa agora é aprimorar ainda mais o sistema, dando ao cliente num futuro próximo a liberdade, por exemplo, de pré-definir as cores dos ambientes, os estilos dos móveis e até a decoração do decorado virtual a ser visitado.

A expectativa é de que essa guinada à inovação também contribua para o atingimento da meta global da empresa para este ano, de R$ 240 milhões em valor geral de vendas (VGV).