As empresas dos Estados Unidos, já abaladas pela alta dos preços do petróleo, temem que as tarifas à importação de aço e alumínio afetem seus investimentos e levem a demissões.

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Exceto o setor siderúrgico, a maioria das organizações empresariais americanas consideram “decepcionante” e “antiprodutiva” a imposição de tarifas de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio importados da União Europeia, do Canadá e do México, anunciada nesta sexta-feira (1).

Essas tarifas, que se somam às das importações da China e do Japão, entre vários outros países, impulsionarão um aumento de preços em bens como carros, cervejas e conservas, dizem essas organizações que tentaram, em vão, fazer a Casa Branca desistir de seu impulso protecionista.

“É um duro golpe para o setor industrial dos Estados Unidos restringir a cadeia de fornecimento de matérias-primas através da imposição de tarifas alfandegárias sobre as importações de nossos parceiros comerciais mais próximos”, disse Paul Nathanson, porta-voz de uma associação de cerca de 30 mil empresas, cuja produção depende de aço e alumínio.

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– Ford afetada –

Para Nathanson, “as empresas serão forçadas a enfrentar opções difíceis em tecnologia, investimentos e emprego”.

A UE, o Canadá e o México enviaram 44% das importações de aço do primeiro trimestre deste ano.

Em 2002, o então presidente George W. Bush impôs taxas sobre o aço, e 200 mil empregos foram perdidos, mesmo com o Canadá e o México isentos. Devido à pressão da UE, essas tarifas foram eliminadas um ano depois.

Agora, pelo menos 70 mil empregos líquidos devem desaparecer no setor industrial nos próximos dois anos, de acordo com a Oxford Economics.

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A Ford, cuja última versão da bem-sucedida picape F-150 é composta de alumínio, relatou, no primeiro trimestre deste ano, um custo adicional de 1,5 bilhão de dólares devido ao aumento no preço das matérias-primas. Essa fatura, que não incluiu a alta do alumínio, deve subir ainda mais nos próximos meses, teme a empresa.

A Arcocin, que fornece materiais para a indústria automobilística e aeronáutica, revisou para baixo suas expectativas de lucro para 2018, e a fabricante de ketchup, condimentos e sopas Kraft Heinz teme que o custo das embalagens aumente.

“Os fabricantes que enfrentam o aumento do custo das matérias-primas têm a opção de assumir a redução das margens de lucro ou de transferi-la para os clientes”, observa Patrick O’Hare, analista da empresa Briefing.com. “Se eles optarem pelo segundo, seus clientes transferirão para os seus e assim por diante, até que haja uma inflação generalizada”.

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– Ira dos agricultores –

Os efeitos do protecionismo instaurado por Trump têm impacto na agropecuária, o pulmão econômico dos estados que o levaram a vencer as eleições de 2016. México e Canadá já anunciaram represálias alfandegárias contra carne de porco, maçãs, iogurte e papel higiênico.

“Os direitos alfandegários prejudicam os agricultores americanos e deixam algumas áreas à beira do abismo”, disse Brian Kuehl, do Farmers For Free Trade, um lobby agrícola.

A indústria automobilística, que absorveu 27% da demanda de aço em 2017, também tem medo de perder competitividade.

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“Uma tarifa aduaneira é um imposto, e essa decisão aumentará os preços e afetará os fabricantes de carros americanos e seus clientes”, disse John Bozzella, presidente do grupo Here for America, que reúne fabricantes e concessionária.

“As represálias de nossos parceiros aumentariam o impacto e colocariam em risco as exportações americanas”, acrescentou.

O aumento levará ao adiamento ou cancelamento de bilhões de dólares em investimentos em fábricas de produtos químicos que foram anunciados nos últimos 10 anos, disse Cal Dooley, membro do American Chemistry Council, o lobby de uma indústria que está em pleno renascimento devido ao auge da extração de gás e petróleo de xisto.

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* AFP