O principal empresário venezuelano, Lorenzo Mendoza, descartou nesta terça-feira deixar seu país, após ser denunciado pelo chavismo na Procuradoria por “traição à pátria”, o que poderia levá-lo a cumprir vários anos de prisão.
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“Vivo aqui com a minha família na Venezuela, vou viver sempre aqui com a minha família, não vou a lugar nenhum”, declarou Mendoza à imprensa na cidade de Maracay (centro), em uma das 28 fábricas de sua companhia, Empresas Polar, principal produtora de alimentos do país, da qual é presidente.
Cercado de funcionários que o saudaram durante sua intervenção, o industrial, de 50 anos, prometeu responder “com mais trabalho e compromisso” ao que considerou um “assédio permanente e crescente” das autoridades.
“Estes ataques tentam disfarçá-los contra mim, mas são contra as Empresas Polar e por isso todos aqui temos um lema: trabalho, compromisso e investimento”, afirmou.
Vinculando-se a supostas negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a bancada governista na Assembleia Nacional denunciou Mendoza por “traição à pátria, usurpação de funções e associação para delinquir”, em 21 de outubro passado.
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Só a acusação de traição à pátria é penalizada com 8 e 30 anos de prisão.
A ação se baseia em um diálogo entre Mendoza e o economista venezuelano Ricardo Hausmann, que foi difundido em 14 de outubro passado pelo presidente do Parlamento e número dois do chavismo, Diosdado Cabello.
Até agora os acusadores não detalharam a forma como a conversa foi gravada que, segundo Mendoza é uma “violação de sua privacidade”.
O recurso destacou que o empresário e Hausmann – professor da Universidade de Harvard, que também foi denunciado – suplantaram o governo ao mencionar supostas gestões ante o FMI para um resgate que tire a Venezuela da crise econômica.
“O único crime que temos é trabalhar, se comprometer, pensar e investir na Venezuela”, se defendeu Mendoza, vestindo uma camisa de trabalho da Polar.
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Situado na 690ª da lista da Forbes com uma fortuna de US$ 2,7 bilhões, o empresário – reconhecido por seu estilo informal e direto – disse que a companhia foi submetida a 500 inspeções e a uma “campanha de desprezo” por parte da imprensa estatal.
Apontado pelo chavismo por fazer parte de uma “guerra econômica” para desestabilizar o governo, Mendoza atribuiu os graves problemas de escassez na Venezuela ao monopólio que o Executivo mantém sobre as divisas, o que obrigou a Polar a paralisar algumas linhas de produção pelas dívidas do Estado com os fornecedores de matérias-primas.
Após a gravação, difundida a poucas semanas das eleições legislativas de 6 de dezembro, o presidente Nicolás Maduro intensificou os ataques a Mendoza, a quem chama de oligarca, dando continuidade a uma retórica contra o industrial mantida pelo falecido presidente Hugo Chávez (1999-2012).
* AFP