O médico e empresário paulista Fábio Deambrosio Guasti é apontado pela investigação como um dos principais responsáveis por intermediar a venda dos 200 respiradores da empresa Veigamed para o governo de Santa Catarina. O Estado pagou R$ 33 milhões de forma adiantada pelos equipamentos, mas os primeiros 50 ventiladores pulmonares só chegaram nesta quinta-feira a SC – e agora são alvo de apreensão a pedido do próprio governo.
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Uma reportagem do portal The Intercept Brasil publicada nesta sexta-feira informa que o empresário Fábio Guasti também possui contratos com o governo do Pará e de Goiás.
Segundo a investigação que apura irregularidades na compra dos respiradores, o ex-secretário da Casa Civil de SC, Douglas Borba, teria indicado o nome de Fábio como representante que poderia fornecer os ventiladores para a servidora Márcia Geremias Pauli, que operava o processo de compra. O ex-secretário nega.
Embora não figure como sócio da empresa Veigamed, foi Fábio quem encaminhou a proposta da empresa que acabou sendo escolhida e “atuou em nome da Veigamed durante todas as tratativas que antecederam a contratação”, segundo trecho do inquérito.
Já os contratos no Pará e em Goiás teriam sido firmados também de forma emergencial, com outra empresa na qual Fábio aparece oficialmente como sócio, a Meuvale Gestão Administrativa. A contratação seria para fornecer vale alimentação a estudantes durante a pandemia do novo coronavírus.
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Somente no caso do Pará, conforme o The Intercept Brasil, o contrato poderia render R$ 21,5 milhões em três meses.
Além desses dois Estados, a empresa de Fábio também possuía contrato com a Prefeitura de Florianópolis. Na segunda-feira (11), após o nome do empresário aparecer na investigação da compra dos respiradores, o município informou o cancelamento da contratação. A prefeitura alega que o acordo, firmado em 31 de março, não tinha custo para o município, e que os R$ 398 mil repassados à empresa correspondiam apenas aos benefícios depositados como crédito no cartão de vale alimentação dos estudantes e beneficiários. A contrapartida da empresa ocorreria na porcentagem das compras feitas.
Ex-jogador da seleção diz ter intermediado contato com prefeituras de SC
A reportagem do The Intercept Brasil também cita que no anúncio do contrato da prefeitura de Florianópolis com a Meu Vale, o ex-jogador do Figueirense, Corinthians, Flamengo e da seleção brasileira, André Santos, atuou como garoto-propaganda. O ex-jogador afirmou à reportagem do site ser amigo de Guasti e também compadre de Gilliard Gerent, morador de Biguaçu que é investigado por também ter representado a Veigamed em uma reunião feita para o Estado cobrar a entrega dos respiradores após a compra.
O ex-jogador disse à reportagem do The Intercept Brasil que teria atuado como uma espécie de cartão de visitas para a empresa de Guasti em SC por ter contatos em prefeituras.
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Ele também afirmou que teria intermediado negociações para adesão do cartão em Blumenau e Tubarão. André Santos, no entanto, disse não saber nada sobre a venda dos respiradores e que essa negociação não foi feita pela Meu Vale.
Em nota nesta sexta-feira, o prefeito de Tubarão, Joares Ponticelli (PP), afirmou que a prefeitura não fez qualquer compra ou contratação com as empresas citadas na reportagem do The Intercept Brasil nem teve qualquer contato com o ex-jogador André Santos e com os outros empresários citados na matéria.
A prefeitura afirmou que as compras emergenciais durante a pandemia são divulgadas na internet e que as cestas básicas e alimentos fornecidos a pessoas carentes e estudantes são entregues de forma presencial, sem uso de nenhum cartão de benefícios.
A prefeitura de Blumenau também divulgou nota afirmando que o município não tem nem teve nenhum contrato com a empresa Meu Vale ou com outras empresas e empresários citados na reportagem do The Intercept Brasil.
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A prefeitura informou que recebeu uma visita de André Santos, mas ele teria sido acompanhado por dirigentes do Clube Atlético Metropolitano e o encontro seria para apresentar uma parceria entre o time de futebol da cidade e o ex-jogador.
Por fim, a prefeitura de Blumenau também informou que não utiliza cartão de alimentação e que kits de alimentação escolar são entregues de forma presencial nas escolas.
No portal da transparência dos municípios de Blumenau e Tubarão, não consta nenhum contrato com a empresa de cartões de Fábio.
Empresário nega ligação com Veigamed e compra de respiradores
Fabio Guasti é médico e responde por mais seis empresa além da Meu Vale. Ele não aparece no quadro de sócios da Veigamed, mas segundo trecho da investigação do Ministério Público de SC que apura a compra dos ventiladores pulmonares, “é absolutamente inegável sua participação na negociação dos respiradores, possivelmente como um dos ‘donos de fato’ da empresa de fachada”.
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O intermediário da compra dos respiradores vive em Guarulhos (SP), mas tem negócios como uma empresa que aluga ambulância e uma administradora de shopping center.
À reportagem do The Intercept Brasil, Guasti disse não ter envolvimento com a Veigamed e sequer saber da compra dos 200 respiradores pelo governo de SC.
– Eu não conheço a empresa e não tenho ligação nenhuma com isso. Não sei porque estão citando meu nome – afirmou ao site.
Empresas usaram mesmo serviço de contabilidade
Embora negue conhecer a empresa, Guasti teria contribuído com o início da atuação da Veigamed em Santa Catarina. A reportagem do The Intercept Brasil mostra que o contador responsável por abrir a filial da Meu Vale em Florianópolis foi também contratado para o fazer o mesmo serviço para a Veigamed.
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A contratação teria sido solicitada por um funcionário da Meu Vale, que não teve a identidade revelada na reportagem. O profissional de contabilidade tem escritório em Biguaçu, na Grande Florianópolis.
Em nota enviada ao Intercept, a própria Veigamed confirmou que Guasti atuou “pontualmente neste negócio com a sua experiência profissional por meio de consultoria”.