O naufrágio quase custou a vida do empresário Mayron Dalla Santa de Carvalho, de Caxias do Sul. Ele chegou a ficar um minuto preso debaixo d’água. Também temeu por um casal de amigos alemães, o advogado Thomas Weiser e a assistente social Sabine, ambos de 49 anos, que vieram da Europa passar uma temporada com ele e vão voltar assustados com as condições de segurança no país:
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Zero Hora – Quais eram as condições da embarcação?
Mayron de Carvalho – Antes do embarque, um funcionário inflou bastante a segurança do barco. Disse que era de alta tecnologia, com rádio e GPS, e que a navegação seria tranquila naquele dia. Fomos entrando um a um. Foi respeitada a capacidade de 20 passageiros e dois tripulantes, mas uma mãe e uma criança ficaram no chão, porque não havia lugar para todos sentarem. Achei os coletes salva-vidas de péssima qualidade.
Veja o vídeo do resgate:
ZH – Quando os problemas começaram?
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Carvalho – Depois de 25 minutos, o barco começou a encher de água, por causa do choque com as ondas. Elas vinham de cinco em cinco segundos, e ventava bastante. Dava um frio na barriga. O pessoal tentou descontrair e fazer piada. A gente dizia: olha em que furada nos metemos. Eu olhava para a água e pensava: daqui a pouco fica mais tranquilo.
ZH – Como foi o naufrágio?
Carvalho – O barco bateu de frente com uma onda. Entrou muita água. A base de fibra se soltou da boia e naufragou. O bico afundou. Todo mundo correu para a parte de trás. Eu fiquei perguntando ao comandante onde estava o rádio e se tinha sinalizador, mas a resposta dele não passou segurança, o que causou desespero. Teve gente gritando, choro de criança, idosos desesperados. Foi aterrorizante, um trauma. Vi que a minha vida e a de meus amigos estava em risco.
ZH – Como vocês conseguiram pedir ajuda?
Carvalho – Um passageiro disse que tinha celular. Um tripulante telefonou para a pousada e disse que estávamos naufragados.
ZH – Houve outros momentos de risco?
Carvalho – Nós estávamos segurando entre o barco e a boia. Segundos depois do telefonema, a parte de trás do barco se descolou da boia também e afundou. Foi todo mundo para dentro do mar. Quando isso aconteceu, eu fui empurrado para baixo da água pelo teto de lona. Ao mesmo tempo, o colete me puxava para cima. Fiquei submerso por quase um minuto. Pensei que podia morrer ali. Abri os olhos dentro do mar, achei a barra que segurava o teto e puxei. Foi assim que consegui sair.
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ZH – Como foi a espera pelo socorro?
Carvalho – Alguns começaram a se afastar pela água, em pânico, sem saber o que fazer. Consegui puxá-los de volta com um remo. Ficou todo mundo em volta das boias. O tripulante do barco foi guerreiro. Enquanto o comandante estava na boia, ele ficou o tempo todo nadando e segurando a criança, sem colete. Foi quem mais nos tranquilizou. Não sei como é a sensação de hipotermia, mas todo mundo sentia muito frio. Eu comecei a tremer e a ficar mal. Pensei em nadar até a costa se o socorro não viesse.
ZH – Quanto tempo vocês ficaram na água?
Carvalho – Entre 25 e 35 minutos. Quando o helicóptero nos localizou, as pessoas caíram no choro. Um bombeiro saltou do helicóptero e salvou a criança. Mas ainda não estávamos 100% tranquilos. Começou a entrar água no barco dos bombeiros. Chegaram vários jet skis particulares, que foram levando os passageiros para a costa.
ZH – Qual foi a reação de seus amigos da Alemanha?
Carvalho – Ficaram muito assustados, com uma impressão de falta de segurança nos serviços brasileiros. Disseram que na Alemanha barcos e carros passam por revisões. A Sabine ainda chora. Os filhos deles, quando souberam, ficaram desesperados. Hoje (ontem) viemos para a casa de parentes em Imbé e fomos recebidos com festa e banho de espumante. Foi um brinde à vida.