Um relatório da empresa responsável pelo projeto do reservatório da Casan no bairro Monte Cristo, em Florianópolis, apontou que a empresa teria executado a obra com sete divergências em relação ao previsto no projeto e teria usado cerca de 10 toneladas a menos de aço do que o planejado para a obra.
Continua depois da publicidade
Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp
As informações foram abordadas na sessão desta terça-feira (7) na comissão mista criada na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) para analisar o rompimento do reservatório da Casan em Florianópolis.
O relator da comissão, deputado Mário Motta (PSD), conduziu a sessão e fez questionamentos sobre as divergências ao engenheiro Paulo Henrique Wagner, da empresa Toposolo, responsável pela elaboração do projeto.
O relatório foi elaborado pela Casan com informações de fiscais da empresa Toposolo, liderada pelo engenheiro ouvido nesta terça-feira, e apontou sete divergências entre o que estava previsto no projeto feito pela companhia e o que foi executado pela empresa vencedora da licitação para a obra, a Gomes e Gomes. Três delas foram melhor detalhadas ao longo da sessão.
Continua depois da publicidade
A primeira delas foi a divergência do diâmetro de estribos, peças de aço usadas para reforçar estruturas de concreto. O projeto previa estribos de 10 milímetros de diâmetro a cada 20 centímetros, na região do pilar, mas os encontrados nas vistorias eram de cinco milímetros. Na prática, o engenheiro explicou que isso representaria uma capacidade de apenas 20% da resistência total prevista no projeto.
A diferença foi classificada por ele como “um fato grave” e como a possível causa da ruptura. A informação de uso de estribos de cinco milímetros em vez de 10 milímetros já havia sido citada em relatório do Tribunal de Contas do Estado, divulgado em primeira mão pelo colunista da NSC, Renato Igor.
Outro ponto em que a obra teria sido executada de forma diferente do que havia sido previsto no projeto foi a colocação de barras dos pilares em posições inadequadas. Segundo o relatório, o planejamento da obra previa 13 barras de 25 centímetros posicionadas no lado externo do pilar, entre esta estrutura e a parede. Na execução, no entanto, os engenheiros identificaram que essas barras estavam colocadas mais para o interior do pilar.
A terceira divergência entre o projeto e a obra detalhada nesta terça foi a ausência de uma armadura adicional de ligação entre os pilares e as paredes. As quatro vistorias feitas após o incidente não encontraram indícios de que a armadura prevista, de 16 milímetros e espaçada a cada 15 centímetros, tenha sido executada.
Continua depois da publicidade
No total, todas as divergências apontadas indicariam que a empresa responsável pela execução teria utilizado cerca de 10 toneladas a menos de aço do que o que era previsto no projeto.
— Lá nós temos oito pilares à mostra. Se extrapolarmos para 40 pilares, isso (armaduras possivelmente não executadas) dá uma ordem de 8 mil quilos de aço a menos na estrutura. De estribos a menos, em torno de 3 mil quilos. Então, vamos arredondar em 10 mil quilos de aço a menos que está visível, que a gente consegue ver e perceber só porque rompeu. A gente não sabe afirmar se nos outros pilares que estão íntegros lá essa armadura existe ou não existe, mas se a gente extrapolar, dá nessa situação (10 toneladas a menos) — afirmou Wagner.
Veja imagens da destruição no Monte Cristo, em Florianópolis
Possíveis efeitos das mudanças na obra
O deputado Mário Motta ponderou que as divergências podem não explicar o rompimento, mas são informações que precisam ser melhor analisadas.
Continua depois da publicidade
— Sabe-se que isso talvez não responda às causas que levaram ao rompimento do reservatório, mas são divergências que só os especialistas, por meio de laudos periciais, saberão dizer os reais motivos que levaram ao rompimento — pontuou.
Apesar disso, o engenheiro garantiu que se a obra tivesse sido executada de acordo com o que foi estabelecido no projeto, o rompimento do reservatório não teria ocorrido. O uso de estribos menores do que o previsto foi apontado por ele como uma das principais divergências.
— Se o processo executivo seguisse o projeto, não teríamos esse fato (rompimento) — afirmou o engenheiro.
Contraponto
A reportagem fez contato com a defesa da construtora Gomes e Gomes e com a assessoria da Casan para comentar os apontamentos feitos pelo engenheiro na sessão da comissão da Alesc. A defesa da construtora ainda não retornou. À NSC TV, a empresa afirmou que só irá se manifestar quando estiver de posse de mais informações que virão da análise técnica.
Continua depois da publicidade
A Casan divulgou nota em que afirma que “a responsabilidade da execução do projeto é da empresa construtora contratada através de licitação e que ela deve ser procurada para dar esclarecimentos”. A autarquia ainda afirmou no texto que “qualquer responsabilização da fiscalização da obra por parte da Casan só poderá ser definida depois dos laudos periciais, tanto da perícia executada pela Polícia Científica quanto da perícia que a companhia contratou paralelamente”.
Leia também
Retomada de obra polêmica da Casan é desafio para a “nova modelagem” de Florianópolis