Um funcionário da Serrana, empresa de Joinville e pivô na Operação Mensageiro, afirmou que existia um “setor de propinas”, com servidor próprio, para emitir relatório dos lançamentos de notas fiscais frias de verbas ilegais pagas aos beneficiários com o suposto esquema de corrupção. Em depoimento na tarde desta terça-feira (30), no Fórum de Joinville, ele ressaltou que alguns funcionários cuidavam somente do esquema de corrupção.

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Outro funcionário disse que foi contratado pela diretoria da Serrana como “operador de propina”. Ele teria sido convidado a fazer o serviço após sair da empresa e trabalhar como autônomo no setor de peças. O homem ainda afirmou que atuou no esquema de 2014 a 2022, e começou recebendo R$ 3 mil por mês, mas a remuneração chegou a R$ 6 mil. 

Já um terceiro empregado da empresa disse em depoimento que era o responsável por procurar empresas dispostas a emitir notas fiscais frias, que eram usadas para a Serrana fechar a contabilidade. O foco era, principalmente, postos de gasolina e oficinas mecânicas. O rapaz teria, inclusive, uma meta de R$ 400 mil mensais em notas frias. Já a remuneração era de R $6,5 mil por mês. 

As afirmações ocorreram durante depoimento no Fórum de Joinville. Um deles disse que as entregas de dinheiro aconteciam em locais combinados. Outro ainda complementou que emitia notas fiscais para a Serrana envolvendo as peças que vendia, que eram utilizadas no esquema com os prefeitos. 

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Diretor operacional disse que empresa avaliava se propina era vantajosa

Outro funcionário da Serrana ouvido na tarde desta terça é um diretor operacional de água e esgoto. Ele afirmou à Justiça que era uma “ponte” entre os diretores da empresa e agentes públicos. Conforme o homem, a diretoria avaliava se o pagamento de propina iria trazer vantagens à Serrana antes de fazer o pagamento.

Segundo o funcionário, a empresa de Joinville chegava a indicar itens a serem colocados nos editais para facilitar o esquema. 

Dono da Serrana disse ter “problemas em 30 ou 40 cidades”

Na manhã desta terça-feira, o dono da empresa Serrana Engenharia, pivô da Operação Mensageiro, disse em depoimento que a empresa teve problemas em “30 ou 40 cidades” em que atuava, número que representa cerca de 25% dos contratos com os municípios. O empresário citou os “problemas” nas cidades ao defender a licitude da atuação da empresa nos serviços de coleta de lixo.

— Temos 135 cidades em que trabalhamos. Dessas, em 30 ou 40 tivemos problema com isso (pagamento de propina). Os outros trabalhos são lícitos. Agora já estamos com nosso compromisso de colaboração, toda a nossa equipe está colaborando — afirmou.

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Prefeito de Itapoá confirmou que recebeu propina

O prefeito de Itapoá, Marlon Neuber (PL), preso na primeira fase da Operação Mensageiro, em dezembro de 2022, confirmou o recebimento de propina da empresa investigada, a Serrana Engenharia. Segundo ele, os pagamentos teriam ocorrido entre 2017 e 2022 e chegaram a R$ 460 mil ao longo de todo o período, conforme cálculos próprios.

Segundo o dono da Serrana, a empresa atuava com serviços de coleta de lixo e concessão de distribuição de água em Itapoá desde 2000. O primeiro contato com Marlon teria ocorrido em 2016, antes de ele se eleger prefeito. Naquele ano, teria ocorrido um pagamento de R$ 150 mil — que, segundo o prefeito, o valor teria ocorrido como doação para campanha eleitoral.

A partir de 2017, quando assumiu o cargo, o prefeito teria solicitado R$ 120 mil por ano para manter os contratos, valor que equivale a R$ 10 mil por mês. Os pagamentos teriam sido mantidos até 2021. Conforme o depoimento, os pagamentos eram feitos para um homem chamado Amilton — segundo a investigação, ele seria cunhado do prefeito de Itapoá.

— Ele esteve junto com o prefeito na empresa se apresentando, que receberia o valor. E a partir dali passamos este valor e entregava para essa pessoa em Brusque — afirmou o empresário.

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A Operação Mensageiro apura supostos pagamentos de propina em contratos de coleta de lixo e já resultou na prisão de 16 prefeitos de municípios de SC. Marlon Neuber, que está licenciado do cargo de chefe do Executivo, foi preso em dezembro do ano passado, é réu no processo e foi denunciado 20 vezes por corrupção passiva.

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